Várias vezes esse ano abri meu comentário dizendo que o mês
tinha sido difícil.
Infelizmente terei que repetir a frase porque agosto foi mesmo
muito difícil.
Peço desculpas também por um comentário mais longo, infelizmente
não consegui ser sucinto.
O dólar teve mais uma forte alta de 7,45% acumulando uma
valorização de 37,29% no ano e 62,83% nos últimos 12 meses e encerrou o mês
cotado a R$3,65. O dólar turismo passou dos R$3,90 em algumas casas de câmbio.
A taxa de juros de curto prazo (SELIC) fecha o mês em 14,25%
a.a.. O IRF-M, que mede a rentabilidade dos títulos públicos com juros
pré-fixados, obteve uma rentabilidade de -0,85%, acumulando um ganho de 5,58%
no ano. A rentabilidade dos títulos públicos indexados a inflação (NTN-B) de
curto prazo (até 5 anos), medida pelo IMA-B5, foi de -0,47% no mês e acumula
uma alta de 8,86% no ano. Já a de longo prazo, medido pelo IMA-B5+, teve um
rendimento de -4,59% no mês, acumulando uma rentabilidade de 2,16% no ano. O
IMA-S, que mede a rentabilidade dos títulos públicos federais pós fixados
(SELIC), teve uma rentabilidade de 1,11% no mês e 8,38% no ano.
A rentabilidade média dos investimentos em ações, medido pelo
IBOVESPA, ficou em -8,33%, acumulando uma queda de 6,76% no ano.
O quadro político nacional continua, e deve continuar, se
deteriorando.
O Ministério Publico ofereceu denúncia contra Collor e Eduardo
Cunha, os dois primeiros de uma lista possivelmente longa. O Ministro Marco
Aurélio de Mello está pressionando o Ministério Publico e Policia Federal para
investigar melhor os gastos de campanha da chapa da Presidente Dilma. O
equilíbrio entre as forças dos três poderes está delicado.
A inabilidade do Governo em se articular politicamente continua
evidente. O Vice-Presidente não responde mais pela articulação com o PMDB, e o
abismo entre seu partido e o PT aumentou. Dentro do próprio PT o Governo
encontra resistência. Nesse difícil quadro político a Presidente Dilma falou em
cortar ministérios e aumentar arrecadação, mas nada de concreto foi feito até o
momento. Sentimos o Governo Federal paralisado.
Do lado das contas públicas as noticias são as piores possíveis.
O Governo continua gastando muito e arrecadando pouco. O buraco na conta do
Governo Federal (diferença entre o que o Tesouro arrecada de impostos e o que é
gasto) aumentou muito e não vemos nada que indique uma mudança nessa situação.
O ministro Levy tentou, sem sucesso, aumentar impostos. Tivemos,
inclusive, rumores que Levy poderia ser substituído.
No dia 31 o Ministro do Planejamento enviou ao Congresso o
orçamento de 2016 com uma expectativa de déficit de R$30 bilhões. Isso
significa que o Governo Federal espera gastar R$30 bilhões a mais do que
arrecadará, aumentando sua dívida. Acho que esse orçamento é a melhor
fotografia da situação atual e da incapacidade da Presidente em gerenciar suas
contas.
Janot foi reconduzido ao cargo de Procurador Geral da República.
O julgamento da corrupção na Petrobrás está se aproximando do Supremo que terá
que se manifestar publicamente sobre as acusações de políticos. Até agora os
sinais vindo daquele Tribunal são de apoio a operação, como vimos na frustrada
tentativa de anulação das provas geradas a partir da delação premiada de
Alberto Yussef.
Os números da economia nacional são os pires de muito tempo. O
PIB, que mede a produção do país, despenca e indica uma recessão profunda e
duradoura, comprometendo 2016. O mercado espera uma queda no PIB para o próximo
ano de mais de 0,5% e um desemprego chegando perto dos 12%.
Outros números da nossa economia são muito ruins. O consumo das
famílias brasileiras, a produção industrial e o emprego caíram muito. Alguns
desses números mostra um retrocesso de mais de 10 anos!
A inflação de agosto, apesar de positiva, deve vir bem abaixo da
média do ano. Mas eu acredito que, infelizmente, essa alegria durará pouco. O
dólar mais caro causará uma alta no preço de vários produtos, principalmente
nos alimentos. Muitos produtos agrícolas, como soja, milho, trigo e café, têm
seu preços estabelecido pelo mercado internacional. Um dólar mais caro encarece
o preço de alimentos no país.
A situação só não é pior porque o preço internacional do
petróleo continua caindo, aliviando a necessidade de aumento no preço dos
combustíveis no país. Entretanto, eu não me espantaria se tivermos alta no
preço da gasolina ainda esse ano.
O Governo continua com uma baixa aprovação do eleitorado,
exposto (devido aos escândalos de corrupção) e sem apoio político, o que
dificulta muito a implementação de qualquer mudança.
Além disso nossa situação atual impacta muito a imagem do país e
já se fala bastante na possibilidade das agencias internacionais de
classificação de risco rebaixarem a nossa nota. Se isso acontecer é possível
vermos mais alta no dólar e queda na bolsa.
No campo internacional a China dominou o noticiário. Sua
economia continua dando sinais de enfraquecimento causando queda no preço de
metais, o que é ruim para o Brasil. O Governo desvalorizou sua moeda (o yuan)
para incentivar exportações e a industrial local. O mercado de ações continuou
apresentando pesadas perdas. No mês o índice da bolsa chinesa recuou 15,18%
apesar dos esforços do Governo para evitar a queda.
A economia Norte Americana continua dando sinais de melhora.
Tivemos queda no desemprego, aumento de gastos das famílias e crescimento. A
desvalorização da moeda chinesa e a alta global no valor do dólar podem fazer
com que o Banco Central Americano (FED) não aumente a taxa de juros esse ano
numa tentativa de segurar mais valorização no dólar que pode frear o
crescimento Norte Americano.
A Europa continua a cresce devagar. A inflação na zona do euro
continua próximo de zero e já se fala em estender o programa de incentivo ao
crescimento. Não esperamos nenhuma surpresa para as economias do bloco.
Quanto a seus investimentos eu continuo privilegio a renda fixa
pós fixada (fundos DI e títulos indexados a SELIC). Entretanto, a taxa de juros
das NTN-Bs (ou Tesouro IPCA+) subiram e estão acima de 7% ao ano mais a
inflação, o que me parece muito atrativo. Se você tem uma poupança de longo
prazo, aquela que você está seguro que não usará nos próximos anos, acho que é
uma boa estratégia comprar um pouco desses títulos. Segundo dados no site do
Tesouro Direto, em 31/08/2014 o Tesouro IPCA para 15/05/2019 oferecia uma
rentabilidade próxima de 7,40% acima da inflação. O título para 15/08/2020
apresentava rentabilidade próxima de 7,30%. Se você não mexer no seu dinheiro
até o vencimento (data indicada acima) esse investimento é um dos mais seguro.
É importante frisar que essas taxas podem subir mais (o preço da
NTN-B cai) no caso do Brasil perder o “grau de investimento”. Se isso acontecer
teremos a oportunidade de aumentar mais o investimento nesses títulos. Mas vale
reforçar que nos níveis de hoje eu acho que já vale a pena comprar um pouco de
Tesouro IPCA+.
Para a renda variável continuo com a opinião que o risco é muito
grande e não compensa investir agora.
Conforme comentado no mês anterior, muitos economistas apontam
que nossa moeda ainda tem que se desvalorizar mais para possibilitar a nossos
produtos concorrerem com os de outros países. Portanto, eu aconselho a você
continuar segurando seus investimentos em moeda americana. Se você tem muito
investimento em dólar pode ser uma boa hora para começar a vender devagar.
Em resumo, nesse mês estamos mudando um pouco nossa
recomendação. Resgate uma parte dos seus investimentos de longo prazo que estão
aplicados a taxas de juros de curto prazo (CDI e SELIC) e invista um pouco no
Tesouro IPCA+. Mantenha seus investimentos em dólar e continue fora da bolsa.
Lauro Araujo – administrador de empresas,
trabalhou em consultorias nacionais e internacionais e em gestoras de recursos;
é diretor da LAS consultoria financeira e atuarial.