Brasileiro
deve ver jogos, mas sem fazer grandes comemorações com amigos e família
Matéria
desta Folha, que comprova desinteresse recorde (53%) em relação à Copa,
não surpreende. Os brasileiros estão maduros o suficiente para perceber que outra
grande competição já começou a ser travada, e se acentuará tão logo termine a
Copa do Mundo: a do esforço para chegar até as eleições, em outubro, com
mínimas condições de sobrevivência e consumo.
A
batalha do consumidor será para superar, no dia a dia, os efeitos do movimento
de caminhoneiros, empresas e políticos; as ações
dos especuladores no mercado do dólar, e o estresse que antecede a votação para
presidente.
Até
agora, a economia anêmica e o absurdo índice de desemprego impediram maior
contaminação dos preços. Quem garante que isso continuará indefinidamente?
Produtos
como óleo de soja, todos os derivados do trigo (farinha, pão, massas,
biscoitos), açúcar, combustíveis, eletroeletrônicos, medicamentos e veículos
são afetados, em maior ou menor grau, pela escalada do dólar.
Sem
contar, é claro, as viagens ao exterior – a lazer, estudo ou negócios –, que em
muitos casos não podem ser evitadas. Este ano, o dólar já subiu quase 20%, fruto de uma
especulação criminosa e covarde, pois há reservas cambiais de sobra.
Frente
a este pesadelo de uma noite de inverno, os consumidores devem ficar duplamente
alertas. Têm de comparar cada preço e adiar compras menos urgentes, além
de substituir produtos e serviços quando necessário e possível.
Essa
postura é totalmente diferente daquela de ‘fiscais do Sarney’, em que o governo
da época tentou terceirizar à população a responsabilidade pela
manutenção de um tabelamento de preços natimorto. Também pagamos até hoje os
custos de barbeiragens econômicas do governo anterior, como o adiamento dos
reajustes dos combustíveis, a desoneração de algumas áreas da economia em
detrimento de outras e cofres abertos sem lastro.
Como
sofrimento pouco é bobagem, ficamos sabendo agora que há uma corrida maluca
por cargos nas agências reguladoras. Imaginem o que ocorrerá devido à
disputa política em agências encarregadas de arbitrar relações entre
consumidores e empresas, em áreas como saúde, energia e telecomunicações.
Enfim,
as notícias não são boas e enfraquecem o interesse no principal campeonato
mundial de futebol. Dificilmente algum brasileiro não assistirá às partidas da
seleção. Daí a reunir família, vizinhos e colegas para amplas comemorações vai
uma grande distância. Estamos mais preocupados em sobreviver a
este cruel 2018.
A não ser que as conquistas da
seleção brasileira de futebol sejam tão animadoras que mudem este estado de
espírito. Torcemos por isso, porque mau humor não melhora economia nem
política.
Maria Inês Dolci - advogada, é especialista em direitos do
consumidor
Fonte: coluna jornal FSP