Vamos
aos fatos: a farra do consumo desenfreado, que vimos nesses últimos anos,
acabou. E há motivos para acreditar que acabou por um bom tempo. As
perspectivas que temos pela frente não são das mais animadoras e apostar em uma
recessão de longo prazo não é algo tão disparatado.
Nesses últimos anos, o brasileiro “descobriu” o crédito, porém,
não descobriu ainda como usá-lo direito… Educação financeira é um tema que soa
como algo sobrenatural para a maioria das pessoas e o que pudemos observar,
nesses últimos anos, é que o brasileiro típico é um consumidor (ainda) imaturo,
deslumbrado e que compra qualquer porcaria sem sequer saber o preço. Tudo o que
interessa é se “a parcela cabe no orçamento”…
Hoje, o brasileiro está endividado (as pesquisas da Confederação
Nacional do Comércio mostram, consistentemente ao longo dos últimos anos, que
entre 60 e 65% das famílias brasileiras têm dívidas) e, para piorar a situação,
o desemprego volta para assombrar as pessoas. O tal “pleno emprego” gerou uma
falsa sensação de segurança e foi um fator que encorajou o aumento do
endividamento nesses últimos anos, mas parece que o gás acabou.
O que vemos agora são pessoas que se tornaram escravas do
crédito e das tranqueiras que adquiriram a prazo. O endividamento deixou de ser
uma ferramenta para virar um estilo de vida. Me lembra muito aquela frase do
personagem Tyler Durden (do “Clube da Luta”), que diz que “as coisas que você
possui acabam te possuindo”.
A única forma de se libertar dessa escravidão é reaprendendo a
consumir e a usar o dinheiro. Precisamos evoluir da “era do consumo” para a
“era da frugalidade”, para o nosso próprio bem, de nossos bolsos e de nosso
planeta.
Para isso, é preciso entender que “vida frugal” não é sinônimo
de vida de privações. É perfeitamente possível manter uma alta qualidade de
vida sendo frugal – basta sabermos o que é realmente importante para nós e
priorizar corretamente.
Grande parte daquilo que as pessoas consomem não são, na
verdade, desejos ou necessidades delas. São desejos e necessidades criados
externamente e “enfiados” nas cabeças das pessoas (seja através de publicidade,
pressão social ou ambas as coisas), que acabam acreditando que precisam dirigir
o carro “X” ou viajar para o lugar “Y” para serem socialmente aceitas. Ou então
acreditam que marcas e “griffes” fazem parte de suas identidades pessoais.
Meu entendimento de “frugalidade” é um estilo de vida em que se
abre mão de tudo aquilo que não é importante para nós, mas investe-se
pesadamente naquilo que é importante e traz qualidade de vida. Por exemplo:
comer fora toda semana é realmente importante para você? Se for algo que te
traga prazer real, vá em frente! Gaste dinheiro naquilo que é importante para
você.
Mas se você identificar que isso não é uma coisa sua, e sim algo
que “enfiaram em sua cabeça” (uma crença do tipo “pessoas bem sucedidas
frequentam restaurantes da moda toda semana”), então livre-se imediatamente
disso, pois é algo estranho à sua natureza. Você está vivendo conforme regras e
conceitos de outras pessoas.
Nunca se esqueça de que o real objetivo da educação financeira
(e do conceito de “frugalidade” como um todo) não é criar pessoas mesquinhas,
que vivem mal e que lutam para ser as pessoas “mais ricas do cemitério”. O
objetivo é trazer prazer, felicidade e tranquilidade no momento presente, no
“aqui e agora” (e sem descuidar do futuro). Mas, para isso, é preciso saber o
que é realmente importante e do que se deve abrir mão.
Seja frugal e liberte-se.
André Massaro -
escritor, palestrante, consultor financeiro.