Em frente ao computador, garoto acessa à internet
O
uso exagerado dos aparelhos tecnológicos e o tempo que crianças e jovens gastam
na internet são questões que preocupam os pais. Eles querem saber se devem
bisbilhotar os aparelhos para saber o que e com quem os filhos falam, se devem
colocar filtros que restringem determinados conteúdos etc.
É
pequeno o número de pais que reflete a respeito da quantidade de informações
incorretas e/ou falsas com as quais os filhos têm contato na rede, e que
dialoga com eles sobre esses assuntos. Precisamos pensar a esse respeito,
porque os mais novos ainda não têm formação crítica para diferenciar conteúdos que
têm relação com a realidade daqueles que são inventados, por exemplo.
Um
estudo da Universidade Stanford, com quase 8.000 estudantes que frequentam do
ensino fundamental 2 à faculdade, apontou que cerca de 82% deles não
conseguiram distinguir uma notícia real de conteúdos patrocinados em um site.
Não
é surpreendente? Surpreendente e perigoso, porque os mais novos consomem esses
conteúdos e os incorporam como se fossem saberes! Por isso, é preciso dialogar
com os filhos sobre o que eles leem e veem nas redes que frequentam, além de
tutelar o seu uso.
Aliás,
inúmeros adultos também caem nessas armadilhas nas redes. Não é à toa que pelo
menos dois sites bem conhecidos -o boatos.org e o e-farsas.com-, dedicam-se
exclusivamente a desmentir notícias compartilhadas milhares de vezes e que não
têm relação com a realidade.
Muitos
trabalhos escolares que os alunos fazem consultando a internet apresentam
incorreções históricas gritantes que eles não identificam. Por isso, a escola
também tem grande responsabilidade nessa história. Em vez de apenas pedir aos
alunos trabalhos de busca na internet, precisam avaliar com eles o que e onde
eles encontraram tal conteúdo e analisar o que trouxeram, para que aprendam
conteúdos corretos e o bom uso que é possível fazer da rede nas questões
escolares.
Muitas
crianças e adolescentes idolatram alguns de seus pares que têm canais no
YouTube com milhares de seguidores. Muitos desses canais apresentam, porém,
discursos vazios e que exaltam as qualidades disto ou daquilo, o que é patrocinado,
mas não esclarecem isso aos seus ingênuos espectadores.
Sobre
isso, conversei recentemente com a mãe de duas meninas que estão prestes a
entrar na adolescência. Elas queriam ir a um lugar para ver -apenas ver- uma
jovem youtuber que elas veneram e a mãe nem sabia. Precavida, ela pediu para
assistir com as filhas a alguns vídeos dos quais elas gostavam e logo percebeu
que a youtuber não falava nada, mas usava muitas palavras. Você sabia que
alguns desses youtubers e blogueiros têm livros publicados que são sucessos
editoriais entre adolescentes e crianças?
Essa
mãe explicou às filhas a inutilidade do que elas viam e ouviam e trocou o
passeio por um espetáculo teatral, que as filhas curtiram muito, por sinal, e
vai dedicar-se a procurar na internet canais que acrescentem algo na formação
das filhas.
Oferecer
o uso da internet a crianças pequenas é bobagem: elas têm muito o que aprender
no mundo real, na natureza, no contexto em que vivem. Os maiores podem, além do
entretenimento, usar muito bem a rede, desde que tenham boa companhia para
comentar o que absorvem dela. Pais e escola devem ser essas boas companhias.
Rosely Sayão - psicóloga e consultora em educação, fala
sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de
educar
Fonte: coluna jornal FSP