O avô Cláudio busca a neta
Gabriella na escola em Santos (litoral de SP)
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A garota, que costuma ter bons argumentos para
conseguir o que quer, insistiu bastante com os pais, em vão. Como ela também
aceita a decisão deles, mesmo passando um período emburrada, decidiu recorrer à
avó, com quem tem, regularmente, bons diálogos e relacionamento estreito.
Para a avó, ela disse que o principal motivo que
tinha para insistir na ida à festa era proteger uma amiga, que já vinha tomando
bebida alcoólica sempre que conseguia, e que dissera a ela que não via a hora
de chegar a festa para que bebesse até dar "PT" (perda total, gíria
que os jovens usam para nomear o estado extremamente alcoolizado). E pediu à
avó que conversasse com seus pais, mas que não contasse o motivo de ela querer
tanto ir à festa, porque não queria que eles soubessem que sua amiga bebia.
Depois de hesitar e pensar bastante, a avó
considerou louvável a intenção da garota e foi conversar com os pais dela.
Cumpriu o que prometera à neta e não contou o real motivo da insistência, mas
conseguiu convencê-los a darem sua permissão.
Minha conhecida disse que não conseguiu dormir até
o dia seguinte à festa, porque pensou que talvez a neta a tivesse enganado.
Mesmo conhecendo-a de perto, sabe muito bem o que é ser adolescente, pois é
professora de ensino médio e relaciona-se regularmente com eles.
A história terminou bem: a neta não bebeu nada e
contou que fez de tudo para distrair a amiga, que, mesmo tendo bebido um pouco,
não ficou alterada.
Amizade é isso também: conhecer os amigos e saber
protegê-los dos riscos que eles correm sem avaliar suas consequências. Muitos
pais de adolescentes acreditam que há boas e más companhias para seus filhos e
fazem intervenções indevidas e –pior– ineficazes, quando proíbem os filhos de
algumas amizades. É melhor orientá-los, ouvi-los, dialogar com eles a respeito
dos motivos que têm para considerar essas companhias não muito boas.
Só ouvindo os filhos é que os pais saberão mais a
respeito deles e das razões que os levaram a se aproximar dessas pessoas.
Afinal, alguma identificação, interesse, ligação, admiração, afeto etc. há, e é
preciso procurar saber quais são.
Os pais precisam saber que, nos tempos atuais, em
que é difícil saber o que é, verdadeiramente, a amizade, é preciso ensinar aos
filhos a importância desse tipo de relação amorosa em suas/nossas vidas e as
virtudes e atitudes necessárias para que esse vínculo seja mantido.
Ser amigo é cuidar do outro, querer o seu bem
–sentimento que em geral é recíproco– e que quase sempre resulta em ações e
reações, por mais alto que seja o custo pessoal delas.
Um dia, caro leitor, seu filho pode proteger e/ou
ser protegido por um amigo, como o foi a amiga da neta de minha conhecida
Rosely Sayão – psicóloga e consultora em educação
Fonte: caderno cotidiano / jornal FSP