Você é responsável pela aposentadoria


Os tempos modernos andam turbulentos. A epidemia do desemprego ataca todos os países, inclusive os ricos, sobretudo na Europa. Os avanços da ciência nos deram mais vida: o brasileiro atualmente vive em média 71 anos, contra apenas 33 anos em 1900. Muitos já estão vivendo mais de 80 anos. Daqui a quatro décadas, o Brasil terá 57 milhões de pessoas com mais de 60 anos. É uma alegria tanta vida. Mas com a dádiva vem o desafio. Como essa legião de pessoas viverá? Como você irá viver em sua velhice?

O bem-estar depois dos 60 anos enfrenta problemas. Anos de vida a mais geram novas demandas: saúde, cuidados pessoais, conforto, descanso. Tudo isso custa caro. De onde virá o dinheiro para pagar a conta? Você já se perguntou com quem poderá contar na velhice ou de onde virá o dinheiro para sustentar uma vida boa quando lhe faltar energia ou você resolver parar?

Talvez você não poderá contar com ninguém e não tem a menor ideia de que fonte sacará os recursos para uma velhice confortável. Pois a responsabilidade de prover seu sustento é sua. Você terá de assumir o controle de sua vida, sua carreira, seus ganhos e sua poupança. Caso contrário, a velhice pode ser dura e triste.

Achar que alguém vai cuidar de você é uma aposta arriscada. No passado, os casais tinham muitos filhos, na esperança de serem cuidados e sustentados por eles. Isso está acabando. Um relatório do IBGE diz que 64% dos idosos sustentam suas famílias, numa inversão da lógica. De alguma forma, a população entende esse fenômeno – e é cada vez menor o número de casais com mais de dois filhos.

Um dia, utopias bonitas, mas inviáveis, tentaram nos convencer de que o governo iria cuidar de nós. Você sabe onde surgiu a ideia de aposentadoria aos 65 anos paga pelo governo? Veio de Otto Von Bismarck, presidente da Prússia, em 1889. Naquela época, a expectativa média de vida na Europa não passava dos 45 anos e a proposta de Bismarck não ameaçava as finanças do governo. Hoje, com tanta gente passando dos 75 anos, a previdência social pode levar qualquer governo à falência.

Depender do governo é uma furada. Havia uma ilha de pessoas imunes ao problema: os funcionários públicos, beneficiados com estabilidade no emprego e aposentadoria integral. Mas até isso está sumindo. No Brasil, os novos funcionários públicos receberão do governo, no máximo, o teto do INSS; para terem mais, eles deverão contribuir para um fundo de pensão próprio.

Quanto às mulheres, no passado elas apostavam no casamento como uma apólice de seguros para sua vida. Essa fonte secou. Esperar que o marido (ou a esposa) vá prover seu sustento na velhice é como saltar do trapézio sem rede de proteção. Além disso, de cada dois casamentos, um vai acabar com o marido ou a mulher dispensando o cônjuge muito antes da terceira idade.

Há a hipótese do segundo casamento, pois o IBGE informa que 50% dos novos matrimônios são recasamentos para um dos dois. Ocorre que, como dizia o pensador Samuel Johnson, “o segundo casamento é o triunfo da esperança sobre a experiência”, e pode ser que também este acabe antes da terceira idade dos pombinhos.

O fato concreto é: nem o patrão, nem o governo, nem a família irão cuidar de você ou pagar suas contas na velhice. Isso pode até acontecer, mas convém não confiar. É melhor acreditar em dois pontos: um, você é o responsável; dois, cuide de seu dinheiro e construa sua arca. Noé sobreviveu ao dilúvio porque não esperou que Deus ou seus pais lhe construíssem uma arca.

José Pio Martins - economista e reitor da Universidade Positivo, do Paraná
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