Economia
manda bons sinais para 2023, ainda que um pouco abalada pelas mudanças
políticas.
Acabou a Copa do Mundo. Pelo menos para nós.
É bom darmos uma
espiadela na economia real, para ajustar nossas expectativas e
"apostas".
Já falamos aqui sobre como investimentos em títulos
privados em economias emergentes são a bola da vez para grandes bancos e
gestoras internacionais.
E como a economia brasileira tem espaço para surfar
nessa onda, atraindo dinheiro estrangeiro de quem topa correr um pouco mais de
risco em busca de ganhos.
O prêmio pelo risco tem aumentado (mais risco, mais
retorno, desde que se acerte o alvo, como escrevemos aqui). Como a nomeação oficial de Haddad, mexeu
pouco com o Ibovespa, podemos imaginar que a relação "risco x
retorno" da Bolsa já estava mais ou menos calibrada em relação às mudanças
no Planalto.
Falta saber o risco em relação à realidade econômica.
A Bolsa, convenhamos, saiu de moda neste ano,
quando consultamos a economia real. O número de empresas que foi buscar
dinheiro no mercado de ações despencou.
Até a contagem de novembro, só tivemos
17 IPOs (ofertas iniciais de ações) e follow-ons (ofertas de ações de empresas que
já têm papéis circulando). Ano passado, foram 72. Em 2020, 53. E no ano
anterior, 42.
Isso só mostra como a conexão entre Bolsa e
empresas fraquejou neste ano. Enquanto tivermos juros nas alturas, deve
continuar difícil ter novidades por lá.
Como ouvi de um executivo que fez um
IPO de centenas de milhões em 2021: "A janela de oportunidade para captar
estava lá em 2021.
Sabíamos que era cedo demais para nossa empresa entrar no
mercado, mas quando chegasse a próxima oportunidade, já seria tarde demais".
Então em vez de buscar grandes novidades, é hora
para traçarmos possíveis cenários para antever como reagirão as empresas que já
estão na Bolsa hoje, bem como as que provavelmente vão emitir títulos de renda
fixa nos próximos meses, para captar dinheiro para seus projetos.
É preciso lembrar que as maiores empresas na Bolsa,
tirando os bancos, são companhias como Vale (VALE3), Petrobras (PETR4 e PETR3), Ambev (ABEV3),
JBS (JBSS3) e Klabin (KLBN3).
Uma boa lente para tentar olhar o futuro de
empresas desse porte vem da CNI (Confederação Nacional da Indústria). A CNI divulgou seu último boletim de indicadores industriais, relativos
a outubro.
O que aparece por lá é um Brasil cuja indústria de transformação se
mantém no patamar mais alto da história em seu faturamento real.
O emprego industrial também está perto dos
recordes, voltando a subir em outubro após quedas em agosto e setembro. Em
comparação com outubro de 2021, a alta é de 1%.
Enquanto o rendimento médio dos
trabalhadores do setor teve a quinta alta mensal consecutiva, subindo 7,6% em
relação ao ano passado.
Ao mesmo tempo, a utilização da capacidade
instalada (o quanto as máquinas e esteiras estão ocupadas) sustenta-se em
patamar superior ao praticado antes da pandemia, com valores acima dos 80%
desde março de 2021.
Em resumo: a economia real manda bons sinais para o
novo ano que aí vem, possivelmente ainda pouco abalada pelas anunciadas
mudanças políticas, que vêm brincando com nosso Ibovespa como um gato com seu
novelo de lã.
MARCOS
DE VASCONCELLOS - jornalista,
assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado