Bancos brasileiros vão na contramão dos gigantes
globais (ainda bem!)
Quem
apostou nos bancões na hora em que os juros começaram a subir agora colhe os
louros.
A lógica do mercado é clara: quando se aumentam os
juros, os bancos saem ganhando.
Os donos do dinheiro vão cobrar mais pelos
empréstimos e lucrar mais no caminho.
Mas a realidade está aqui para desafiar o
raciocínio simples, derrubando papéis dos grandes bancos dos Estados Unidos
justamente quando o país subiu as taxas de juros pela
primeira vez desde 2018.
Para quem estiver voltando de uma temporada em
Júpiter, temos uma guerra na Ucrânia e uma pandemia de vírus
letal em curso, impactando, logicamente, a economia global em 2022, acelerando
a inflação e tumultuando seu controle.
O S&P 500, principal indicador do mercado de
ações do mundo, registra uma queda de cerca de 8% só neste ano. Já o índice Dow
Jones US Banks (que reúne 57 instituições financeiras dos EUA e do Canadá)
tomou um tombo de mais de 13% no período.
Grandes bancos de atuação global estremecem com sua exposição às
economias do Leste Europeu.
Desde o início da guerra, essas instituições
financeiras estão contabilizando perdas e tentando desmontar operações que
dependiam, por exemplo, de capital russo.
Em seus balanços divulgados na semana passada, Goldman Sachs e
Wells Fargo foram alguns dos que decepcionaram analistas, com resultados aquém
do esperado.
A desaceleração econômica prevista para os EUA traz consigo a
perspectiva de menos empréstimos e financiamentos, impactando os múltiplos do
setor, como lembra Leonardo Cardoso, estrategista da Brazen Capital, gestora de
investimentos internacionais.
Assim, ao mesmo tempo que o banco central dos EUA (Federal
Reserve, ou Fed) aumenta a taxa de juros na maior economia do planeta, seus
bancos sofrem.
Mas, aqui no Brasil, onde provavelmente você investe a maior parte,
se não a totalidade, dos seus recursos, a história é outra e vai na contramão
dos gigantes globais.
Isso também é um pouco de novidade. Apesar de nossas agigantadas
dimensões (territorial e econômica), o Brasil representa menos de 1% do mercado
de capitais mundial.
Com isso, nosso comportamento costuma ser como de uma
small cap (empresas com menor valor de mercado e liquidez, cujas ações sofrem
alta volatilidade).
Tradicionalmente, quando o mercado global cai, o nosso afunda.
Quando sobe, a gente voa. Mas não é isso que está acontecendo.
A busca por commodities (o nosso forte) e a demanda por mercados
emergentes por parte de quem quer correr um pouco de risco trouxe muito
dinheiro estrangeiro para nossa Bolsa neste ano.
Mais de R$ 64 bilhões nos três
primeiros meses, para ser mais preciso.
Foi desse jeito que nosso principal índice, o Ibovespa, subiu
11,7% em 2022.
E, como os grandes investidores não querem correr risco à toa,
seus investimentos no Brasil estão indo justamente para…. os bancos.
O IFNC, índice que reúne as principais empresas do setor
financeiro do Brasil (como Itaú, B3, Bradesco e Banco do Brasil), decolou,
subindo 18,5% desde o início de janeiro.
Outros índices setoriais, como da
indústria, do setor imobiliário e de energia elétrica, tiveram desempenhos bem
piores, com variações de - 5,5%, 6,7% e 14,8%, respectivamente.
Assim, ainda que o mercado global não tenha seguido a lógica
tradicional, o brasileiro que fez o "arroz com feijão" e apostou nos
bancões na hora em que os juros começaram a subir agora colhe os louros.
E há
analistas apontando que essas ações ainda têm espaço para subir até o fim do
ano, com mais aumento de juros no radar.
Ter diversificação, inclusive geográfica, dos seus investimentos
é sempre uma boa pedida.
Mas é importante notar como as mesmas variáveis vão
impactar cada mercado de forma diferente, para calibrar corretamente sua
carteira e sua exposição aos diferentes riscos.
MARCOS
DE VASCONCELLOS - Jornalista,
assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado.