Os especialistas sabem há muito
tempo que as pessoas ricas vivem mais tempo que as pobres.
Mas um corpo cada vez maior de dados mostra um padrão mais
perturbador: apesar dos grandes avanços na medicina, na tecnologia e na
educação, a diferença de longevidade entre os americanos de alta e de baixa
renda aumentou acentuadamente.
Os pobres estão perdendo terreno não apenas em renda, mas também
em anos de vida, a mais básica medida de bem-estar.
No início da década de 1970, um homem de 60 anos na metade
superior da escala de renda poderia esperar viver 1,2 ano a mais que um homem
da mesma idade na metade inferior, segundo a Administração da Seguridade
Social. Já em 2001, ele poderia esperar viver 5,8 anos a mais que seu
conterrâneo pobre.
Uma nova pesquisa contém números ainda mais surpreendentes.
Economistas do Instituto Brookings, em Washington, descobriram que para os
homens nascidos em 1920 havia uma diferença de seis anos na expectativa de vida
entre os 10% no topo da renda e os 10% no patamar mais baixo. Para os homens
nascidos em 1950, essa diferença mais que duplicava, para 14 anos.
Para as mulheres, a lacuna cresceu de 4,7 anos para 13.
“Houve essa enorme ampliação”, disse Gary Burtless, um dos
autores do estudo.
É difícil apontar uma causa principal,
mas pesquisadores de saúde pública sugerem algumas
respostas.
Nas últimas décadas, o cigarro ajudou a aumentar a disparidade,
disse Andrew Fenelon, pesquisador dos CDC (sigla em inglês para Centros de
Controle e Prevenção de Doenças). Jessica Ho, da Universidade Duke, na Carolina
do Norte, e Fenelon calcularam que o fumo era responsável por entre um terço e
um quinto da diferença de expectativa de vida entre homens com formação
superior e homens com apenas formação secundária. Para as mulheres, chegava a
um quarto.
A obesidade é mais ambígua.
A lacuna entre índices de obesidade para os que ganham muito e
os que ganham pouco diminuiu de 1990 para 2010, segundo a Academia Nacional de
Ciências.
Em 2010, cerca de 37% dos adultos na camada inferior da escala
eram obesos, comparados com 31% na faixa superior.
O acesso limitado a tratamentos de saúde, surpreendentemente,
responde por poucas mortes prematuras nos Estados Unidos.
No centro da disparidade, disse Elizabeth H., Bradley,
professora de saúde pública na Universidade Yale, estão as desigualdades
econômicas e sociais, “coisas que a medicina de ponta não pode consertar”.
A expectativa de vida para os 10% mais pobres dos homens
assalariados nascidos em 1920 era de 72,9 anos, comparada com 73,6 anos dos
nascidos em 1950, segundo os pesquisadores do Brookings.
Para os 10% mais ricos, a expectativa de vida saltava de 79,1
anos para 87,2 anos.
A crescente diferença de longevidade significa que benefícios
como a seguridade social são pagos de maneira ainda mais desproporcional aos
mais ricos, porque eles vivem mais para recebê-los.
No ano passado, a Academia Nacional de Ciências concluiu que a
disparidade em expectativa de vida está tornando os programas de cidadania dos
EUA, como a Seguridade Social e o Medicare, cada vez mais injustos com os
pobres, e sugeriu que as autoridades considerem mudanças políticas para
enfrentar o problema.
Más condições de saúde para os americanos de baixa renda
arrastaram os EUA para os menores índices de expectativa de vida entre os
países ricos.
A Administração da Seguridade Social descobriu, por exemplo, que
a expectativa de vida dos homens americanos mais ricos aos 60 anos era pouco
menor que os índices da Islândia e do Japão, onde as pessoas vivem mais. Os
americanos no quarto inferior da escala salarial, porém, se classificavam um
grau acima da Polônia e da República Tcheca.
Muitos pesquisadores acreditam que a diferença de
longevidade começou a se expandir há cerca de 40 anos, quando a desigualdade de
renda começou a crescer.
“Há grandes faixas da população que não estão desfrutando dos
ganhos notáveis que os demais estão tendo em longevidade”, disse Christopher J.
L. Murray, do Instituto de Métrica e Avaliação de Saúde em Seattle (EUA).
“Nem todo mundo compartilha a mesma prosperidade e o mesmo progresso.”
Sabrina Tavernise – jornalista
do New York Times
Fonte: jornal NYT