Alunos que podem se tornar professores ficam desanimados com o estressante e desvalorizado trabalho
Nos últimos anos, durante muitos momentos, sinto-me, além de professora, uma verdadeira conselheira dos meus alunos. Encontro alunos desestimulados com o árduo caminho que ainda precisam percorrer sem a certeza de que, após anos de investimento e esforço, irão conseguir trabalhar como professores e receber um salário digno.
Eles reclamam que é um trabalho estressante, desgastante, mal pago e, principalmente, sem reconhecimento social.
Após horas de conversa, sinto-me exausta e sem energia por não conseguir convencê-los de que, apesar do sacrifício, vale a pena. Não desisto de argumentar que o nosso país precisa, mais do que nunca, de excelentes professores, e que o caminho, apesar de longo e difícil, vale a pena.
Mas porque vale a pena?
Vale a pena porque a paixão que envolve o ofício, a troca com os alunos, o aprendizado contínuo que conduz ao crescimento profissional e, principalmente, pessoal, tornam o professor uma pessoa cujo maior prazer é ensinar, pesquisar, orientar, ler, escrever e debater ideias.
Vale a pena porque o professor não conhece o significado das palavras tédio, monotonia, rotina, simplesmente porque não pode, não quer e não sabe como parar de aprender e de ensinar.
Vale a pena porque o desafio permanente de pensar a sociedade brasileira, de compreender melhor a nossa cultura em suas especificidades, torna o ofício de ensinar sempre novo, criativo e instigante.
Vale a pena porque o professor, além de formar futuros profissionais, está preocupado com a formação de um ser humano mais pleno, lúcido e crítico, consciente de seu papel social: um cidadão preocupado com a ética, honestidade e solidariedade.
Vale a pena porque o professor ensina a não ter preconceitos, a enxergar a realidade atrás da aparência das coisas e provoca uma verdadeira transformação (às vezes uma revolução) na visão de mundo, no estilo de vida, nos valores e comportamentos não só dos alunos, mas também de todos os que estão ao seu redor.
Vale a pena porque existem os alunos, e, com eles e por eles, o professor precisa sempre inventar novas maneiras de ensinar: para responder as perguntas dos mais críticos, para motivar os mais desmotivados, para escutar e prestar atenção nos mais tímidos e inseguros.
Vale a pena porque o professor mais do que ensinar está, até o fim da vida, aprendendo: com os alunos, com os colegas, com os livros e com a vida.
Vale a pena porque o professor precisa estudar muito para cada aula que prepara, porque está sempre aprendendo para ensinar, ou, melhor ainda, ensinando para aprender.
Vale a pena porque, quando o professor está dando aula, tem a nítida sensação de que faz parte de uma mesma tribo, não de gênios, mas daqueles que tentam fazer do seu ofício algo poético, generoso e apaixonado, algo que nunca se torne uma tarefa burocrática, algo que seja sempre uma experiência de vida e provoque um novo aprendizado, não só para os alunos, mas, também, para si mesmo.
Vale a pena porque quando está em sala de aula, com alunos interessados e interessantes, o professor se sente verdadeiramente feliz, sente um amor profundo, um orgulho enorme e uma alegria imensa ao contribuir para a formação dos alunos. E, também, contribuir para tornar o mundo um pouco melhor.
Quando tinha quatro anos e alguém me perguntava: "O que você vai ser quando crescer?", respondia sem hesitar: "professora!"
Hoje, quando alguém me pergunta: "O que você vai fazer quando envelhecer?", respondo sem hesitar: "ser professora! Vale a pena!"
Mirian Goldenberg - antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de 'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade'.
Fonte: coluna jornal FSP