O
cidadão tem o direito de não participar de listas desse tipo
Feirão para limpeza de nome do cadastro de devedores do
Serasa em São Paulo - Rivaldo Gomes-19.mar.2018 / Folhapress
·
A defesa veemente do cadastropositivo obrigatório como providência vital para reduzir os juros
bancários só não me comove porque já vi muitas lágrimas de crocodilo e
promessas de benefícios para o consumidor que não aconteceram de fato. Mas,
assim como a mala cobrada não reduz o preço do bilhete aéreo e a Selic de umdígito não influencia positivamente os juros bancários, o tal
cadastro virtuoso não vai nem moderar o apetite rentista dos bancos.
Acho interessante que, no Brasil, um carimbo de bom
pagador seja tão valorizado, pois as instituições financeiras sabem claramente
quem está ou não com suas contas em dia. Se você tem alguma dúvida sobre isso,
lembre-se dos avisos quando uma aplicação está para vencer. Os bancos sabem
tudo sobre suas movimentações financeiras.
Além disso, há uma maneira simples de separar o joio do
trigo, digamos, em termos de virtudes nas finanças domésticas. Parodiando
Sherlock Holmes, quem não estiver negativado será bom pagador. Ou não?
O interesse em agrupar os adimplentes é facilitar a
venda deste registro mais facilmente do que já ocorre. Quais as vantagens hoje
para quem paga as contas no prazo?
As veementes e emocionadas defesas do cadastro positivo
argumentam que o consumidor poderá comunicar se não desejar participar deste
rol. Ora, isso equivalerá a abrir mão de qualquer financiamento ou empréstimo.
Por que somente cinco milhões de brasileiros optaram por
integrar o tal registro de bons pagadores?
Porque não acreditaram nas benesses propagadas pelos bancos. Se as instituições
financeiras efetivamente reduzissem as taxas de juros destes pioneiros do
cadastro positivo, os demais fariam questão de se somar a eles.
Os bancos enviam, com alguma frequência,
correspondências aos correntistas. Seria viável acrescentar um convite para
fazer parte das listas de bons pagadores. Mas as instituições financeiras
teriam que mostrar os benefícios de fazer parte deste rol. Para isso, bastaria
dizer que as taxas, para eles, cairiam de ‘x’ para ‘y’.
O cidadão tem o direito, sim, de não participar de
listas deste tipo. Os bancos têm dinheiro, capilaridade nacional, equipes e
instrumentos de comunicação para atrair os bons clientes. Não entendo por que
fazer isso na marra.
Maria Inês Dolci - advogada, é especialista em direitos do consumidor.
Fonte: jornal FSP