Joãozinho é um menino muito sabido, todos os
adultos elogiam suas “sacadas”, por sua desenvoltura intelectual e capacidade
de ser engraçado, mostra certa habilidade com as palavras, até um pouco precoce
para garotos de sua idade.
É que Joãozinho diz não gostar muito de videogame,
nem de skate, brinca com os outros garotos, mas só quando é voto vencido na
escolha da brincadeira da turma. Sendo ainda bastante tímido, ele prefere as
histórias que cria em sua cabeça ao ler os quadrinhos que o irmão mais velho
deixa jogado pela casa.
Joãozinho gosta de assistir desenhos e criar
grandes batalhas com suas massinhas coloridas que se transformam em soldados,
tanques de guerra e trincheiras que disparam raios laser e bolas de fogo nos
inimigos.
Mariana é uma garota muito extrovertida, mas adora
brincar sozinha com suas bonecas quando está em casa, inventa histórias de
príncipes e princesas em seu quarto, porém só quando está em casa.
O que ela gosta mesmo é de andar de skate pelos
corredores do condomínio onde mora, sabe de cor a quantidade de degraus em cada
andar, afinal vive tentando descê-los todos com sua turma, composta
majoritariamente de meninos.
Mesmo tímida, Mariana gosta de competir, organiza
os campeonatos de skate, tem recebido elogios dos adultos por sua desenvoltura
como líder, é boa com números, então além de organizadora é responsável pela
computação dos resultados.
Mariana faz prognósticos e acertou antecipadamente
quem seria o campeão de skate do condomínio nas duas últimas “temporadas”. Ela
reclama que Joãozinho não é como os outros meninos, pois ele nem liga se fica
em último lugar no campeonato de skate.
Os anos se passaram, a turma se mudou, todos
cresceram e tomaram destinos diferentes. Mariana estudou fora do país e ao
mesmo tempo conseguiu estágio num grande banco, que fez sua carreira alavancar,
e hoje, aos 35 anos, comanda a subsidiária mexicana de de uma instituição
financeira.
Diz-se no mercado que ninguém melhor que Mariana
para reestruturar empresas e fazer prognósticos sobre o desenvolvimento
econômico na América Latina, tendo se tornado inclusive a queridinha de um
ministro da Fazenda.
Ela recusou inúmeros convites para integrar a
equipe econômica no ultimo governo, sempre apressada e com agenda cheia e ainda
não pensa em ter um relacionamento fixo. Filhos passam longe de seus planos,
talvez depois que dominar o 5º idioma.
João é um vendedor de artesanatos e mantém um bazar
com a esposa. Ela toma conta das finanças enquanto ele produz arte, pintura,
esculturas e música. Joãozinho mudou-se para uma cidade próxima à grande
metrópole logo depois que o pai faleceu, pois acreditava que seria melhor sair
da cidade grande, mas não se afastar tanto.
Ele também pensou que assim seria mais fácil para
criar os gêmeos, afinal fora da cidade grande o custo de vida é menor, daria
para ter mais tempo para a família e dar atenção para a mãe, que depois da
viuvez parece ter perdido um pouco a vontade de viver.
Este ano, a turminha do condomínio que tem um grupo
na rede social combinou um encontro. Todos irão se reencontrar e como ainda
existem pais que moram no antigo condomínio, a bagunça será no salão de festas.
Todos estão curiosos para saber dos caminhos
escolhidos por cada um, já que a rede social mostra como estão todos hoje. O
grande barato será contar o caminho que cada um fez para estar onde está.
Histórias diferentes, com origens muito próximas,
todos praticamente nasceram no condomínio, mas que ao longo da vida foram se
moldando para diferentes rumos, e a pergunta que João talvez tenha na cabeça
para fazer a Mariana é: qual deles foi mais competente? Quem teria feito
escolhas mais inteligentes?
Para o grande Piaget, pai do construtivismo,
inteligência é desenvolvimento: quanto mais estímulo, mais se desenvolve e a
aprendizagem se dá pela interação e produz conhecimento.
Com meu parco conhecimento de pedagogia, entendo
que todos eles tiveram oportunidades muito próximas. Tanto Mariana quanto João
aprenderam línguas, desenvolveram a capacidade cognitiva e motora para isso,
tinham estímulos, mas por que se transformaram em adultos tão diferentes?
Se estivéssemos no início do século XX na França,
quando se iniciou o desenvolvimento dos testes de QI (Quociente de
Inteligência), ouso dizer que Mariana teria sido classificada num QI maior que
João, e isso explicaria porque Mariana foi tão longe na carreira.
Mas nós já sabemos que os testes de QI são meros
testes de lógica, e nem todos têm a mesma aptidão para lógica, razão pela qual
os testes são cada vez menos usados.
Talvez com a teoria de Gardner e suas múltiplas
inteligências, fique mais claro explicar João e Mariana. João teria
inteligência mais voltada para o lado literário, artístico; Mariana mais para
lógica, negócios e sua desenvoltura com os meninos mostrava uma inteligência
interpessoal também.
João, mais introvertido, prefere suas reflexões e
menos interações. O convívio com outras culturas deu a Mariana vivência prática
e benchmarking para solução de problemas, o que melhora a criatividade e
adaptabilidade. O cargo de liderança impõe aprender sobre negociação, trabalho
em equipe, motivação enfim competências que o mundo dos negócios valorizam.
Mariana deve ter lido Drucker, Porter, Kotler,
Falconi, Collins, Kaplan e tantos outros; João iria preferir Neruda, Garcia
Marques, Capote, Schopenhauer e Eco que as corporações e cursos de
administração talvez até desconheçam.
Mas o que chama atenção nesta história é que ambos
são inteligentes e tiveram a oportunidade de desenvolver suas próprias
inteligências para adquirir as competências para aquilo que planejaram ou não
na vida, não se pode medir inteligência, quem seria mais inteligente: Freud ou
Einstein?
São inteligências distintas incomparáveis, enquanto
um estuda o indivíduo e sua psique o outro estuda o universo e para isso, ambos
desenvolveram suas próprias competências para aquilo que precisaram, então a
competência pode ser medida e tanto pode ser desenvolvida por intermédio da
repetição, basta tempo e dedicação.
Já a inteligência está em nós, ela é usada para
falarmos, para nos movimentarmos, para dialogar e etc., e é só porque a temos
que podemos desenvolver competências, que nada mais é do que aplicação da
inteligência cognitiva/motora e emocional.
A competência para ser simples, é: Um
agrupamento de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes correlacionados, o bom
e velho conhecido saber + saber/fazer + fazer
Mas mesmo assim, ainda não conseguimos explicar os
fenômenos Joaozinho e Mariana, ainda precisaríamos avaliar suas inteligências
emocionais. Inteligência Emocional foi um termo cunhado por Peter Salovey e
John Mayer em 1990 que ganhou força com o best seller de Daniel Goleman de 1995
– Inteligência Emocional, que seria:
Um conjunto de competências emocionais e sociais
que se revelam com os desafios da vida diariamente, é a Inteligência que
faz Zinedine Zidane ser um dos maiores atletas do futebol de todos os tempos e
é a inteligência emocional, ou a falta dela, que fez ele ficar marcado por ter
dado uma cabeçada na barriga do zagueiro Italiano na final da copa do mundo de
2006 na Alemanha.
Não se pode afirmar com precisão cirúrgica o que é
inteligência, mas considerando nossa pequenez de raciocínio comparado a tudo
que ainda não sabemos sobre nós mesmos, vamos nos guiar pelas teorias até hoje
apresentadas.
João e Mariana são tudo isso e mais ainda fruto de
suas escolhas e acasos, sim, ele sempre está presente, mesmo os mais
competentes nem sempre se sobressaem porque o acaso pode aparecer, impossível
comparar competências entre os dois, cada um atua numa área, são competências
distintas, não se compara vendedor com comprador, pois são competências
diferentes, que dirá comparar um artista com uma executiva.
Como diria Arthur Schopenhauer: “O que
nos torna felizes ou infelizes não é o que as coisas realmente são no contexto
externo da experiência, mas o que representam para nós do nosso ponto de
vista”.
Se pudéssemos adentrar essa história fictícia,
talvez coubesse perguntar a ambos: independente de inteligência ou competência
você é feliz nas escolhas que fez e nos acasos que a vida lhe reservou?
Não se pode comparar inteligências: Freud ou
Einstein? Mas, você sabe que o Neymar é melhor que a maioria dos atacantes,
isso é competência.
Use sua inteligência e desenvolva as competências
necessárias para viabilizar os seus inéditos!
Emerson
Weslei Dias - Coach, consultor de carreira e negócios, educador financeiro,
ex-executivo de grandes multinacionais, dedica-se exclusivamente à consultoria
e defesa de seu método "O inédito Viável", que resultou em três
livros lançados: "O inédito Viável", "Gestão de Pessoas;
reflexões e filosofia prática sobre liderança" e “Finanças Pessoais;
Dinheiro Caro, Filosofia barata". Visite o site do autor: www.oineditoviavel.com.br