A menos de sete meses das eleições, as campanhas eleitorais
estão a pleno vapor, como as imagens desajeitadas dos políticos pulando
Carnaval deixaram claro. Passado o reinado de Momo, uma discussão séria dos
problemas brasileiros, com propostas e soluções, viria bem a calhar, mas não
está acontecendo.
O que os presidenciáveis deveriam discutir? Assuntos não faltam. Só no campo econômico, propostas para melhorar muitas áreas em que o Brasil vai mal
deveriam abundar – olha o vírus carnavalesco aí de novo.Até quando nós,
brasileiros, vamos pagar impostos de países ricos e receber serviços públicos
de países pobres? Os impostos aqui são padrão FIFA, já os serviços públicos…
Em dois países emergentes a carga tributária é maior do que aqui; em outros 153 países,
ela é menor. Dos mais de R$ 5 trilhões em riqueza que o país vai gerar neste ano,
quase R$ 2 trilhões serão desviados das famílias – onde poderiam alimentar o consumo – e das empresas - onde poderiam virar investimentos – para o setor público, através de impostos,
taxas e contribuições. Onde vai parar todo este dinheiro?
Seria na
infraestrutura? De acordo com o Índice de Competitividade Global (ICG) do Fórum
Econômico Mundial, que compara diversos indicadores entre 148 países,
ranqueando-os do melhor ao pior, aparentemente não. Em qualidade de
infraestrutura, o Brasil está em 103º em ferrovias, 120º em rodovias, 123º em aeroportos
e 131º em portos. Dos quase R$ 2 trilhões que pagaremos em impostos, apenas
pouco mais de R$ 100 bilhões serão investidos em infraestrutura. Um valor
parecido será desviado por corrupção.
Ainda sobra mais de R$
1,7 trilhão. Vai para a educação? O ICG sugere que não. Poucos vão à escola. O Brasil
está em 69º em acesso à educação básica e 85º em acesso à universidade. E quem
vai aprende pouco. Estamos em 121º em qualidade de ensino universitário e 129º
em qualidade de ensino básico.
Neste caso, o dinheiro
deve ir para a saúde. Será? Somos o 74º país em mortalidade infantil e o 78º em
expectativa de vida.
Então, deve estar
sendo investido em pesquisa, desenvolvimento, inovação, produtividade e competitividade? Não parece. Estamos
em 112º em número de cientistas e engenheiros em relação ao tamanho da
população, 136º em qualidade de ensino de matemática e ciências, e 145º em
total de exportações em relação ao tamanho da economia.
Onde está o dinheiro
dos nossos impostos, então? Em parte sendo investido em programas sociais do
governo. Em uma parte muito mais significativa, mal gasto ou simplesmente
consumido pela própria máquina pública.
Pagamos por um dos
governos mais caro do mundo, mas recebemos um dos mais ineficientes. Estamos em
124º em crimes e violência, 126º em tarifas de importações, 132º em desperdício
de recursos públicos, 133º em desvio de recursos públicos, 138º
em impostos sobre trabalho, 139º em custo de processos
alfandegários, 144º em números de dias para abrir uma empresa e 147º em custo
da regulamentação governamental.
Em plena campanha
eleitoral, onde estão os projetos para mudarmos radicalmente esta situação?
Pelo jeito, no mesmo lugar que os R$ 2 trilhões que pagaremos em impostos neste
ano. Deve ser por isso que o Brasil é só o 136º país do mundo em confiança nos políticos.
Ricardo Amorim - apresentador do Manhattan Connection da Globonews, colunista da revista IstoÉ,
presidente da RicamConsultoria.