Contra o racismo, educação
Proposta de
incluir metas de equidade racial no novo PNE é boa notícia.
Algumas notícias relacionadas à temática racial
chamaram a nossa atenção nesta semana.
Uma delas foi a iniciativa de um grupo
de entidades de propor a inclusão de metas de equidade racial no novo PNE
(Plano Nacional de Educação), que vai estabelecer os objetivos a
serem perseguidos pelo país nessa área até 2034.
O jornal também nos lembra de que, há dez anos,
quando foi aprovado o primeiro PNE, grupos conservadores conseguiram retirar
todas as menções à igualdade racial, de gênero e de orientação sexual.
A segunda notícia que nos chamou a atenção é a de
que a Justiça do Rio de Janeiro aceitou a denúncia dos Ministério Público
daquele estado e tornou rés em um processo por injúria racial as duas mulheres
que deram bananas e macacos de pelúcia para crianças negras, em maio de 2023.
Essa ação das influenciadoras visava humilhar as
crianças, atacar sua dignidade em razão da cor da sua pele, do seu
pertencimento racial.
E essas crianças negras fazem parte de um segmento que
está numa situação persistente ao longo da história da educação no país, de
serem as que mais evadem da escola e que têm pior desempenho.
E isso está
associado a uma escola não hospitaleira para as crianças, que não as reconhece,
que as humilha exatamente como as influenciadoras fizeram.
A violência contra crianças negras, que faz
parte da história do Brasil, traz dois elementos que têm sido extremamente
frequentes nos casos de racismo, que é associar negros a animais, ao
macaco.
E, quando essas influenciadoras filmam, postam vídeo das crianças
recebendo o presente, esses vídeos são investigados e elas se tornam rés, o
Judiciário dá um passo à frente no processo de educação e de civilização do
país.
Não há como não saber que a banana e o macaco vêm
constituindo elementos fundamentais dos processos de discriminação que ganharam
muita visibilidade nos últimos anos. E aí lembro em particular o caso de
Vinicius Junior.
Revisitando os inúmeros casos de violência contra o
jogador, vemos que torcedores de times de futebol imitavam sons e gestos de
macacos e mandavam Vinicius Junior pegar bananas que jogavam no campo.
Ou seja,
banana e macaco vêm sendo associados a atos de racismo contra negros, e isso
vem tendo grande visibilidade na imprensa, então não há como as influenciadoras
não saberem disso.
Elas sabiam o que estavam fazendo.
E suas ações
expressam ódio racial de uma branquitude que não aceita a alteridade, não
aceita que outro segmento ocupe, como manda a Constituição Federal, o seu lugar
no país, sua expressão estética, religiosa, cultural.
A branquitude enquanto lugar de privilégio se
entende supremacista, ocupante de um lugar especial, e tenta colocar a
população não branca —no caso, nossas crianças— no lugar de humilhação, de
inferioridade, animalizando-as.
Do lado oposto da iniciativa das influenciadoras,
nós temos a expressão em todo o Brasil de esforços de educadoras e de gestoras
da educação em promover a equidade racial e valorizar a diversidade de culturas
e de religiões que compõem o Brasil.
Cabe lembrar aqui iniciativas de diferentes
organizações da sociedade civil, dentre elas a do Prêmio Educar pela Igualdade
Racial e de Gênero, uma iniciativa do Ceert e que em 20 anos de existência
coletou quase 4.000 experiências de centenas de municípios brasileiros, de boas
iniciativas de valorização da religião, da cultura, do fenótipo.
E justamente nesta quarta (31) lançamos a nona
edição desse prêmio, buscando identificar experiências realizadas em todo o
país que promovem a educação antirracista, o que, sem dúvida, fortalece o
caminho de consolidação da democracia brasileira.
CIDA
BENTO - conselheira do CEERT (Centro de Estudos das Relações de
Trabalho e Desigualdades), é doutora em psicologia pela USP