Poupar e gastar se conjugam da mesma
forma, mas nos conduzem por caminhos muito diferentes na vida. Da mesma forma,
poupar e investir são coisas distintas.
Quer um exemplo? Imagine
alguém que conseguiu guardar R$ 150 mil. Na hora de aplicar o dinheiro, ele
pensa em duas alternativas: depositar na caderneta de poupança ou investir numa
previdência privada. Ao cabo de cinco anos, se depositou na caderneta de
poupança, vai ter R$ 200 mil e ganhou 33%. Já se investiu numa previdência
privada, vai ter R$ 275 mil e ganhou incríveis 83%.
Apesar de levantamentos do
Banco Central mostrarem que, no primeiro semestre deste ano, a caderneta de
poupança captou um valor 38% menor que o do mesmo período de 2013 – o mais
baixo no primeiro semestre desde 2011 –, tento entender por que tanta gente põe
tanto dinheiro na caderneta de poupança. São mais de R$ 500 bilhões aplicados.
Como o próprio nome diz, a
caderneta de poupança serve para poupar e não para investir. Com rendimento de
TR mais 6% ao ano e a TR beirando zero, sobram os 6% que são exatamente a
inflação brasileira. Ora, então, o resultado final é aplicar para ter de
rendimento a inflação. Para o dinheiro não perder seu poder aquisitivo e,
portanto, recurso para uma emergência ou para o curto prazo. Agora, sem nenhum
risco, não seria melhor comprar títulos do governo, que rendem inflação mais
uma taxa de juros? Por que, então, as pessoas preferem aplicar suas reservas em
uma coisa que rende bem menos?
Olha, só há uma explicação:
simplicidade. Talvez outra: falta de educação financeira. É muito simples
aplicar na poupança e seu funcionamento é de conhecimento público há décadas.
Uma coisa praticada durante muito tempo incorpora-se à cultura e se sedimenta.
Se caderneta de poupança é tão bom, por que bancos não investem nela?
Agora, há gente mais antenada
que muitas vezes me pergunta no que investir, e eu devolvo com outra pergunta:
qual o objetivo? Sim, porque não basta poupar. É preciso ter claros a
finalidade e o momento em que vamos precisar do dinheiro.
Para ajudar, a primeira
consideração a fazer é: a poupança é para o curto, médio ou longo prazo? Se
errarmos nisso, a tendência é que, ao interromper um investimento, paguemos
mais imposto e deixemos de lucrar o inicialmente previsto. Curto prazo é até
dois anos: é o dinheiro do qual podemos precisar a qualquer hora. Para uma
emergência, como ficar desempregado. Aí, sim, a caderneta de poupança e os
fundos de renda fixa são o destino desse dinheiro. Médio prazo é entre dois e
uns sete anos. É dinheiro para comprar uma casa, um carro novo, e o destino
dessa poupança deve ser fundos de investimento mais agressivos, como
multimercados. Já longo prazo é mais de sete anos. É dinheiro de que não vamos
precisar, nem podemos mexer, em nenhuma situação além daquela para a qual foi
canalizado. Como o dinheiro para a aposentadoria.
A notícia boa é que, enquanto
caem os depósitos na poupança, crescem os da previdência privada. Apenas em
maio, a diferença entre depósitos e resgates alcançou R$ 3,7 bilhões, ou seja,
um avanço de 60% sobre o resultado de abril.
E um último conselho, este um
velho conhecido, para aqueles que preferem a comodidade da caderneta de
poupança: nunca coloque todos os ovos em um único cesto! “Empregue o seu
dinheiro em bons negócios e com o tempo você terá o seu lucro. Aplique-o em
vários lugares e em negócios diferentes porque você não sabe que crise poderá
acontecer no mundo.” Parece dica de grandes especialistas do mercado
financeiro. Sabe há quantos anos isso foi escrito? Há mais de 3 mil anos, no
Antigo Testamento.
Renato
Follador - especialista em previdência e finanças pessoais.
Fonte:
jornal Gazeta do Povo / PR