Turbulência
nos mercados gera grandes oscilações no rendimento.
Além de sacudir as Bolsas de Valores globais, a pandemia de coronavírus levou
fundos, inclusive de renda fixa, a grandes oscilações em sua rentabilidade
mensal, alguns com perdas expressivas.
O fundo de renda fixa da XP de longo prazo, por exemplo,
teve perda de 3,12% em março e ganho de 2,8% entre abril e maio. O fundo
multimercado —fundo que combina aplicações conservadoras com ativos mais
arriscados— Verde perdeu 11,46% em março e subiu 14,2% entre abril e maio, e o
fundo de ações Dynamo Cougar caiu 32% em março e se valorizou 33,2% nos dois
meses seguintes.
Segundo especialistas, é comum que fundos tenham grandes
oscilações no rendimento no curto prazo, especialmente em momentos de crise.
Uma mesma carteira pode decolar ou afundar, a depender do momento econômico.
“Às vezes uma mesma estratégia pode dar prejuízo e
depois um retorno. Não necessariamente o fundo que teve perda vai ter
recuperação no mês seguinte. É preciso esperar um tempo”, diz Marcelo Toledo,
economista-chefe da Bradesco Asset Management.
Toledo aconselha que o investidor não resgate ou invista
no calor do momento. “Um mês não é um período razoável para tomar a decisão”
Em março, quando o mercado financeiro precificou o
impacto econômico da Covid-19, ações tiveram fortes quedas, enquanto as curvas
de juros futuros subiram.
Juros futuros são taxas de juros esperadas pelo mercado
nos próximos meses e anos com base na evolução dos indicadores econômicos
atuais.
O movimento fez fundos atrelados a ações e outros ativos
de renda variável terem perdas expressivas, bem como os fundos que apostavam em
juros futuros mais baixos. Os que estavam comprados em juros futuros mais altos
ganharam.
Agora, o cenário se inverteu. Em um ambiente de retração
econômica e deflação, o Banco Central sinaliza que juros baixos vieram para
ficar —o mercado precifica que a Selic caia de 3% para 2% neste ano e permaneça
neste patamar até o início de 2021— e a Bolsa de Valores se recupera com a expectativa de retomada econômica.
Ou seja, a mesma estratégia que pode ter feito um fundo
ter forte perda em março pode levar a uma expressiva valorização em abril e
maio.
Além disso, os gestores constantemente fazem mudanças na
carteira do fundo, em busca de maior rentabilidade. Caso o fundo tenha um
resultado melhor do que o seu índice de referência, como o Ibovespa, é cobrada
uma taxa de performance do cotista para bonificar o gestor.
“Há fundo multimercado que sobe 9% e outro que cai 10%,
fundo de ação que sobe 10%, enquanto outro cai 30%, por isso, é um grande risco
o investidor apostar em um só fundo”, diz José Raymundo de Faria Júnior,
planejador financeiro certificado (CFP) pela Planejar.
A dica é investir em um fundo que investe em diversos
fundos, ou comprar cotas de fundos de diversos tipos (renda variável,
multimercado, renda fixa) e estratégias (ações, imóveis, debêntures, títulos
públicos etc.), com foco no longo prazo. “Pelo menos, de dois a três anos de
horizonte de investimento, mas você pode dar sorte e o fundo ir bem em um curto
prazo”, diz Faria Júnior.
A escolha deve ser com base no perfil de risco do
investidor —os mais conservadores devem escolher fundos com menos ativos de
risco— e de olho no histórico do gestor.
“É bom acompanhar o gestor do fundo nas redes sociais,
ler as cartas de gestão e entender um pouco a estratégia do fundo. Um bom
resultado no passado não garante a qualidade do investimento”, diz o
planejador.
O investidor também deve estar atento à hora de
investir. “Sair de que um fundo que está caindo e entrar no que está subindo
tem grande chance de dar errado”.
Na hora de analisar a rentabilidade, é preciso comparar
com fundos que tenham a mesma estratégia de investimento. No caso dos
multimercados, por exemplo, há fundos mais voltados a ações e outros a títulos
de renda fixa.
“O ideal sempre é tentar analisar janelas e períodos
mais longos. Olhar um único mês ou conjuntos de poucos meses curtos pode levar
a conclusões que refletem a natureza do fundo” diz Pedro Rudge, diretor da
Anbima. Ele indica analisar a rentabilidade do fundo em, no mínimo, um ano.”
Quanto mais longa a janela, mais rica a conclusão”.
COMO SABER SEU PERFIL DE INVESTIDOR
O conservador preza estabilidade do investimento. Ele
quer saber qual será o rendimento ao fim do mês, sem arriscar perder dinheiro
ou ter surpresas no meio do caminho. No passado, mantinha toda a carteira em
renda fixa, mas, com a queda da rentabilidade, analistas recomendam uma pequena
alocação em fundos multimercado.
O moderado aceita mais oscilações nos investimentos,
especialmente a longo prazo, mas também preza a garantia do retorno. Sua
carteira é mais diversificada do que a do conservador, com maior espaço para a
renda variável.
O arrojado está mais disposto a correr risco em nome do
retorno maior. Ele tem mais tranquilidade para lidar com oscilações bruscas do
mercado de renda variável, que ocupam boa parte da carteira.
O agressivo não tem medo de perder em algumas aplicações
para ganhar em outras. Ele tem sangue frio para aguentar o tranco de uma queda
brusca de ações.
É importante destacar que investimentos devem ser
encarados como de médio a longo prazo. Investimentos com retornos de curto
prazo podem ser muito arriscados e levar a prejuízos.
COMO DIVERSIFICAR INVESTIMENTOS
Depende do apetite a risco, pessoas de perfil
conservador devem ter a menor parte da carteira em ações, por exemplo. Veja
diferentes tipos de investimento:
Acompanham a taxa de juros. Se o juro sobe, a
rentabilidade aumenta; se ele cai, o ganho diminui. São os investimentos mais
seguros, e mesmo as pessoas mais arrojadas têm uma parcela de seu dinheiro
nesses produtos. CDBs de bancos pequenos, vendidos em corretoras, pagam mais
que os grande bancos.
A aplicação é longo prazo, e o dinheiro fica parado até
o vencimento.
Opções: poupança, CDBs, LCA e LCI, Tesouro Selic e
fundos DI
Têm uma taxa de juros combinada no momento da aplicação,
que não muda mesmo que a Selic suba ou caia. Há risco em caso de venda
antecipada e é o primeiro patamar de diversificação.
Opções: Tesouro prefixado e CDBs de bancos pequenos
São investimentos que pagam uma taxa de juros fixa mais
a variação da inflação no período. Mudam de preço todo dia, então, para evitar
risco perdas, o investidor precisa mantê-los até o vencimento.
Opções: Tesouro IPCA+ e CDBs de bancos pequenos
Investem em mais de um tipo de ativo. Geralmente
combinam aplicações conservadoras, como títulos públicos, com ativos mais
arriscados, que podem ser dívidas em empresas, ações e dívidas de empresas no
exterior. Para saber no que um fundo investe, é preciso ler o informativo
Ações são a menor fração de capital de uma empresa,
podendo ser negociada em Bolsa. Este tipo de investimento é indicado para
pessoas de perfil arrojado. É possível escolher papéis individualmente ou
investir por meio de fundos de ações ou que acompanham um índice (ETFs).
Fonte:
Júlia moura, jornal FSP