A prática, pelo menos a versão antiga dela, já existia
no Egito 4.000 anos atrás
É uma das questões mais antigas da civilização:
como transmitir informações a outros sem que terceiros fiquem sabendo? Os
gregos inventaram a palavra —criptografia vem de “kryptos” (secreto) e
“graphein” (escrita)— mas a prática é antiga. Temos textos criptografados
no Egito 4.000 anos atrás.
Um
usuário famoso foi Júlio César. Em suas cartas confidenciais, o general
romano substituía cada letra por outra três posições depois no alfabeto: A por
D, B por E etc. Os destinatários invertiam a troca para lerem o texto.
Outro
truque clássico é transpor a posição das letras, por exemplo, inverter a ordem
dentro de cada palavra (“mob aid” no lugar de “bom dia”) ou cada frase.
Até
recentemente, os métodos de criptografia eram
combinações mais ou menos sofisticadas de substituição e transposição. As
técnicas usadas na Segunda Guerra Mundial, incluindo o famoso enigma
da marinha alemã, ainda eram desse tipo.
A
invenção do cálculo eletrônico aposentou esses métodos —substituição e
transposição não são páreo para um computador. Ao mesmo tempo, o
desenvolvimento da tecnologia da informação tornou a criptografia mais necessária
do que nunca.
A
criptografia atual é baseada em algo que computadores têm dificuldade para
fazer: fatorizar números. Dados dois números primos p e q é
fácil calcular o produto n = p x q. Mas, se conhecemos apenas o produto n, é
difícil encontrar os fatores p e q, sobretudo se forem
grandes —digamos com mais de 100 dígitos.
É provável que isso mude. Em 1994,
o matemático americano Peter Shor provou que computadores quânticos serão
capazes de fatorizar números rapidamente. Ainda não sabemos construir computadores
quânticos, mas quando eles forem realidade a criptografia passará por outra
revolução. Já há muita gente trabalhando nisso e, mais uma vez, a matemática
tem um papel central.
Marcelo Viana - matemático e diretor-geral do Impa, é ganhador do
Prêmio Louis D., do Institut de France
Fonte: coluna jornal FSP