Inteligência artificial que desenha vai sacudir o mundo


Inteligência artificial que desenha vai sacudir o mundo

Você digita uma frase, e a IA materializa as palavras em imagens.

A tecnologia mais disruptiva da atualidade não é nem o metaverso nem a Web 3. A revolução que está sendo cozinhada para valer —com profundo impacto social, econômico e político— está ocorrendo no campo da inteligência artificial. 

Trata-se da disseminação das ferramentas de criação chamadas "generativas".

Elas funcionam da seguinte forma: você digita uma frase descrevendo alguns elementos, e a inteligência artificial, como que por mágica, cria imagens materializando as palavras que você acabou de escrever. 

Por exemplo, para escrever este artigo, digitei a seguinte frase: "Professor esnobe e estúpido sentado em um cacto comendo cana de açúcar".

Na mesma hora a inteligência artificial produziu a imagem automaticamente. Representou o "professor esnobe e burro" como um homem de meia-idade com barba e bigode, usando óculos, terno e gravata. 

Esse professor está sentado sobre um cacto verde com espinhos, enquanto sua mão vai em busca de um galho marrom.

Vale notar que não especifiquei nenhum dos elementos da imagem. Tudo que entrei no sistema foi a frase acima. 

A inteligência artificial fez todo o resto, materializando com base em seus algoritmos e no seu banco de dados a imagem que melhor representava esses elementos na sua "visão".

A plataforma que utilizei chama-se Dall-E (uma corruptela de "Dali", em homenagem ao surrealista catalão). Ela foi desenvolvida pela empresa Open AI, que possui investimentos de pesos-pesados, inclusive a Microsoft. 

Até há uma semana a plataforma era fechada só para especialistas e convidados.

Há alguns dias ela se tornou pública e já conta com 1,5 milhão de usuários. Não será surpresa se em pouco tempo atingir algumas centenas de milhões.

Essas ferramentas podem gerar questões hoje difíceis de imaginar. A primeira é que democratizam habilidades restritas a grupos específicos. 

Por exemplo, o número de pessoas capazes de desenhar bem é um contingente delimitado e relativamente pequeno. 

Com essas ferramentas, a habilidade de desenhar se democratiza. Alguém totalmente inábil passa a conseguir criar imagens satisfatórias usando inteligência artificial.

O segundo ponto é que essa democratização pode desvalorizar o trabalho especializado de quem desenha. Isso reduz empregos, oportunidades e trivializa uma habilidade humana admirável.

Outro problema é o uso dessas plataformas para finalidades maliciosas, incluindo fake news e manipulação social. 

Nesse sentido, o Dall-e possui salvaguardas. Não permite a criação de imagens violentas, de cunho sexual, difamatório ou baseadas em pessoas comuns ou personalidades políticas.

No entanto, já existem outras plataformas concorrentes que não possuem esses filtros e permitem o uso irrestrito desse tipo de ferramenta para a criação de pornografia, deep fakes ou violência, de modos inconcebíveis. 

Muitas dessas imagens já começam a inundar a internet e as mídias sociais. Além disso, em breve essas ferramentas poderão ser usadas não apenas para gerar imagens mas também música e filmes autogerados por inteligência artificial.

Tudo isso é sinal de que o mundo está prestes a ser sacudido de novo por uma tecnologia nova, com consequências difíceis de prever.

RONALDO LEMOS - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

Tel: 11 5044-4774/11 5531-2118 | suporte@suporteconsult.com.br