O
processo criativo é um mistério, sob muitos aspectos, mas existem técnicas
comprovadas para estimulá-lo. Comece com uma sala bagunçada. Em um país escuro
e frio. E não se esqueça de aprender a tocar um instrumento.
Hoje muitas empresas adotam design minimalista em seus
escritórios, mas professores da Universidade de Minnesota especulam que esses
espaços bem-arrumados e organizados encorajam o conformismo. A professora de
marketing Kathleen D. Vohls escreveu no "New York Times" que as
pessoas sujeitas à desordem têm maior tendência a "evitar o convencional e
favorecer rumos novos".
Assim, ela e dois colegas criaram experimentos para testar se um
ambiente bagunçado e confuso fomentava ou não a inovação. As pessoas no
experimento que trabalhavam numa sala anarquizada demonstraram mais ideias
criativas quando lhes foi pedido que imaginassem novas maneiras de utilizar
bolas de pingue-pongue.
"É possível que espaços limpos sejam convencionais demais
para permitir que a inspiração flua", escreveu Vohls.
Até mesmo a presença de bagunça fora do espaço ocupado pode ajudar.
No Vale do Silício, a empresa de games Electronic Arts, interessada em afastar
a concorrência acirrada de games jogados em aparelhinhos de mão, conta com seu
estúdio de desenvolvimento na Suécia, chamado Digital Illusions Creative
Entertainment (Dice), que está trabalhando em uma nova versão da série
sangrenta e dramática "Battlefield". A Suécia não se envolve em uma
guerra desde a era napoleônica, mas sempre foi campo fértil para o surgimento
de ases em tecnologia. E o país é escuro e frio.
O gerente da Dice, Karl Magnus Troedsson, disse ao
"NYT": "Aqui é escuro, chove e neva nove meses por ano. Ficar
sentado dentro de casa com os amigos fazendo coisas com computadores é um hobby
aconchegante."
Outra maneira de estimular o pensamento criativo é estudar
música seriamente, escreveu Joanne Lipman no "NYT". Muitas pessoas de
sucesso lhe disseram que dominar um instrumento musical as ajudou a abrir a
cabeça e aprimorou outras qualidades: "Colaboração. A capacidade de ouvir.
Uma maneira de pensar que entrelaça ideias díspares. A capacidade de focar
sobre o presente e o futuro simultaneamente."
James Wolfensohn, ex-presidente do Banco Mundial, já tocou
violoncelo no Carnegie Hall e disse a Lipman que a música funciona como uma
"linguagem oculta". Quando ele presidiu o banco, viajou a mais de cem
países, com frequência assistindo a concertos (e ocasionalmente dando uma canja
num violoncelo emprestado). Ele disse a Lipman que isso o ajudou a compreender
"a cultura das pessoas, algo diferente da folha de balanço delas".
E não é preciso tocar bem. Woody Allen, que se apresenta
semanalmente em Nova York e já viajou em turnês internacionais com sua banda de
jazz de Nova Orleans, diz que tocar o clarinete é algo que o distrai e para o
qual não tem talento especial. "Estudo todos os dias e continuo
ruim."
Tom Brady – jornalista do New York Times
Fonte:
suplemento NYT do jornal FSP