Acabar com dinheiro pode reduzir ataques
Ataques
só continuam porque o país está longe de promover uma digitalização dos meios
de pagamento.
Nos últimos dias os habitantes das capitais do país
acompanharam estarrecidos ao ataque à cidade de Criciúma em Santa
Catarina, que gerou uma madrugada inteira de violência na cidade e mostrou a
capacidade de planejamento, coordenação e força do crime organizado.
Para quem vive no interior do Brasil, esse tipo de
ataque não é novidade nenhuma.
Há mais de 6 anos há registro de ações similares
que ganharam até apelidos regionalizados.
Na região centro-oeste, por exemplo,
os ataques coordenados a cidades do interior ficaram conhecidos como “novo cangaço” e
vitimaram muitas cidades pequenas e médias da região, com violência similar à
de Criciúma.
Várias sugestões surgiram sobre a forma de combater
e prevenir esse tipo de crime. Dentre elas a ideia de que o caminho seria armar
a população para responder.
É difícil imaginar um exército de "gente de
bem" armada fazendo frente a bandidos equipados com fuzis táticos,
explosivos e estratégia de guerra.
Como muito bem disse Silvio Meira, professor emérito de ciência
da computação da Universidade Federal de Pernambuco, todas essas ações têm um
elemento em comum: elas são articuladas para roubar papel.
Em outras palavras,
esse tipo de ação só continua a existir porque o país ainda está longe de
promover uma digitalização dos meios de pagamento e a redução de papel moeda
como outros países vêm fazendo.
Em resumo, para acabar de vez com ações violentas como essa que
se tornaram epidêmicas no Brasil é preciso reduzir a dependência de dinheiro
físico. Para isso não é preciso acabar totalmente com o dinheiro em papel.
Bastaria fazer com que os custos de uma ação como essa se tornassem
proibitivos. Por exemplo, eliminando as cédulas de valor mais elevado, como as
de R$ 100 e R$ 200.
Cédulas de alto valor são raríssimas nas mãos da maioria
absoluta da população do país. Ao contrário, são muito comuns e úteis nas mãos
de integrantes do crime organizado, sonegadores de impostos e políticos
corruptos.
Ou
seja, uma política pública eficiente seria planejar e implementar o ocaso do
papel como meio de pagamento no país e sua substituição crescente por meios de
pagamento digitais.
O
lançamento do Pix foi um passo importante para isso.
O lançamento do aplicativo
Caixa Tem também teve efeito muito positivo nesse sentido.
A questão é que
falta ainda uma decisão clara de política pública nesse sentido.
Faz muito mais
sentido que o dinheiro que circula no dia a dia seja composto por cédulas
menores usadas em transações pequenas e as transações de maior valor se
convertam todas em transações digitais.
Estão
caminhando nesse sentido países tão diversos como o bloco Suécia, Noruega,
Dinamarca, a Índia e e a China e também a Inglaterra.
Por exemplo, hoje na
Suécia apenas 15% dos pagamentos envolviam dinheiro em papel.
O plano é reduzir
continuar a reduzir esse percentual ano a ano. Em outras palavras, crimes
digitais existem e podem causar prejuízos financeiros enormes.
Mas uma coisa é
certa: ninguém investe em fuzis, explosivos e captura de cidades inteiras para
cometê-los.
Ronaldo Lemos - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e
Sociedade do Rio de Janeiro.
Fonte: coluna jornal FSP