Pare de perguntar sobre o histórico
salarial dos candidatos.
Em resposta a protestos pelos Estados Unidos, os
CEOS se comprometeram a lutar contra a discriminação e a intolerância, tendo
renovado as promessas para aumentar a diversidade e a justiça dentro das
organizações.
Mas como podem demonstrar que são mais do que vagas
promessas? Uma nova pesquisa (realizada por Bessen, Denk e o coautor Chen
Meng) aponta que os CEOs podem tomar uma atitude imediata para reduzir
substancialmente a disparidade salarial relativa aos negros e às mulheres: pare
de perguntar aos candidatos sobre o salário anterior.
Sabemos que essa política causa impacto maior na
disparidade salarial, pois 14 estados proibiram essa prática ao longo dos
últimos três anos.
Analisamos as diferenças entre os setores com a proibição a
perguntas referentes ao histórico salarial (SHB, na sigla em inglês) e cidades
vizinhas em estados sem essa proibição.
Descobrimos que essas novas leis
geraram um aumento de salário substancial para candidatos negros (+13%) e para
mulheres (+8%) que conseguiram um novo emprego.
Por que os grupos menos favorecidos observam
ofertas com salários mais altos quando empregadores não utilizam o histórico
salarial?
De forma simples, essa informação concede aos empregadores uma
vantagem na negociação.
Ao saber que o candidato é mal remunerado, os
empregadores oferecem um pouco mais do que o salário atual, certos de que o
candidato irá aceitar.
Ainda assim, o candidato poderá receber um salário
inferior ao seu valor. Dessa forma, a desigualdade salarial se eterniza.
Entretanto, quando o acesso ao histórico salarial é restrito, as candidatas
negras observam uma condição equitativa.
Parece haver uma crescente tendência para com a
inclusão da variação salarial nos anúncios de empregos, mesmo entre os
empregadores não enquadrados na SHB, apontando que os empregadores decidiram
não mais perguntar sobre o histórico salarial.
Essa tendência é bem-vinda e
muitos empregadores deveriam segui-la em prol das disparidades salariais.
Um
empregador que voluntariamente decide não mais questionar o histórico salarial
representa uma atitude deliberada e específica que pode ajudar na redução da
desigualdade salarial, para tornar a empresa uma empregadora mais atraente para
mulheres e minorias, mostrando que o empregador está, de fato, tomando medidas
mais reais para combater a discriminação institucional.
Alguns argumentos a favor e contra acerca da
utilização do histórico salarial vêm surgindo.
Por exemplo, companhias e
profissionais de RH argumentam que conhecer o histórico salarial do candidato é
crucial para economizar tempo – tanto para o candidato quanto para a empresa –
durante o processo de entrevistas.
Se a empresa não tem condições de prover o salário
que o candidato procura – tipicamente de 10 a 20% mais do que o salário atual,
então não faria sentido oferecer algo que não estivesse dentro dessa variável.
Entretanto, de acordo com o que nossos dados mostram, empregadores podem
incluir uma variação salarial num anúncio de vaga de emprego – o que eles vêm
fazendo – a fim de deixar que o candidato decida se tal variação é viável para
ele quando decide se candidatar à vaga.
Os empregadores também podem avaliar as
expectativas salariais sem ter de perguntar sobre o histórico salarial.
Mesmo
havendo a SHB, o empregador pode perguntar quanto o candidato pretende ganhar.
Nada impede que os candidatos com altos salários informem seu salário atual
para definir as expectativas do empregador.
Alguns profissionais de RH também argumentam que o
histórico salarial é necessário para determinar a trajetória profissional do
candidato.
Um histórico com constantes aumentos salariais anteriores
demonstraria que o candidato é merecedor do aumento de responsabilidades e de
remuneração.
Logicamente, essa informação pode também ser determinada de
maneira qualitativa – a partir do currículo do candidato e das perguntas – ou
de forma quantitativa, por meio de pesquisa de mercado sobre quanto as outras
companhias pagam pelo mesmo cargo, ou a partir do quanto as companhias já
pagaram a funcionários anteriores nesse ou em cargos semelhantes.
Outra preocupação é que os históricos salariais
podem revelar a qualidade do candidato de forma geral, exceto a trajetória
profissional.
Os empregadores têm a preocupação de que, sem essa informação,
irão selecionar candidatos de qualidade inferior em média, levando a más
correspondências com a vaga e à maior rotatividade.
Nossos dados mostram que
tal fato não parece ser tão preocupante.
Os índices de rotatividade não
aumentaram nos estados onde, em geral, há a proibição a perguntas referentes ao
histórico salarial, como também não aumentaram para os trabalhadores
relativamente mal remunerados em empregos anteriores.
Em poucas palavras, com
base nos estados que proibiram os empregadores de utilizar o histórico
salarial, nossa análise mostra que eles conseguem fazer contratações de forma
efetiva sem lançar mão dessa informação.
Da mesma forma, os empregadores que
não perguntaram sobre o histórico salarial conseguiram reduzir
significativamente as diferenças salariais injustas.
Não perguntar sobre o histórico salarial está
relacionado à crescente tendência para a transparência acerca do salário.
Nossos dados apontam um aumento constante no uso das variações salariais em
anúncios de empregos depois da promulgação da lei do SHB, e não somente pelos
empregadores sujeitos à proibição.
Os candidatos também podem obter mais
informações sobre a variação salarial dos empregadores em websites como
o Glassdoor, que permite que ex-funcionários e funcionários atuais divulguem
informações sobre seu salário e o ambiente de trabalho.
A maior transparência
oferece aos candidatos uma condição equitativa, reduzindo, assim, a
discriminação e outras desigualdades, tanto no processo de contratação como ao
longo do período no emprego.
Uma transparência maior traz benefícios para ambos
empregadores e candidatos, bem como satisfaz as necessidades dos profissionais
de RH e dos CEOs.
Argumentos em ambas as esferas da proibição de perguntas
referentes ao histórico salarial viram a necessidade de transparência e de
começar um relacionamento empregador-funcionário de forma correta e no ambiente
adequado.
Embora os empregadores tendam a divulgar a variação salarial em um
anúncio de emprego, por conta da proibição a perguntas referentes ao histórico
salarial, eles não teriam feito a divulgação da vaga se não soubessem do valor
que poderiam dispor para isso.
A SHB simplesmente incentiva o empregador a
deixar claro o que pretende ao divulgar a vaga.
Obviamente, os empregadores
podem ir além das exigências dessas leis e, de maneira voluntária, dar mais
informações aos candidatos e funcionários.
Essa transparência cria uma cultura
que estipula as regras para uma abertura e uma boa recepção aos funcionários,
ajuda a atrair uma diversidade maior de candidatos, e reduz a lacuna para as
mulheres e pessoas de cor.
James Bessen -
economista, é diretor-executivo do Technology & Policy Research
Initiative na Faculdade de Direito da Boston University.
Erich Denk
- analista de pesquisa de dados na Technology Policy & Research Initiative,
da Faculdade de Direito da Boston University.
JamesKossuth - diretor associado na Technology & Policy
Research Initiative na Boston University.
Fonte:
Harvard Business Review