Os desdobramentos da Operação LavaJato começam a chegar ao
mercado de seguros, com o aumento de notificações sobre problemas em
obras, principalmente as da Petrobras, o que pode vir a acionar o seguro
garantia. Por ora, o volume de indenizações ainda não subiu, mas é uma
questão de tempo, segundo executivos do mercado ouvidos pelo Valor.
O seguro garantia
cobre a entrega de obras e serviços conforme o contrato e os principais
contratantes são as empreiteiras. Envolvidas nas investigações da Polícia
Federal e proibidas de fazer novos negócios com a Petrobras, essas
companhias começam a ter problemas de caixa e podem, segundo analistas, atrasar
ou mesmo abandonar alguns projetos, casos que acionariam as apólices. O
sinal amarelo se acendeu depois que a construtora OAS deixou de pagar
juros de títulos de dívida local e internacional para proteger seu caixa.
As notificações às
seguradoras ou “aviso de expectativa de sinistro”, no jargão do mercado
costumam ser um indicador do aumento do volume de indenizações, pois
precede o pedido formal de ressarcimento. Nelas, o segurado descreve
problemas relacionados ao descumprimento do contrato. Se eles não forem
resolvidos dentro de um prazo acordado entre as partes, a seguradora é
acionada para indenizar os prejuízos. São essas notificações que começaram
a aumentar, segundo fontes.
As três maiores
seguradoras que atuam no ramo de garantia no país são J. Malucelli, BTG Pactual
e Austral. Procuradas, nenhuma das três quis comentar o assunto. O
principal estresse, no entanto, está sendo observado entre as resseguradoras,
que estão mais expostas. Neste ramo, a maior parte do risco é repassada
pelas seguradoras para as resseguradoras em contratos automáticos
de resseguro ou seja, a seguradora vai colocando riscos ali até o
limite acordado, sem precisar de autorização prévia. Dessa forma, as
resseguradoras não sabem ao certo ao risco de quais empresas estão expostas. “O
mercado internacional de resseguros está super nervoso”, diz o executivo
de uma seguradora.
Segundo dados da
Superintendência de Seguros Privados (Susep), as seguradoras do ramos retêm, em
média, 30% dos riscos. Os outros 70% são repassados a resseguradoras. O
que elas estão fazendo é pedindo para as seguradoras abrirem suas carteiras
para ter mais informações sobre seu risco. O segmento de garantia
faturou cerca de R$ 1,3 bilhão em 2014. A estrutura da apólice de
garantia é diferente de outros tipos de seguros, pois envolve três pontas. A
empresa prestadora de serviços (o tomador) contrata o seguro para garantir
ao cliente (o segurado) que vai cumprir os prazos e valores do contrato,
isso tudo por meio da seguradora.
Esse seguro
normalmente é pedido em licitações públicas e concorrências
privadas. Para isso, as seguradoras analisam a situação financeira da
empresa “tomadora” do seguro, analisando se tem capacidade para cumprir o
contrato. E é justamente a capacidade financeira das empreiteiras que está em
xeque, uma vez que elas podem enfrentar dificuldade de financiamento
bancário e no mercado de capitais. Para se proteger, a seguradora pede
contragarantias, que pode ser desde um contrato em que a empresa
se compromete a ressarcir a seguradora caso provoque sinistros até
garantias físicas. “O problema é que, se a empresa quebrar, muitas dessas
contragarantias devem virar pó e as seguradoras terão que entrar na fila
dos credores”, diz um executivo.
No caso dos
fornecedores da Petrobras, desde o agravamento da crise a estatal interrompeu o
pagamento dos aditivos feitos aos contratos, o que agravou o problema
financeiro das empreiteiras. Há base jurídica, porém, que diz que se o
segurado (no caso a Petrobras) deixar de pagar o tomador (as empreiteiras) isso
não é sinistro. Mas, segundo o executivo de uma seguradora que está
regulando um sinistro com a estatal, existem casos diversos, inclusive
aqueles em que a culpa é do prestador do serviço. “Não é preto no branco”, diz.
Segundo ele, a estatal tem acionado algumas apólices, mas quando a
seguradora entra na história para fazer o meio de campo a companhia tem
sido pouco aberta e a interlocução, difícil. Procurada, a Petrobras informou
que “está em dia com suas obrigações contratuais, em especial as de
pagamento”. Sobre o acionamento do seguro, diz que “é realizado estritamente
dentro das regras do contrato”.
Fonte: Valor Econômico