O Envelhecimento e seus Desafios para a Saúde e Previdência no Brasil


O Envelhecimento e seus Desafios para a Saúde e Previdência no Brasil

 O Brasil enfrenta um dos desafios mais significativos das últimas décadas: o rápido envelhecimento da população. 

A expectativa de vida no país aumentou significativamente, passando de 74,4 anos em 2013 para 77 anos em 2023, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Embora o aumento na longevidade represente avanços na saúde pública e na qualidade de vida da população, ele traz desafios complexos, especialmente para os sistemas de saúde pública e previdência social, que se encontram sob pressão crescente para atender a uma população idosa que vive mais e demanda mais cuidados.

Impactos na Previdência Social: a ameaça de um sistema insustentável

O rápido envelhecimento populacional coloca a previdência social brasileira em uma situação preocupante. 

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o número de aposentados e pensionistas com mais de 80 anos cresceu a uma taxa média de 3,9% ao ano entre 2013 e 2023, enquanto o grupo com mais de 90 anos cresceu a uma média de 6,3% ao ano. 

Esse crescimento desproporcional em relação ao aumento do número de contribuintes jovens é um fator crítico para o déficit previdenciário.

Atualmente, cerca de 60% dos benefícios previdenciários no Brasil estão no piso, ou seja, equivalem ao salário mínimo. 

Esse cenário ocorre devido à insuficiência das contribuições para financiar benefícios mais elevados e ao aumento da expectativa de vida dos beneficiários. 

De acordo com a Secretaria de Previdência, em 2022, o déficit do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) atingiu R$ 268,8 bilhões, um aumento de 7,7% em relação ao ano anterior.

Comparando com países desenvolvidos, como Alemanha e Japão, que também enfrentam desafios com o envelhecimento populacional, nota-se que o Brasil ainda possui um sistema previdenciário mais frágil. 

Na Alemanha, por exemplo, reformas previdenciárias sucessivas ajustaram a idade mínima de aposentadoria e vincularam benefícios a contribuições de longo prazo. 

No Japão, um país com uma das maiores proporções de idosos do mundo, o sistema de previdência foi adaptado para incluir mecanismos automáticos de ajuste de benefícios conforme a expectativa de vida.

O Brasil, por outro lado, ainda luta para implementar reformas abrangentes que incluam ajustes automáticos nos parâmetros previdenciários. 

A reforma de 2019 trouxe mudanças significativas, como a elevação da idade mínima de aposentadoria para 62 anos para mulheres e 65 anos para homens, mas especialistas alertam que essas mudanças podem ser insuficientes diante do ritmo acelerado do envelhecimento. 

Aqui algumas soluções debatidas entre o mercado:

Ajuste Automático da Idade de Aposentadoria: 

A introdução de mecanismos que ajustem automaticamente a idade de aposentadoria conforme o aumento da expectativa de vida poderia equilibrar o sistema. 

Essa prática, adotada na Alemanha, ajuda a manter a proporção de tempo de contribuição em relação ao tempo de recebimento de benefícios estável.

Capitalização Parcial: A criação de um sistema de capitalização complementar, como ocorre no Chile, onde uma parte das contribuições é investida em fundos de capitalização, pode reduzir a dependência do sistema de repartição e criar um colchão financeiro para o futuro.

Revisão dos Benefícios e Fatores Previdenciários: 

O fator previdenciário no Brasil poderia ser revisado para refletir com mais precisão a expectativa de vida atualizada, ajustando os benefícios para serem mais sustentáveis ao longo do tempo.

Impactos nos serviços de saúde: aumento da demanda e custos elevados

Além da pressão sobre a previdência, o aumento da expectativa de vida também impacta diretamente os serviços de saúde no Brasil. 

Dados do Ministério da Saúde mostram que idosos utilizam serviços médicos e hospitalares em uma frequência muito superior à de outras faixas etárias. 

Entre 2013 e 2023, o número de internações hospitalares de pessoas com mais de 60 anos aumentou 25%, enquanto as de pessoas com menos de 60 anos cresceram apenas 5% no mesmo período.

O envelhecimento da população aumenta a prevalência de doenças crônicas como hipertensão, diabetes e problemas cardiovasculares, que requerem tratamentos contínuos e de alto custo. 

O Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) aponta que os gastos com assistência médica para beneficiários de planos de saúde com mais de 60 anos são, em média, quatro vezes maiores do que para a população mais jovem. 

Isso reflete não apenas em um aumento direto dos custos com saúde, mas também em uma maior pressão sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), que enfrenta desafios estruturais e de financiamento.

Comparando com países desenvolvidos, o Brasil ainda está em desvantagem. Na Suíça, por exemplo, o sistema de saúde é altamente regulado, com forte ênfase na prevenção e na gestão de doenças crônicas, o que ajuda a controlar custos. 

No Reino Unido, o Serviço Nacional de Saúde (NHS) adota uma abordagem integrada de cuidados para idosos, com programas específicos que combinam saúde e assistência social para reduzir internações hospitalares desnecessárias.

Modelagem de Riscos de Saúde: 

Ferramentas atuariais podem ser usadas para prever custos futuros e alocar recursos de maneira mais eficiente. Modelos preditivos baseados em dados demográficos e de saúde podem ajudar na tomada de decisões sobre onde investir em prevenção e tratamento.

Seguros de Longo Prazo: A promoção de seguros de longo prazo para cuidados de saúde pode aliviar a carga do sistema público. 

Em muitos países, seguros para cuidados de longo prazo são incentivados, ajudando a compartilhar os custos com a iniciativa privada.

Gestão Integrada de Doenças Crônicas: Investir em programas que integrem cuidado domiciliar e telemedicina pode reduzir internações desnecessárias, otimizar o uso de recursos e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. 

A França, por exemplo, adota uma abordagem integrada que envolve médicos, enfermeiros e cuidadores domiciliares.

Reformas necessárias para enfrentar o desafio

Para lidar com o impacto do envelhecimento populacional, o Brasil precisará adotar uma série de reformas estruturais nos sistemas de assistência social. 

A primeira medida urgente é a revisão dos critérios de elegibilidade e dos parâmetros de cálculo dos benefícios previdenciários, incluindo a adoção de um mecanismo automático de ajuste da idade mínima conforme a expectativa de vida, similar ao modelo adotado na Alemanha.

No setor de saúde, é necessário aumentar o foco na prevenção e na atenção primária, além de fortalecer as políticas públicas voltadas para o envelhecimento ativo. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que investimentos em programas de prevenção podem reduzir significativamente os custos com saúde a longo prazo, ao prevenir ou retardar o aparecimento de doenças crônicas.

Outra reforma necessária é a reestruturação do financiamento da saúde, buscando novas fontes de recursos que sejam sustentáveis a longo prazo. 

Países como o Japão investem em tecnologias de telemedicina e cuidados domiciliares para reduzir a pressão sobre os hospitais, uma prática que poderia ser mais explorada no Brasil.

Um futuro desafiador, mas com possibilidades de adaptação

O envelhecimento acelerado da população brasileira apresenta desafios consideráveis para os sistemas de assistência social. 

A experiência de países desenvolvidos demonstra que, embora o envelhecimento seja inevitável, as políticas públicas bem planejadas e as reformas estruturais podem mitigar os impactos sobre as finanças públicas e a qualidade de vida dos idosos.

Nos países desenvolvidos, a resposta ao aumento da expectativa de vida inclui políticas proativas e sistemas híbridos de financiamento. 

A Noruega, por exemplo, utiliza um fundo soberano alimentado por recursos do petróleo para garantir a sustentabilidade do seu sistema previdenciário, enquanto o Japão promove ajustes periódicos nos benefícios pagos aos aposentados, de acordo com mudanças na demografia.

O Brasil, no entanto, enfrenta limitações fiscais que dificultam a implementação de reformas mais profundas. 

Além disso, as tentativas de reformar o sistema de previdência enfrentam forte resistência política e social, o que retarda a adaptação às novas realidades demográficas.

O caminho envolve, portanto, a adoção de práticas que promovam a sustentabilidade dos sistemas, incluindo ajustes automáticos conforme a longevidade, maior foco na prevenção de doenças e a busca por fontes alternativas de financiamento. 

Sem essas adaptações, o país corre o risco de ver seu sistema de proteção social entrar em colapso sob o peso de uma população que, felizmente, vive cada vez mais, mas que também exige mais do Estado.

Fontes:

  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
  • Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
  • Secretaria de Previdência
  • Ministério da Saúde
  • Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS)
  • Organização Mundial da Saúde (OMS)
Tel: 11 5044-4774/11 5531-2118 | suporte@suporteconsult.com.br