Até
a medicina está perdendo atribuições para algoritmos inteligentes
A relação entre tecnologia e emprego sempre foi
conflituosa. Se, do ponto de vista do observador imparcial, a tecnologia
enriquece a sociedade e apenas transforma o emprego (quem deixou de ser
ascensorista foi fazer outra coisa), do ponto de vista do sujeito que recebia
todo mês um contracheque e foi demitido porque suas funções passaram a ser
executadas por um robô, ela mata mesmo.
Os primeiros prejudicados foram as bestas e os
trabalhadores menos qualificados, que desempenhavam tarefas pouco criativas,
pesadas e repetitivas. Entre as vítimas iniciais da máquina a vapor
transformada em locomotiva estão os cavalos das diligências, charreteiros e
cocheiros. Mas a coisa não parou por aí e máquinas, robôs e computadores
continuaram a transformar a produção, tirando o emprego de muita gente.
Do alto de sua soberba, trabalhadores do topo da
pirâmide social, que exerciam funções criativas e que exigiam o domínio de
grande volume de conhecimento específico, achavam que estavam protegidos.
“Minha profissão jamais poderá ser exercida por uma máquina que soma zeros e
uns”, pensavam. Mas aí vieram a inteligência artificial e o “big data”.
Hoje, até a medicina está perdendo atribuições para
algoritmos inteligentes. Computadores já diagnosticam cânceres melhor do que
médicos de carne e osso. Também podem superá-los na prescrição do tratamento,
como é o caso do braço oncológico do supercomputador Watson da IBM, que faz
análises genéticas comparativas dos tumores como nenhum humano é capaz de
fazer.
Algo parecido começa a ocorrer na cardiologia, na
oftalmologia e até na psiquiatria, com o desenvolvimento de algoritmos que
facilitam diagnósticos e dispositivos que alteram profundamente as práticas
correntes.
Parece
exagero afirmar que os médicos vão ficar sem emprego, mas eles decerto terão
cada vez mais de dividir tarefas com os computadores.
HélioSchwartsman – colunista
jornal FSP