Em meu último artigo aqui no blog (“Afinal, existe crise ou não?”), argumentei, ainda que com
certo excesso de acidez, que não existe crise no Brasil. Isso que chamamos de
“crise” é nosso estado normal, e tivemos um breve período de euforia econômica
que já acabou.
Na verdade, existe sim uma crise: é uma crise das nossas
expectativas. Nós, brasileiros, tivemos, mais uma vez, nossos sonhos
destruídos. Acreditamos (bem, pelo menos a maioria acreditou…) que éramos a
“bola da vez”, que finalmente deixaríamos de ser o eterno “país do futuro” para
virarmos agentes relevantes no momento presente.Nós nos frustramos enormemente.
Aliás, não apenas “nós”, mas o mundo todo se decepcionou com o Brasil.
As capas da célebre revista britânica The
Economist de 2009 e
2013, com a imagem do “Cristo Redentor foguete”, expressam de forma brilhante o
quanto o mundo todo ficou “broxado” com o Brasil.
O
Brasil virou a pátria do descalabro e do desgoverno. Muitas pessoas estão
profundamente desapontadas e hoje ouço histórias de gente falando em deixar o
Brasil (ou mesmo já deixando), de uma forma que eu não ouvia nem no pico da
hiperinflação e do caos econômico dos anos oitenta e noventa, antes do Plano
Real.
E não estávamos sozinhos nesse movimento de dar as costas a um
modelo econômico mais moderno, mais liberal e orientado ao mercado. Alguns de
nossos vizinhos “entraram de cabeça” na onda do populismo, da corrupção extrema
e da “magia negra econômica”, que tenta criar riqueza a partir do nada.
Em algumas palestras e apresentações (especialmente nas que eram
feitas para um público estrangeiro), eu costumava brincar que o Brasil tinha
virado o “recheio de um sanduíche indigesto”, que tinha a Argentina embaixo e a
Venezuela em cima.
Bem, parece que não mais! Nossos “hermanos” ao Sul optaram por
uma mudança de rumo (para o bem) e o modelo da Venezuela dá sinais de que vai
“cair de podre”.
Estou, enfim, otimista. Quero acreditar que, sem essas más influências,
a coisa tende a “endireitar” (trocadilho não intencional) aqui no Brasil
também, ainda que não de forma imediata… Estou com aquela sensação de que “há
luz no fim do túnel”.
Outra coisa que está me dando uma pontada de otimismo são os
possíveis desdobramentos do terrível atentado terrorista que aconteceu em
Paris. Há uma certa possibilidade, ainda que remota, que EUA, Rússia e países
da Europa atuem em conjunto, militarmente, contra os radicais do Estado
Islâmico.
Essa improvável cooperação militar poderá ter consequências
inesperadas (boas ou ruins). Um possível cenário positivo é que uma ação
militar coordenada entre EUA e Rússia poderia ajudar a desfazer o “clima ruim”
entre os dois países que, na prática, está levando o mundo a uma nova Guerra
Fria.
Enfim, pode ser uma grande ingenuidade da minha parte, mas,
depois de um período em que andei bastante pessimista (acho que meus artigos
anteriores deixaram isso meio claro para os leitores), começo a sentir alguma
esperança, tanto no cenário interno “expandido” (America Latina) quanto no
cenário global mais amplo.
Este ano eu me comportei, então deixo meu pedido para o Papai
Noel: “Novos ventos” na América Latina e que, num contexto mais global, as
grandes potências militares voltem a se conversar como cavalheiros.
Nós, indivíduos que estamos tentando trabalhar dignamente e
evoluir, só teremos a ganhar com isso.
André Massaro -
escritor, palestrante, consultor financeiro.
Fonte: http://exame.abril.com.br/