Estudo mostra que, desde 2018, país
vive ônus demográfico e só alta na produtividade dará fôlego à economia.
Os
fatores que permitiram que a renda per capita do Brasil crescesse acima da produtividade por hora trabalhada
desde o início da década de 1980, entre eles o bônus demográfico que se esgotou a partir de
2018, deixarão de contribuir para a melhoria do padrão de vida do brasileiro
nas próximas décadas.
A
conclusão é parte de um estudo do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da
FGV, que traz um histórico de quase quatro décadas elaborado pelos
pesquisadores Fernando Veloso, Silvia Matos e Paulo Peruchetti.
De
1981 a 2018, a renda per capita —indicador usualmente utilizado como medida do
padrão de vida da população— cresceu 0,9% ao ano, enquanto a produtividade, medida pelo valor
gerado por hora trabalhada, avançou 0,4%.
O
que explica essa diferença é o bônus demográfico, de 0,5% ao ano no período.
Considera-se
como bônus o crescimento da população em idade ativa (de 15 a 64 anos) em
ritmo superior ao aumento da população total.
Desde
2018, no entanto, o Brasil passou a ter um ônus demográfico, que vai se
aprofundar nos próximos 30 anos, em razão de fatores como a queda na taxa de
natalidade.
Ou
seja, por razões puramente demográficas, haverá proporcionalmente uma
quantidade menor de pessoas com idade para trabalhar, o que deve afetar a
população economicamente ativa.
“A única forma de aumentar a renda
per capita e gerar crescimento sustentável no Brasil nas próximas décadas será
por meio da elevação da produtividade do trabalhador”, diz
o estudo “Produtividade do trabalho: o motor do crescimento econômico de longo
prazo”. “Isso só será possível caso o Brasil persista no avanço da agenda de
reformas
Fernando Veloso, pesquisador sênior da área de Economia
Aplicada do FGV Ibre, afirma que as reformas tributária e do mercado de
crédito, além da consolidação de mudanças na legislação trabalhista, devem ser
prioridade.
“O padrão de vida da população
brasileira conseguiu crescer acima da produtividade por causa de fatores que
agora se esgotarão. A produtividade agora vai ser decisiva”, afirma. “Não
existe uma reforma única que vá resolver.
A produtividade cresce pouco há décadas, inclusive em
períodos de reformas, que foram claramente insuficientes. A gente precisa de
uma agenda mais profunda e abrangente”, diz Veloso ao comentar o trabalho.
Ele defende ainda uma nova agenda para a educação, que
permita ao trabalhador se preparar para mudanças no mercado de trabalho e que
proporcione a redução da informalidade e a geração de empregos de melhor
qualidade.
A geração de empregos informais, segundo o pesquisador,
é um dos fatores que explicam a queda da produtividade no período mais recente.
“São pessoas que trabalham em
empresas com menos capital, menos acesso a crédito. Há também a questão dos
aplicativos de transporte. A pessoa está em uma ocupação muitas vezes
incompatível com a habilidade dela”, diz o pesquisador.
O
trabalho mostra também que a queda na produtividade é um dos fatores que
explicam a lenta recuperação da economia desde o fim da recessão de 2014/2016.
O valor da produção por hora trabalhada recuou de 2014 a 2018, ficou estagnado
naquele ano e caiu nos três primeiros trimestres de 2019.
Segundo
Veloso, a piora na produtividade durante a recessão não foi uma surpresa. A
estagnação em 2018 e a piora em 2019, no entanto, não eram esperadas. Nesses
anos, houve aumento das horas trabalhadas, mas o valor adicionado caiu, por
causa da mudança na composição do mercado de trabalho, com participação maior
da informalidade.
Veloso
cita o mais recente relatório do Ibre sobre produtividade do trabalho, que
mostra aumento do indicador na agricultura, ligeira queda no setor industrial e
reduções fortes e ininterruptas desde 2014 nos serviços, setor que concentra
71% das horas trabalhadas no país.
O
trabalho cita ainda outros fatores que não devem contribuir para o aumento da
renda per capita no futuro. As horas trabalhadas recuaram no período analisado,
seguindo uma tendência mundial.
A
taxa de ocupação oscila de acordo com o ciclo econômico e também não deve dar
contribuição positiva. A participação da população economicamente ativa em
relação às pessoas em idade ativa segue estagnada desde 2010.
Fonte: Eduardo Cucolo, jornal
FSP