Lá estava, ouro virtual: um vídeo de um bombeiro ressuscitando
um gatinho que tinha ficado preso numa casa cheia de fumaça.
Na época, Neetzan Zimmerman era editor do site de notícias e
fofocas Gawker. Ele percebeu que o vídeo tinha tudo para fazer sucesso viral.
Mas seu chefe lhe pediu para incluir em seu post o epílogo omitido por
praticamente todos os outros veículos de notícias: que, pouco depois de ter
sido salvo, o gatinho morreu devido à fumaça inalada. Zimmerman pagou um preço
por ter contado a história na íntegra. "O vídeo teve ótimos retornos para
praticamente todos que o postaram, menos para o Gawker", recordou.
Por que um detalhe triste fez a diferença entre um megassucesso
on-line e um fracasso? O que é que leva um conteúdo a se tornar viral? As
pesquisas sobre as motivações psicológicas que convertem algo em um fenômeno
viral podem ter implicações importantes para a mídia e a publicidade, setores
cujos lucros dependem de vencer a disputa pela atenção de internautas em todo o
mundo.
Até agora, o que funciona melhor é apelar para a emoção. Seja
triste ou feliz, quanto mais intensa a emoção suscitada, maiores as chances de
uma história ser retransmitida. Em estudo comandado por Rosanna Guadagno, da
Universidade do Texas em Dallas, 256 participantes preferiram passar adiante um
vídeo engraçado a um que mostrava um homem tratando uma picada de aranha. Mas
eles tendiam a compartilhar qualquer vídeo que lhes suscitassem uma reação
emocional intensa.
Do mesmo modo, Jonah Berger e Katherine Milkman, da Escola
Wharton da Universidade da Pensilvânia, constataram que artigos que elevam o
astral dos leitores têm mais chances que reportagens desanimadoras de constar
na lista dos textos do New York Times mais enviados a outras pessoas por e-mail.
Mas mesmo reportagens que evocam raiva ou outras emoções negativas fortes são
compartilhadas pelos leitores com mais frequência que reportagens apenas
deprimentes.
O ato de compartilhar também dissemina emoções. Analistas do
Facebook, da Universidade Yale em Connecticut e da Universidade da Califórnia
em San Diego reviram recentemente mais de 1 bilhão de posts no Facebook e
constataram que, quando os usuários desabafavam num dia chuvoso, seus amigos em
outras cidades postavam atualizações de status sombrias com frequência superior
ao normal. As atualizações positivas tinham efeito de contágio ainda maior.
O post mais compartilhado do Upworthy é um vídeo de um garoto
que morreu de câncer, mas não sem antes produzir uma canção de sucesso e fazer
apresentações com ingressos esgotados. O post já foi visto quase 20 milhões de
vezes. "Apesar de ser uma história triste, ela oferece alguma coisa a
fazer com essa tristeza", explicou Daniel Mintz, do Upworthy.
Pressionar o "compartilhar" também pode ser movido
pelo ego, conferindo status. Esse fato pode ajudar a explicar algo descoberto
pela Chartbeat, que mede o tráfego on-line: que as pessoas frequentemente
postam
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Natalie
Kitroeff - Assistente
Editorial no The New York Times
Fonte: suplemento NYT do jornal Folha de São Paulo