Que perguntas difíceis para responder… Mas, de fato, hoje
podemos pensar no homem como o consumidor movido não apenas por suas
necessidades básicas, mas também por suas emoções.
A influência das emoções vem sendo estudada já há algum tempo
pelos economistas. Assim, surgiu um novo campo de estudos na Economia que é o
da Economia Comportamental.
No princípio das teorias econômicas, o homem era visto apenas
como um agente racional na hora de determinar seu padrão de consumo, pois era
movido apenas pela relação entre o benefício (utilidade) que o bem ou o serviço
traria e que por isso, poderia se justificar seu consumo.
Na medida em que os modelos econômicos e psicológicos foram
sendo cada vez mais profundamente analisados, e somando-se a isso, em que a
economia foi se sofisticando, pôde-se perceber que o homem é um consumidor que
busca mais que a simples utilidade de uso do produto.
Na verdade, o conceito da utilidade é mais extenso em seu conceito,
do que apenas o retorno pelo consumo, pois ele guarda em si, também o status
atribuído ao consumo de determinados bens e serviços, inclui esse indivíduo em
seu meio social e econômico, podendo permitir que os pares se reconheçam. E
esse reconhecimento é importante para o indivíduo.
Então, por exemplo, se o objetivo de um indivíduo for o de se
locomover num carro próprio, ele pode optar por comprar desde um carro popular
até um carro de luxo. O objetivo de locomoção será cumprido pelos dois caminhos
adotados, mas a forma como a tomada de decisão de compra do carro será
estabelecida, deverá levar em conta um conjunto de fatores adicionais aos do
objetivo principal que é o da locomoção.
Neste aspecto, quero deixar claro, que não há nenhum tipo de
julgamento. As duas opções estão igualmente corretas. Apenas o que as motiva
tem raízes diferentes.
Um dos principais pensadores econômicos que levantou esse
raciocínio foi Thorstein Veblen, que gerou o conceito dos bens de Veblen.
Simplificando, esses bens têm um comportamento bem diferente em relação a sua
procura, do que os que seguem uma lógica econômica clássica. Para os bens de
Veblen, sua procura aumenta quando os preços aumentam, e isso não significa que
o preço aumentou porque necessariamente houve aumento na tecnologia, ou na
qualidade. De fato, não há exclusivamente o desejo de se consumir esses bens
pela qualidade adicional, e sim pelo status que eles agregam a seu consumidor.
O desejo do consumidor é satisfeito na medida em que ele pode
consumir cada vez mais esses bens e que em contrapartida, os demais membros da
sociedade têm mais dificuldade para consumi-los. Sendo assim, segundo Veblen,
esse indivíduo poderá ostentar sua riqueza, traduzindo em última instância, seu
sucesso, poder e destaque, diferenciando-se positivamente em seu meio social.
Então, por manter essa contradição na formação dos preços, caso
esses produtos sejam oferecidos a um preço mais baixo, terão sua procura
reduzida e, seu potencial de agregar status a seus consumidores será reduzido,
ou até trocado por um novo bem ou serviço, que possa assumir o lugar que este
anteriormente detinha como formador de status e símbolo de poder e aceitação.
E, a aceitação pelo grupo social é realmente levada a sério por
muitos indivíduos. Temos, pela ótica da Psicologia, essa necessidade de
inserção num grupo com o qual temos afinidades e pelo qual direcionamos nosso
desejo de participação, o que em parte justifica algumas das escolhas de
consumo de bens e serviços, a fim de atingir esse objetivo.
No universo da educação financeira, algumas pesquisas indicam
que é possível identificar uma tendência a um maior endividamento nas famílias
que têm adolescentes em sua formação, que, por lidarem com as pressões de
aceitação de seu grupo, sentem-se obrigados a consumir determinados produtos,
serviços ou marcas que são sinalizadas como “identificadores” de suas “tribos”.
Como os adolescentes normalmente representam um grupo que não pertence aos
formadores de renda, via de regra, exercem pressão de consumo por esses
bens/serviços ou marcas, sobre a família e seus formadores de renda.
Mas também pode-se observar que esse comportamento não se
restringe apenas aos adolescentes, mas às mais diversas faixas etárias e, para
ambos os sexos. Assunto este a ser abordado numa próxima ocasião.
Assim, é fundamental desde cedo na educação dos pequenos,
sinalizar a importância do consumo consciente e sustentável, pois estas são
duas chaves para um comportamento equilibrado em relação ao dinheiro, que
certamente proporcionará ao todo da família, o poder de independência e
igualdade em usufruir os benefícios gerados pela boa administração financeira
da casa e da família em todas as fases da vida.
Selma C.Vasquez – Economista
Fonte: site edufin.com.br.