Muitas pessoas criticam essa
nossa mania de ficarmos o tempo todo conectados para nos comunicar com filhos,
conhecidos, colegas de trabalho, amigos e parentes. Programas de mensagens
instantâneas em aparelhos celulares fazem enorme sucesso, talvez por serem de
baixo custo e permitirem a formação de grupos de família, de pais de alunos da
classe do filho, de amigos, de colegas que realizam algum trabalho, de chefes e
seus auxiliares diretos, de alunos com seus professores etc.
Por
outro lado, há piadas, vídeos institucionais, campanhas com mensagens melosas e
até um pouco dramáticas apontando o quão pouco é saudável essa nossa ligação
com os aparelhos, que ocupam tanto de nosso tempo e nos afastam das pessoas em
nossa volta.
Alguns
locais, como restaurantes, por exemplo, incentivam, de modo bem-humorado, seus
frequentadores a renunciar aos aparelhos enquanto lá estão para uma refeição
compartilhada.
Mas
esses recursos não têm conseguido abalar nosso apego a esse tipo de
comunicação. Creio até que a coluna cervical de muita gente anda reclamando por
causa disso. E como o que pode provocar mudanças é mais a ação do que a
falação, conto a você, caro leitor, a experiência vivida por uma amiga.
Ela é
uma dessas pessoas quase viciadas em comunicação a distância e internet, com
suas redes variadas. Tanto que passou a sentir-se culpada por ver seu tempo com
os filhos ser engolido por sua dedicação ao celular. Resolveu, então, com o
marido e os três filhos, ter um final de semana em que ficariam totalmente
desconectados.
Encontraram
um hotel que não tinha sinal de celular nem de internet, e para lá foram, tanto
animados quanto temerosos, para viver dois dias inteiros sem conexão alguma, a
não ser entre eles, e diretamente, olho no olho. Logo na chegada, colocaram
todos os aparelhos em uma caixa, que só seria aberta ao final da estadia.
E aí
começou uma aventura. No início, foi difícil, reconheceu ela, mas aos poucos
eles se envolveram entre si: leram livros, contaram histórias, divertiram-se
com jogos de tabuleiro, conversaram.
Ela
disse que o marido, os filhos e ela gostaram tanto da experiência de
"desconectar para conectar" que adotaram o ritual de guardar os
aparelhos de todos em uma caixa pelo menos por algumas horas nos finais de
semana.
Considerei
essa uma boa sugestão para famílias com filhos que se sentem distantes dos
pais. Nem sempre crianças e jovens conseguem perceber o quanto é bom trocar
ideias e afetos com os pais e conviver com eles para fortalecer o vínculo,
porque também estão muito envolvidos com suas traquitanas tecnológicas e com as
redes sociais.
Mas,
quando eles descobrem –ou redescobrem– que o relacionamento com os pais e os
irmãos, fora das questões administrativas do cotidiano, lhes faz bem, eles se
entregam, e o resultado costuma ser visível no humor e até mesmo na busca de
uma maior proximidade.
Se
nós não dermos a eles oportunidades e chances de se tornar mais sensíveis aos
relacionamentos interpessoais humanizados, a vida deles certamente será mais
árdua, mais difícil, mais áspera. Algumas horas desconectados nos finais de
semana podem lhes fazer um bem enorme!
Rosely Sayão - Psicóloga e consultora em educação
Fonte: caderno cotidiano / jornal FSP