Uma coisa é aspirar a esse tipo de coaching, outra é
praticá-lo diariamente em todos os níveis da organização. Na maioria das
empresas, ainda existe um grande gap entre aspiração e prática — e nós
escrevemos este artigo para ajudar os leitores a superá-lo. Focamos
inicialmente em como desenvolver coaching como uma capacidade de gestão
individual, e depois em como torná-lo uma competência organizacional.
Você não é tão bom quanto pensa
Para os líderes acostumados a enfrentar problemas de
desempenho dizendo às pessoas o que fazer, uma abordagem como coaching muitas
vezes pode parecer muito “branda”. Além disso, pode torná-los psicologicamente
desconfortáveis, porque os priva de sua ferramenta de gestão mais familiar:
afirmação de sua autoridade. Por isso eles resistem ao coaching — e, se
depender deles, provavelmente nunca tentarão. Eles dirão “estou muito ocupado”,
ou “essa não é a melhor forma de gastar meu tempo”, ou “as pessoas sob minha
supervisão não estão receptivas ao coaching”. No estudo clássico de Daniel
Goleman sobre estilos de liderança, publicado na Harvard Business Review em
2000, os líderes classificaram o coaching como seu estilo menos favorito:
disseram que simplesmente não tinham tempo para o trabalho lento e tedioso de
ensinar as pessoas e ajudá-las a crescer.
Mesmo que muitos gestores tenham perdido o entusiasmo
pelo coaching, a maioria acredita que eles são muito bons nisso. Mas muitos não
são. Num estudo, 3.761 executivos avaliaram suas próprias habilidades de
coaching e, em seguida, suas avaliações foram comparadas com as avaliações de
pessoas que trabalhavam com eles. Os resultados não se alinharam bem. Um quarto
dos executivos superestimou significativamente suas capacidades,
classificando-se acima da média, enquanto seus colegas os classificaram no
terço inferior do grupo. Isso mostra discrepância. “Se você acredita que é um
bom coach, mas na verdade não é”, escreveram os autores do estudo, “os
resultados indicam que você pode ser bem pior do que imaginava.”
Ser bom coach pode ser difícil até para os gestores mais
competentes e mais bem-intencionados. Uma de nós (Herminia) dá aulas para
executivos que deixam isso mais claro ano após ano. Eles recebem um estudo de
caso e são solicitados a desempenhar o papel do gestor que precisa decidir se
deve despedir ou oferecer coaching a um subordinado cujo desempenho deixa a
desejar. O funcionário cometeu erros claros de avaliação, mas o gestor
contribuiu significativamente para o problema por tê-lo tanto ignorado como
pressionado excessivamente.
Diante desse cenário, dentre dez executivos nove afirmam
que querem ajudar seu subordinado a melhorar. Mas, quando foram solicitados a
simular uma conversa de coaching com ele, descobriram que havia muito a ser
melhorado. Eles sabem o que se espera que façam: “pergunte e escute”, e não
“tell and sell” (em avaliações de desempenho, apontar erros e convencer a
pessoa a aceitar as críticas). Mas “perguntar e escutar” não surge
naturalmente, porque no fundo eles já decidiram qual o caminho certo a seguir,
geralmente antes mesmo de começarem a conversar com os funcionários. Assim,
seus esforços para atuar como coach normalmente consistem em simplesmente
tentar chegar a um acordo sobre o que eles já decidiram. Isso não é coaching —
e não é de surpreender que não acabe bem.
A seguir, apresentamos em linhas gerais como se
desenrolam essas conversas. Os executivos começam com uma pergunta genérica.
Por exemplo, “como você acha que as coisas estão indo?”. Isso invariavelmente
provoca uma resposta muito diferente do que eles esperavam. Então eles
reformulam a pergunta, mas isso tampouco suscita a resposta desejada. Com certa
frustração, eles começam a fazer perguntas mais diretas, como “você não acha
que seu estilo pessoal se ajustaria melhor numa função diferente?”. Isso coloca
o subordinado na defensiva, e ele se torna ainda menos propenso a dar a resposta
esperada. Por fim, sentindo que a conversa não está levando a nada, os
executivos mudam para o modo “tell” (apontar os erros) para tirar suas
conclusões. O exercício chega ao fim e ninguém aprendeu nada sobre a situação
ou sobre si mesmos.
Isso lhe parece familiar? Esse tipo de “coaching” é
muito comum, e retém as empresas em suas tentativas de se tornar organizações
que dão valor ao aprendizado. A boa notícia, porém, é que com as ferramentas e
apoio certos, um método consistente e muita prática e feedback praticamente
qualquer pessoa pode se tornar melhor coach.
Diferentes formas de ajudar
Para fazer os gestores pensar na natureza do coaching e,
especificamente, como ser melhor coach no contexto de uma organização em
constante aprendizado, nós preferimos apresentá-los como uma matriz 2×2. É uma
ferramenta simples, mas útil. Um eixo mostra a informação, conselhos ou
expertise que o coach introduz no relacionamento com a pessoa que está sendo
treinada. O outro mostra a energia motivacional que o coach extrai, liberando
os próprios insights e soluções.
No canto superior esquerdo, no quadrante 1, está o
coaching diretivo formado basicamente “por uma ordem”. A mentoria se enquadra
nesta categoria. Todos sabem o que esperar aqui: o gestor que acumula anos de
conhecimento o compartilha de bom grado com um membro júnior da equipe. Esta
pessoa ouve com atenção na expectativa de absorver o máximo de conhecimento
possível. A abordagem tem qualidades para ser recomendada, mas também algumas
desvantagens. Como consiste em definir o que e como fazer, exige pouca energia
da pessoa que está sendo treinada. Na verdade, pode até reduzir seu nível de
energia e motivação, pois presume que o chefe sabe coisas que quem recebe o
coaching não sabe — nem sempre uma suposição segura em ambientes de trabalho
complexos e em constante mudança. Além disso, como permite que os líderes
continuem fazendo o que sempre fizeram com excelência (resolver os problemas
dos outros), não cria boa capacidade organizacional.
Levando tudo isso em consideração, o coaching nem sempre é a solução. Pode
haver momentos em que todos os membros da equipe estão realizando seu trabalho
produtivamente, e a abordagem certa para geri-los é deixá-los à vontade. Essa
abordagem, que chamamos de laissez-faire, aparece no quadrante 2.
No canto inferior direito, no quadrante 3, está o coaching
não diretivo, construído com base em escuta, questionamento e omissão de
julgamentos. Os gestores trabalham para promover sabedoria, insight e
criatividade das pessoas que estão treinando, com o objetivo de ajudá-las a
aprender a resolver problemas, e lidar por conta própria com situações
desafiadoras. É uma abordagem que pode ser altamente energizante para os que
recebem coaching, mas não atinge naturamente a maioria dos gestores, que
geralmente se sentem mais à vontade no modo “tell”.
No canto superior direito, no quadrante 4, está o
coaching situacional, que representa o ponto ideal de nossa estrutura. Todos os
gestores de organizações que dão valor ao aprendizado devem aspirar a tornar-se
experts em coaching situacional — que, como o nome indica, requer atingir o
delicado equilíbrio entre o estilo diretivo e o não diretivo, conforme as
necessidades específicas da situação. De nosso trabalho com executivos
experientes, concluímos que os gestores devem primeiro praticar sozinhos o
coaching não diretivo até que se torne praticamente uma segunda natureza, e só
então começar a equilibrar esta capacidade recentemente fortalecida com
períodos de coaching diretivo aproveitável.
O modelo GROW
Uma das melhores formas de melhorar o coaching não
diretivo é tentar conversar utilizando o modelo GROW, criado na década de 1980
por Sir John Whitmore e outros. O modelo GROW tem quatro passos, cujas iniciais
formam o acrônimo. É mais fácil entendê-lo conceitualmente do que colocá-lo em
prática porque ele exige que você se obrigue a repensar suas funções e valores
como líder. As quatro ações são as seguintes:
Objetivo (G, de goal). Ao começar a discutir um tópico
com alguém a quem você está oferecendo coaching, defina com clareza o que ele
quer realizar neste exato momento. E não qual é a função dessa pessoa na
organização ou seus objetivos para o projeto ou trabalho. Defina o que ela
espera extrair desta conversa específica. As pessoas não fazem isso
organicamente na maioria das interações e, muitas vezes, precisam de ajuda para
começar. Uma boa forma de começar é perguntar algo como “que você quer quando
sair por aquela porta que não tem agora?”.
Realidade (R). Uma vez estabelecido o objetivo da
conversa, faça perguntas baseadas em que, quando, onde e quem. Cada pergunta
obriga as pessoas a descer das nuvens e se concentrar em fatos específicos.
Isso torna a conversa verdadeira e construtiva. Você perceberá que não
incluímos a pergunta por quê?. Essa pergunta exige que a pessoa explore razões
e motivações, e não fatos, o que, por sua vez, leva a juízos de valor ou
desencadeia autojustificativas, e isso tudo é contraproducente.
Nesta fase, uma boa pergunta a fazer, focada na
realidade, é “quais são as principais coisas que precisamos saber?”. Observe
atentamente como as pessoas respondem. Elas estão perdendo alguma coisa
importante? Falando de problemas operacionais, mas esquecendo o lado humano da
equação? Ou vice-versa? Quando lhes pedimos que desacelerem e pensem desta
forma, não raro elas se perdem na contemplação — e, depois, surge uma luz e,
sozinhas, elas se envolvem no problema com energia e perspectiva renovadas.
Este passo é decisivo porque as impede de subestimar variáveis relevantes e
passar direto para as conclusões. Aqui a tarefa do coach é simplesmente fazer
as perguntas certas e deixar o caminho livre.
Opções (O). Quando as pessoas solicitam coaching, elas
geralmente estão paralisadas. Talvez elas lhe digam “não há nada que eu possa
fazer” ou “estou dividido entre A e B”.
Nesse ponto, sua tarefa é ajudá-las a pensar de forma
mais abrangente e profunda. Para ampliar a conversa às vezes é suficiente fazer
perguntas simples como “se tivesse uma varinha mágica, que faria?”. Você pode
se surpreender como as pessoas consideram essa pergunta libertadora — e com que
rapidez começam a pensar em formas novas e produtivas. Uma vez que tenham
ampliado suas perspectivas e descoberto novas opções, sua tarefa é induzi-las a
explorar os pontos positivos, os pontos negativos e os riscos de cada opção.
Vontade (W, de will). Este passo também não surge
organicamente na conversa, por isso, mais uma vez, a maioria das pessoas
precisa de ajuda. Na verdade, são dois passos, ou duas partes, e ambas têm a
ver com a palavra “vontade”.
Na primeira parte, o coach pergunta “que você vai
fazer?”. Isso encoraja a pessoa que está recebendo coaching a rever o plano de
ação específico que surgiu da conversa. Se transcorreu bem, haverá um sentido
claro de qual é o plano.
Se não houver clareza para ela, o coach terá de retornar
aos primeiros passos do processo GROW e ajudá-la a definir como atacará o
problema.
Na segunda parte o coach pergunta ao coachee se ele está
disposto a entrar em ação. Por exemplo: “Numa escala de 1 a 10, qual a
probabilidade de você fazer isso?”. Se a resposta for 8 ou mais, é provável que
ele esteja suficientemente motivado a seguir em frente. Se a resposta for 7 ou
menos, é provável que não. Neste caso, o coach terá novamente de retornar aos
primeiros passos do processo para chegar a uma solução em que o coachee esteja
mais propenso a agir.
Obviamente, o coaching no local de trabalho consiste em
rápidas conversas, quando o gestor pode responder a um pedido de ajuda fazendo
uma única pergunta, como “o que você já pensou?” ou “o que é realmente
importante aqui?”. Quanto mais dessas interações houver — quando você percebe
que seus gestores se tornam cada vez mais inquisidores, fazendo boas perguntas,
e partindo da premissa que eles não têm todas as respostas — você saberá que
está no caminho certo.
Coaching como uma competência organizacional
Até agora, abordamos o coaching como habilidade
gerencial. É o primeiro passo, mas para que sua empresa seja um organismo que
notoriamente dá valor ao aprendizado, não basta ensinar líderes e gestores a
oferecer bom coaching. Você precisa tornar o coaching uma competência
organizacional que se ajuste perfeitamente à cultura de sua empresa. E para ter
sucesso na empreitada, é necessário promover uma transformação cultural com os
seguintes passos:
Articule o “por quê?”. Gestores são pessoas ocupadas. Se
para eles coaching é simplesmente a novidade imposta pelo RH, eles vão revirar
os olhos e cumprir somente as exigências mínimas necessárias. Se a empresa
quiser que eles adotem o coaching não apenas como uma habilidade pessoal, mas
também como uma fonte de fortalecimento cultural, é preciso explicitar
claramente o valor dessa para que ela tenha sucesso.
Um bom “por quê?” inevitavelmente conecta o coaching às
tarefas críticas da missão da organização. Considere o exemplo do escritório de
advocacia internacional Allen & Overy. Quando David Morley, sócio sênior na
época, decidiu fazer do coaching uma parte importante da cultura de liderança
da empresa, ele começou a falar com os colegas da importância dessas conversas.
Morley é aluno de uma de nossas treinadoras de coaching de liderança (Anne).
Como ele nos revelou, “minha proposta era: como líder sênior, você tem
aproximadamente cem conversas particularmente relevantes por ano, pois elas
mudam sua vida ou a vida da pessoa com quem você conversa. Queremos ajudá-los a
adquirir as habilidades para maximizar valor nessas cem conversas, e assim
desbloquear problemas anteriormente guardados e descobrir novas opções e
revelar novos insights. Isso ressoou. Quase todos em posição de liderança na
empresa reconheceram que tinham problemas para articular a maioria dessas
conversas, e perceberam imediatamente que lhes faltavam habilidades”.
Perguntar “por quê?” ajuda as pessoas a enxergar
benefícios colaterais do coaching. Isso deu certo na Berkeley Partnership,
empresa internacional de consultoria cujos sócios que receberam nosso
treinamento de coaching nos disseram que ele aumentou significativamente sua
capacidade de atender os clientes. De acordo com Mark Fearn, um dos fundadores
da empresa, os sócios da Berkeley agora estão mais bem preparados para
responder aos clientes que pedem ajuda para resolver problemas sérios,
complicados e, às vezes, mal definidos, que geralmente vão muito além do pedido
inicial que receberam. Depois de desenvolverem suas habilidades de coaching, os
sócios melhoraram suas habilidades de identificar situações nas quais eles não
têm de fornecer respostas. Eles entendem que, nestes casos, podem oferecer mais
valor ouvindo atentamente, fazendo as perguntas certas e apoiando os clientes
enquanto estes descobrem as melhores soluções. “Agora que adicionamos expertise
em coaching”, revelou-nos Fearn, “nossa tarefa às vezes pode ser simplesmente
extrair deles a resposta, criando uma oportunidade de refletir”.
Modele o comportamento. Se desejar que as pessoas que
trabalham com você abracem o coaching, primeiro é preciso que você mesmo o
abrace.
Ninguém fez isso melhor que Satya Nadella, CEO da
Microsoft. Como observado no estudo de caso da London Business School de que
Herminia é coautora, quando Nadella assumiu o comando, em 2014, ele foi apenas
o terceiro CEO em quatro décadas de história da empresa. Durante os 14 anos da
carreira de seu antecessor, Steve Ballmer, a receita triplicou e os lucros
dobraram, mas no fim desse período, a empresa perdeu seu momentum. Prevalecia
uma cultura de inspeção e avaliação, e a mentalidade dos gestores era predeterminada:
eles avaliavam seus subordinados de acordo com o nível com que dominavam
habilidades e geravam números que permitiam reproduzir o sucesso do passado.
Essa cultura havia contribuído significativamente para o
período notável em que a Microsoft dominou o mundo da computação pessoal. Mas à
medida que a energia do setor de tecnologia mudava para os smartphones e para a
nuvem, as antigas práticas de gestão começaram a bloquear o progresso. Na época
em que Nadella assumiu, a aversão ao risco e as políticas internas dificultavam
a colaboração entre as divisões, líderes seniores resistiam à inovação de fonte
aberta, e o valor das ações da empresa estava estagnado. Além disso, as
tecnologias mudavam tão rápido que, muitas vezes, os gestores utilizavam práticas
e conhecimento desatualizados, mas continuavam a transmiti-los porque era isso
que sabiam fazer.
Nadella logo percebeu que a Microsoft precisava de uma
transformação cultural. Para readquirir o dinamismo perdido e posicionar-se com
força no novo cenário, a empresa precisava abandonar seu estilo de gestão
arraigado e desenvolver o que a psicóloga Carol Dweck, de Stanford, chamou de
mentalidade de crescimento, isto é, nas empresas, todos têm de estar
constantemente abertos para aprender e para assumir riscos. Como Nadella
habilmente afirmou, os líderes da empresa precisavam deixar de ser os sabe-tudo
para ser os “aprende-tudo”.
Nadella entendeu que o processo precisava começar por
ele, então passou a moldar os gerentes da Microsoft para que adotassem determinadas
atitudes mais condizentes com o novo cenário corporativo segundo ele. Nadella
pedia ideias a todos com quem conversava e ouvia empaticamente o que tinham a
dizer. Suas perguntas não tinham caráter diretivo, o que comprovava seu papel
de apoiador, não de juiz. Ele encorajava as pessoas a ser francas sobre seus
erros e a aprender com eles. “Ele está com você”, dizia Jean-Phillipe Courtois,
membro de sua equipe de liderança. “Você podia senti-lo. Você podia perceber a
linguagem corporal. Não importa
se você era um executivo do alto escalão ou um vendedor
de loja, ele ouvia exatamente da mesma forma.”
A moldagem é poderosa porque mostra que o líder faz o
que diz. Além disso, cria momentum. Os pesquisadores descobriram que quando as
pessoas estão em dúvida sobre qual o comportamento adequado, elas copiam as
ações dos outros — principalmente dos que têm poder e status. Por isso não
surpreende que em tempos de rápida mudança, que inevitavelmente geram incerteza
nos negócios, os funcionários observem seus líderes para obter pistas de como
proceder. Se notarem que estes estão se empenhando para estimular o aprendizado
e cultivar a delicada arte da liderança, como saber conversar, eles se
comportarão da mesma forma.
Crie competência em toda a organização. Depois que
Nadella se tornou CEO da Microsoft, o clima corporativo mudou e o desempenho da
empresa ressurgiu. Mas Nadella não foi o único responsável. Com mais de 130 mil
funcionários, ele dependia dos membros de sua equipe de liderança para moldar a
mentalidade de crescimento com as exigências singulares de seus negócios
individuais. Para Courtois — que em 2016 assumiu o controle de venda global,
marketing e operações da Microsoft —, isso significava transformar a cultura de
modelo de comando e controle em modelo de coaching.
Herminia estudou profundamente a superação da Microsoft,
por isso temos uma compreensão clara de como o processo se desenrolou. Courtois
reconheceu que o “por quê?” da mudança para coaching era a mudança da Microsoft
para uma estratégia de nuvem antes de qualquer outra. Os princípios da economia
da computação em nuvem partem da premissa de que os clientes devem pagar
somente pelos recursos que utilizarem (por quanto tempo um servidor é
utilizado, por exemplo, ou que largura de banda está sendo consumida na
transferência de dados). Como o crescimento da receita agora dependia mais
fortemente do consumo dos produtos da Microsoft, todos na empresa tinham
aderido a manter conversas nas quais pudessem aprender o que ainda não sabiam —
como atender às necessidades ainda não manifestadas dos clientes. E dispondo de
ferramentas digitais poderosas que forneciam dados em tempo real sobre métricas
importantes a todos, não fazia mais sentido para os gestores gastar seu tempo
monitorando e controlando os funcionários. Por isso, depois dos esforços de
reestruturação visando oferecer às equipes de venda da Microsoft as habilidades
técnicas e industriais certas para acompanhar os clientes corporativos à medida
que passavam para a nuvem, Courtois deu seguimento com workshops, ferramentas e
um curso online montado para ajudar os gestores da empresa a desenvolver um
estilo de coaching de liderança.
“Se quisermos ter certeza de que a transformação
continuará por toda a organização”, ele nos explicou, “o grande desafio que
teremos pela frente será reinicializar nossos gestores de pessoas. Gestão de
pessoas é um cargo. Você não é apenas um gestor de vendas, com cotas a cumprir,
território, clientes, parceiros, metas. Você é, na verdade, alguém cuja missão
é selecionar, desenvolver e motivar os melhores talentos para criar o sucesso
do cliente”.
Remova as barreiras. Como acontece em várias
organizações, o ritmo da vida corporativa na Microsoft era ditado pelas
avaliações trimestrais da empresa. Uma delas, a reunião anual conhecida como a
avaliação de meio de ano em janeiro, era uma das manifestações mais evidentes
da cultura de comando e controle.
Ao longo do tempo, a avaliação de meio de ano tinha se
transformado numa espécie de teatro corporativo no qual a equipe do alto
escalão, adotando posição inquisitiva, interrogava os gestores seniores do
mundo todo sobre seus planos e progressos. Esse formato de “questionamento de
precisão” acabou tendo “impacto amedrontador nas pessoas”, explicou um
executivo, “porque elas se sentiam como se estivessem participando da reunião
para ser pessoalmente julgadas. Por isso, viam-se na obrigação de pintar o
melhor quadro possível sem mostrar nenhum erro ou falha”. Numerosas são as
histórias de gestores seniores que começavam a se preparar ansiosamente bem
antes dos feriados de fim de ano. Em outras palavras, para dar boa impressão
muitas das pessoas mais importantes da empresa gastavam mais de um mês do seu
tempo preparando-se para a avaliação interna.
Como parte da mudança que adotaria a cultura de
aprendizado, Courtois já havia encorajado sua equipe a abandonar o
questionamento de precisão e optar pela abordagem mais orientada para o
coaching, isto é, com perguntas como “que você está tentando fazer?”, “o que
está funcionando?”, “o que não está funcionando?” e “como podemos ajudar?”. Mas
velhos hábitos demoram a morrer. Somente depois que Courtois eliminou a
avaliação de meio de ano — removendo assim uma barreira significativa que
impedia a mudança —, todos entenderam que aquilo se referia a negócios.
Um processo similar ocorreu na Allen & Overy, onde
as avaliações e as classificações de fim de ano se tornaram um ritual
completamente improdutivo. Em seu esforço para tornar-se uma organização que
aprende, a empresa reconheceu que essas práticas eram um impedimento para os
tipos de abertura e conversas apoiadoras que os funcionários precisavam, tanto
para se desenvolver profissionalmente, como para promover a missão da
organização. Ela então abandonou o sistema de avaliação de desempenho e agora
treina seus colaboradores a se envolver em conversas de coaching com os sócios
durante o ano todo, fornecendo-lhes feedback em tempo real sobre seu trabalho.
Os funcionários relatam que essas conversas criam um novo e proveitoso nível de
diálogo sobre seu desenvolvimento de carreira. E, mais uma vez, há benefícios
colaterais. Embora o programa tenha sido projetado para ser utilizado
internamente, ele permitiu que os líderes seniores da organização se sentissem
mais confortáveis para conduzir conversas não estruturadas em outros contextos,
principalmente durante negociações de alto risco com clientes — e isso, por sua
vez, levou a aumento de receita e a interações mais proveitosas com o cliente.
VIVEMOS NUM mundo fluido. Hoje, mais do que nunca,
executivos bem-sucedidos precisam prover suas empresas com expertise funcional
e capacidade geral de aprendizado — e essa capacitação tem de ser desenvolvida
nas pessoas que eles supervisionam. Eles já não podem simplesmente comandar e
controlar. Nem tampouco insistir em recompensar equipes pelos feitos notáveis
de que eles mesmos são capazes de entregar. Ao contrário, com total apoio
institucional, eles devem se reinventar como coaches, extraindo energia e
criatividade das pessoas com quem trabalham.
HERMINIA IBARRA - professora de comportamento
organizacional na London Business School. Autora de Act like a leader, think
like a leader e de Working identity: unconventional strategies for reinventing
your career. ANNE SCOULAR - cofundadora da Meyler Campbell, empresa que ensina
líderes seniores a ser coaches. Professora associada na Saïd Business School da
University of Oxford, autora de The financial times guide to business coaching.
Fonte: