Brasil pode liderar em
infraestrutura digital
Pix tornou-se exemplo de infraestrutura digital pública de fazer inveja
mundial.
Guarde essas três palavras:
infraestrutura digital pública. Qualquer país para se desenvolver hoje precisa
não só de infraestrutura física (rodovias, ferrovias, portos etc.) mas também
de uma infraestrutura digital. Pergunte à Índia.
O país sofre há anos com a
precariedade da sua infraestrutura física. Mas foi capaz de criar uma
infraestrutura digital para mais de 1,2 bilhão de pessoas que mudou o país.
O
pacote inclui identidade digital única e gratuita para todos os cidadãos. Um
serviço de armazenamento de documentos online que elimina o uso do papel.
Além
de contas bancárias gratuitas e um sistema universal de pagamentos digitais.
Não é preciso ir até a Índia
para ver a importância de iniciativas como essas. É só olhar para o Brasil. Não
estamos atrás de outros países nesse quesito.
A prova é o Pix. Ele não só revolucionou pagamentos no país, como se
tornou um exemplo de infraestrutura digital pública de fazer inveja mundial, a
ponto de estar sendo copiado inclusive por países desenvolvidos.
Minha convicção é que o Brasil pode se tornar a maior liderança global em
infraestrutura digital.
Há muitas sementes plantadas para isso: o Pix, a
plataforma Gov.Br, a nota fiscal eletrônica, o Datasus (que usa blockchain!), o projeto do Real digital e assim
por diante.
O que falta são duas coisas.
Primeiro, entender essas infraestruturas de forma coordenada, pensando seu
presente e futuro com estratégia.
Segundo, o Brasil precisa obedecer ao comando
da música de Xande de Pilares: "ergue essa cabeça, mete o pé e vai na fé".
Assumirmos para o mundo que o que já fizemos até agora nessa área é
extraordinário.
E colocar nosso protagonismo para os próximos três anos.
Há uma oportunidade única para o Brasil demarcar sua liderança
sobre esse tema globalmente: a reunião do G20, encontro dos 20 países mais
ricos, que acontecerá no Rio de Janeiro em 2024.
A ocasião será perfeita para o
país mostrar o que já fizemos e o que podemos fazer. A atual presidência do G20
é da Índia.
Qual foi o tema que o país escolheu como prioritário para sua
gestão? Justamente a questão da infraestrutura pública digital. A possibilidade
de construir cooperação nessa área é enorme se nos prepararmos.
Vale também dizer que a palavra "pública" aqui não
significa "estatal". Infraestrutura digital pública é um esforço que
deve envolver vários atores, incluindo o setor privado, a sociedade civil, as
universidades, organizações internacionais e assim por diante.
Claro que o
governo tem um papel de coordenar e participar desses esforços, mas não deve
atuar sozinho. Um excelente exemplo nesse sentido é o que Portugal tem feito
para atrair cabos submarinos, tornando o país a principal porta de dados para a
Europa.
A cidade portuária de Sines hoje é não só um hub de mercadorias, mas
também de informação.
Lá ficam as "cable landing stations" que
conectam boa parte do Atlântico. O resultado está aí para ser conferido: o
surgimento de grandes centros de dados em Portugal.
O mais novo deles, em
execução, vai criar 1.200 empregos de alta qualidade em Sines.
Como diz o ditado: camarão que dorme a onda leva. Sobre
infraestrutura pública digital não podemos ser esse camarão.
RONALDO LEMOS - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.