Com a crise que estamos enfrentando
nos últimos tempos, os resultados das empresas têm sido ruins.
O que mais se ouve são reclamações de
queda nas vendas, metas não atingidas, fluxo de caixa negativo e projetos
adiados. E quando se fala em perspectivas, os pensamentos são pessimistas.
Os mais animados dizem que trabalham
para não perderem, e que se conseguirem manter os resultados do último
exercício já se dão por satisfeitos. Embora os conselheiros, investidores e
superiores hierárquicos estejam conscientes dessa situação, alguns fingem
desconhecimento e insistem em atribuir culpas.
Especialmente nas reuniões em que se
discutem resultados é que as cobranças surgem de forma mais contundente. Muitos
executivos, sem saber como explicar, tentam justificar as metas não atingidas
em tom de desculpa, como se fossem sempre os responsáveis pelos números
negativos. Não são poucos aqueles que se sentem impotentes diante das críticas.
Nessas situações, a forma mais eficiente de explicar resultados é
retroceder ao momento
em que as metas foram estabelecidas e analisar o contexto daquela realidade.
Qual era o crescimento do país? Em
que patamar estava a inflação? E a taxa de juros? E as condições cambiais? Qual
a situação dos países que compravam nossas commodities? E a nossa situação
política?
Se as metas foram estabelecidas
diante de parâmetros positivos e alvissareiros, como cobrar resultados frente a
uma realidade tão diversa e desfavorável? O mercado é outro. A situação das
empresas compradoras e fornecedoras passa longe, muito longe, do otimismo
experimentado no momento em que as projeções de faturamento e produção foram
feitas.
A apresentação de resultados,
portanto, deverá iniciar obrigatoriamente fazendo referência a esse contexto.
Veja um exemplo hipotético de como o profissional
poderia argumentar:
"Há um ano, quando estabelecemos
nossas metas de crescimento, nos guiamos por uma conjuntura extremamente
favorável. A estimativa de crescimento do PIB era positiva. A situação política
era estável. A taxa de juros estava em declínio. Vivíamos quase em pleno
emprego. O mercado internacional consumia tudo o que podíamos produzir. A taxa
cambial era favorável às importações.
A partir dessa realidade, planejamos
o nosso crescimento. Conforme todos sabem, hoje esses indicadores estão
modificados. Por motivos que fogem aos estudos e às previsões de qualquer
empresa, a realidade do nosso país se deteriorou. No nosso ramo, todos os
concorrentes estão passando por dificuldades inimagináveis. Alguns fecharam as
portas. Outros estão renegociando suas dívidas com bancos e fornecedores.
Diante desse quadro desalentador,
embora não tenhamos atingido as metas previstas, nossa empresa deve comemorar
os resultados que obtivemos. Foi uma vitória do trabalho, da competência e da
capacidade de adaptação de todos nós. Desde o mais simples homem do chão de
fábrica até o mais importante conselheiro.
Cuidados na argumentação
Veja que alguns cuidados foram
tomados nessa argumentação. Além da descrição do contexto, houve a preocupação
de comprometer os responsáveis dizendo "como todos sabem". Ora, se
concordarem com a premissa de que sabem, a chance de que cheguem à conclusão se
amplia.
Outro ponto foi incluir a situação de
outras empresas dizendo "motivos que fogem aos estudos e às previsões de
qualquer empresa". E também mostrar a dificuldade dos concorrentes e
transformar os resultados aparentemente negativos em dados que devem ser
comemorados, mostrando que a vitória se deveu a todos, inclusive àqueles que
poderiam fazer as críticas.
Pronto. Os resultados não serão
revertidos com esse discurso, mas os fatos são esclarecidos com sua verdadeira
dimensão. Em vista de uma realidade mais consciente, os números passam a ser
compreendidos de maneira mais clara e pessoas cobradas de acordo com a correta
responsabilidade.
Mostrar a verdade diante de cobranças
descabidas é uma boa forma de esclarecer os motivos de resultados ruins e de
determinar planos mais realistas para o que pode ser buscado como objetivo.
Superdicas da semana
- Quando desejar que concordem
com a conclusão, diga que a premissa é conhecida por todos
- Às vezes é possível
transformar dados negativos em resultados vitoriosos
- Mostrar resultados a partir
do contexto em que foram projetados ajudam a esclarecer a realidade dos
fatos
- A explicação de resultados
positivos ou negativos precisa ser bem planejada
Reinaldo Polito - um escritor e
colunista brasileiro, publicou 21 obras e foi coautor de inúmeras outras,
escreve sobre a "arte de falar em público".
Fonte: site UOL