ITA desclassifica candidato ao curso de Engenharia
por usar CBD
O estudante Eduardo Zidani, 20, exibe com orgulho o fato de ser
aluno do curso de Engenharia do Instituto Tecnológico de Aeronática em sua
página do Facebook.
Mas ele não sabe até quando, pois a matrícula dele foi
aceita por meio de uma liminar, concedida pela Justiça, ou seja, um instrumento
frágil, que pode cair a qualquer momento.
Zidani foi barrado na terceira fase do exame ITA, o teste de
saúde, que no vestibular de 2021 incluiu, pela primeira vez, a prova
toxicológica.
O resultado apontou o uso de CBD (canabidiol), substância
derivada da Cannabis, sem efeito psicoativo, indicado pelos médicos como
ansiolítico e para aplacar os sintomas da epilepsia e da fibromialgia, doenças
graves e incapacitantes.
Mas o ITA teve outro entendimento e desclassificou o
candidato.
Desde 2015, a Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) permitiu
a importação de medicamentos à base de Cannabis.
Em 2019, aprovou o registro de
produtos derivados de Cannabis no Brasil, quando
aprovados nos testes exigidos para qualquer fármaco que queiram
ser comercializados nas farmácias.
“Dos 167 candidatos do ITA, 13 foram barrados nesta última fase,
mesmo depois de terem passado pelas provas de conteúdo”, diz o advogado
Fernando Henrique de Almeida Souza, 42 anos.
“No início do ano, entrei com um
recurso de agravo para que meu cliente fosse considerado apto no exame de
saúde, mas foi negado.
Mas depois aceitaram o pedido de liminar para que ele se
matriculasse.” A União recorreu e o processo ainda não tem data para ser
jugado.
Especializado em direito militar, Souza explica que frequentemente
os candidatos são desclassificados nesta fase final, todos os anos.
Mas o
vestibular de 2021 houve o dobro de excluídos. Além de Zidani –que usou CBD
durante a pandemia, quando estava morando na Inglaterra com sos pais –, mais um
aluno ficou no toxicológico. Neste caso, o teste apontou cocaína.
“Tenho casos de alunos que são desclassificados por outros
motivos, como IMC (Índice de Massa Corpórea) acima do peso. Eles não chegam a
serem gordos, mas são considerados inaptos.
O ITA tem dois tipos de vagas, a
ordinária e a militar. O advogado explica que nas duas opções os candidatos são
obrigados a cursar o CPORAER-SJ (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva da
Aeronáutica de São José dos Campos).
“O aluno da vaga ordinária tem uma carga militar mais fraca, de
apenas duas horas por dia.
Mas eles saem do curso como oficiais da reserva, que
podem ser chamados em casos de emergência, como uma guerra. Por isso tantas
exigências.”
VALÉRIA FRANÇA – jornal Folha de São Paulo