Algumas pessoas vão trabalhar em setores que pagam bem, como o
financeiro, para terem um estilo de vida que inclui mansões e carros velozes.
Hoje em dia, porém, há quem o faça na esperança de ajudar a sociedade, não só a
si mesmo.
O movimento é chamado de "altruísmo eficaz", e um de
seus membros é Matt Wage, sobre quem o colunista do "NYT" Nicholas
Kristof escreveu.
Na Universidade Princeton, em Nova Jersey, Wage se destacava em
filosofia e era conhecido por pensar que tinha o dever de fazer algo para
tornar o mundo um lugar melhor. Mas, depois de se formar, em 2012, foi
trabalhar para uma firma de corretagem de arbitragem financeira.
Seu raciocínio: por ganhar mais dinheiro, ele teria mais chances
de mudar a vida de outras pessoas para melhor. Em 2013 Wage doou US$ 100 mil
(R$ 300 mil) para fins beneficentes -mais ou menos a metade de sua renda bruta,
revelou ao "NYT". Ele disse que pretendia continuar a trabalhar para
o setor financeiro e doar metade do que recebia.
Uma das entidades que se beneficia de suas doações é a Against
Malaria Foundation, que, ao que consta, consegue salvar a vida de uma criança
com cada US$ 3.340 (R$ 10.020) doados.
Kristof escreveu: "Tudo isso sugere que Wage talvez salve
mais vidas com suas doações do que salvaria se tivesse se tornado funcionário
de uma ONG".
Kristof observou que a abordagem de Wage pode ser questionada.
Será que doar uma parte do salário é o bastante?
Existem causas mais merecedoras de ajuda que outras? E será que
é realmente correto aceitar um emprego só pelo dinheiro? "Não sei se isso
funcionaria para todos", ele escreveu, mas aplaudiu a prática de maneira
geral.
Existem outras maneiras de alcançar metas semelhantes; uma delas
é o chamado "investimento de impacto", a prática de usar o capital
"para produzir um bem ou fornecer um serviço que cause impacto social
positivo, ao mesmo tempo em que gera algum nível de retorno financeiro".
Essa definição saiu do livro "Impact Investment", de
Keith A. Allman, do Deutsche Bank, e Ximea Escobar de Nogales, diretora de
gestão de impacto numa firma de private equity.
O livro explica como envolver-se no setor de investimento de
impacto, desde analisar a missão de uma empresa até determinar até que ponto
ela tem êxito em alcançar essa meta e também manter-se rentável.
O professor de economia de Harvard Sendhil Mullainathan espera
que seus estudantes se sintam atraídos por esse altruísmo e não se tornem
simples "pessoas que buscam receita".
Escrevendo no "NYT", ele notou que quase 20% dos
alunos que foram trabalhar depois de se formar em Harvard em 2014 foram para o
setor financeiro.
Ele não vê com maus olhos o desejo deles por bons empregos, mas
questiona: "Será que é uma decisão boa para a sociedade?"
Mullanaithan escreveu que todo trabalho possui o potencial de
beneficiar a sociedade. "Um advogado que ajuda a redigir contratos
precisos pode beneficiar o bom funcionamento do comércio; desse modo, gera
riqueza."
O setor financeiro também pode melhorar a vida das pessoas
comuns, ajudando-as a poupar dinheiro para a faculdade de seus filhos,
oferecendo seguros para pequenos produtores agrícolas ou possibilitando às
pessoas conseguir financiamentos imobiliários com prestações viáveis.
Para seus alunos que optam por trabalhar no setor financeiro,
Mullanaithan disse: "Espero que eles percebam que têm o potencial de fazer
o bem, e não apenas de ganhar dinheiro".
Tess Felder – jornalista do New York Times
Fonte: suplemento NYT do jornal FSP