Pagar com dinheiro vivo é doloroso — e isso é bom, de acordo com
uma pesquisa recente.
Para Avni M. Shah, professora de marketing na Universidade de
Toronto Scarborough, quando as pessoas pagam suas compras usando dinheiro vivo,
ao invés de cartão ou compra eletrônica, elas sentem mais concretamente o que
gastaram e, com isso, atribuem mais valor ao que compraram. Suas conclusões
tiveram origem em sua experiência pessoal: um dia ela esqueceu o cartão de
débito em casa, então teve que pagar por um café com notas de dólares. Naquele
dia, seu café lhe pareceu mais saboroso.
Pode o método de pagamento ter sido a causa?
Shah testou sua teoria novamente dois anos atrás, quando era
doutoranda na Universidade Duke, na Carolina do Norte. Ela decidiu vender
canecas com o logotipo da Duke, com desconto, a funcionários e professores da
universidade em suas salas de trabalho. Ela pediu a um grupo que pagasse US$ 2
(R$ 6,50) em dinheiro vivo por cada caneca. O outro grupo teve que pagar com
cartão. Duas horas mais tarde, Shah voltou a falar com cada comprador e disse
que precisava comprar a caneca de volta. Para facilitar as coisas, disse que os
compradores poderiam determinar o preço que quisessem. As pessoas que tinham
pago pela caneca com cartão pediram em média US$3,83 (R$ 12,54) para lhe
vendê-la de volta. As pessoas que tinham pago com dinheiro vivo pediram em
média US$6,71 (R$ 21,96).
“Algumas das pessoas que pagaram em dinheiro literalmente
cobriram a caneca com as mãos e falaram ‘você não vai pegá-la de volta’”,
contou Shah.
A professora, que também leciona na Escola Rotman de
Administração, da Universidade de Toronto, publicou seu estudo no “Journal of
Consumer Research”. Seus coautores são Noah Eisenkraft, James R. Bettman e
Tanya L. Chartrand. Em outro estudo, a professora Shah deu US$5 (R$ 16,40) aos
participantes de sua pesquisa para que doassem o dinheiro a uma entre três
causas. Um grupo recebeu dinheiro vivo, e o outro, um vale. Ela deu uma fita
aos participantes, a qual poderiam fixar na gola de sua roupa para mostrar que
tinham feito uma doação.
Mais tarde, metade das pessoas que haviam feito a doação em
dinheiro vivo relataram ter usado a fita, sendo que apenas 14% do grupo que
pagou com vale fez o mesmo. Esse fato sugere que as pessoas que pagaram em
dinheiro vivo sentiram uma conexão emocional maior com a causa - apesar de o
dinheiro vivo nem sequer ter sido delas. De todos os métodos de pagamento
possíveis, “pagar em dinheiro vivo é o que a pessoa sente mais”, disse Shah.
“Até um cheque dói um pouco.” Ou seja: a compra tem mais significado.
Em um estudo distinto envolvendo doações para entidades
beneficentes, Shah constatou que as pessoas que doaram por meio de cheque
tiveram probabilidade maior de repetir a doação no ano seguinte, comparadas às
pessoas que tinham doado por cartão. Pagamentos digitais e feitos por cartão
parecem menos reais que dinheiro vivo, Shah explicou. É verdade que o caráter
virtual desses métodos pode levar as pessoas a comprar mais (em detrimento de
suas finanças). Mas essas mesmas pessoas, segundo Shah, tendem a ser menos
fiéis a marcas específicas. “É uma mentalidade de ‘fora o que é velho, viva o
novo’”, ela disse.
“Não estou recomendando que voltemos a usar dinheiro vivo”, ela
ressalvou.
Mas existem maneiras de chamar a atenção das pessoas para o fato
de que estão se desfazendo de seu dinheiro — por exemplo a introdução de um som
de zunido no processo ou o envio de um e-mail para lembrar a pessoa da
transação realizada. Para Shah, se empresas e organizações quiserem encorajar
os consumidores a continuar comprando delas, seria aconselhável que voltassem a
injetar um pouco de dor no processo de pagamento.
Phyllis Korkki- editor de atribuição para a seção New York Times Sunday
Business.