Desequilíbrio impõe uma nova
reforma da Previdência
Falar em nova reforma da Previdência cinco anos depois da última pode parecer prematuro. Infelizmente,
não há como brigar com a realidade de um país de renda média.
No ano passado, o
déficit dos regimes previdenciários do governo federal foi equivalente a 3,9%
do PIB. Em 2022, na Previdência Social como um todo, incluindo estados e
municípios, ficou em 4,9%.
Como o rombo é grande, e tende a aumentar, governo e
Congresso deveriam promover outra reforma. Do jeito como está, o sistema é
insustentável.
O Brasil tem muitas outras demandas urgentes, da educação à
segurança, e não pode arcar com despesa tão grande no Orçamento — só os gastos
com as aposentadorias do setor privado consomem 44% do gasto da União.
Não bastasse o desequilíbrio no
presente, continuamos diante de uma bomba demográfica. Até 2050, a fatia de
idosos deverá dobrar, enquanto a de contribuintes ficará inalterada. Não se
trata de problema do futuro.
Como revelou reportagem do GLOBO, o número de contribuintes
cresceu 0,7% ao ano entre 2012 e 2022.
No mesmo período, a
quantidade de benefícios pagos subiu 2,2% anuais, segundo estudo do economista
Rogério Nagamine.
É certo que, no
período analisado, a economia passou por dois anos de recessão decorrentes das
políticas do governo Dilma Rousseff, além da pandemia.
Mas a regra das últimas
três décadas, quebrada raramente, tem sido o crescimento econômico baixo. Com
alterações tímidas do PIB, não crescem a parcela de trabalhadores formais nem
as contribuições.
Mesmo confiando na forte expansão econômica, as previsões
demográficas se impõem.
O problema
estrutural tem sido agravado pela conjuntura. Em 2023, o estoque de benefícios
do INSS cresceu 4,5%, maior aumento dos últimos 19 anos.
De acordo com o
governo, isso é resultado do combate ao represamento de pedidos herdados. A
explicação, porém, é insuficiente. As filas do INSS estão caindo lentamente
apesar do forte aumento nos benefícios.
Ainda não há dados
disponíveis a pesquisadores para determinar as causas do salto. Em artigo
recente, Nagamine e o economista Marcos Mendes levantaram uma hipótese.
As
medidas adotadas para acelerar as análises de pedidos podem estimular cidadãos
a solicitar o benefício mesmo sem cumprir os requisitos.
Uma possibilidade mais
grave é os processos automatizados serem mais lenientes. Se for esse o caso, o
período atual não será de correção, mas o início de um “aumento duradouro” nas
taxas de concessão.
A despesa com
benefícios previdenciários e assistenciais tem crescido em ritmo tão alto que
provavelmente exigirá corte de outros gastos já neste ano.
Só o custo do Regime
Geral de Previdência Social (RGPS), dos trabalhadores da iniciativa privada,
aumentou 4,4% em janeiro em relação ao mesmo mês do ano passado, descontada a
inflação.
Os benefícios assistenciais subiram 16%. O governo tem comemorado a
alta na receita neste início de 2024, sem dar a devida atenção às despesas.
Parece óbvio que a
Previdência exige correções de gestão no curto prazo. O primeiro passo é saber
exatamente por que as filas não caem na velocidade esperada e se há gente
beneficiada de forma indevida.
Para os desafios estruturais de longo prazo,
governo e Congresso precisam encarar o desafio de uma nova reforma, começando
pelas categorias que driblaram as mudanças na última. Não haverá escapatória.
Fonte: O Globo