Em meu trabalho como consultor e palestrante, tenho a oportunidade de interagir com pessoas e
empresas de todos os setores da economia brasileira. Ao menos desde o Plano
Collor, há 25 anos, não observo tanta preocupação, medo e pessimismo. Razões não faltam. Ao maior caso de corrupção da
história do planeta, na Petrobras, somam-se prováveis racionamentos de
água e energia elétrica. Em 2015, pela primeira vez em mais de 70 anos, o PIB cairá pelo segundo ano seguido.
É óbvio que um cenário econômico assim traz
muitos desafios a cada um de nós. Menos óbvio, ele também traz muitas oportunidades.
Nos períodos de bonança, o barco se move rapidamente sem que sequer tenhamos
de cuidar de suas velas. Tornamo-nos displicentes, preguiçosos e acomodados.
Com a economia crescendo 5% a.a. em média entre 2004 e 2008, dezenas de milhões
de brasileiros sendo incorporados aos mercados de trabalho e de consumo e a
demanda por produtos brasileiros no exterior batendo recordes, salários subiam
acima da inflação, os lucros das empresas cresciam e os desequilíbrios das
contas públicas pareciam controlados, apesar de corrupção e gastos galopantes.
O cessar dos ventos, ou neste caso do
crescimento, expôs a insustentabilidade destas situações. Salários só sobem
acima da inflação se a produtividade cresce. Para ganhar mais, o trabalhador
tem de produzir mais. Caso contrário, seu produto ou serviço ficará cada vez mais caro e acabará não sendo
mais comprado, a empresa perderá dinheiro e o trabalhador, o seu emprego. Sem nenhum programa nacional amplo e profundo
de automação e qualificação de mão de obra, a produtividade brasileira
estagnou desde 2011. É responsabilidade do governo e de cada empresa criar
programas assim, mas, se queremos ganhar mais, também cabe a cada um de
nós nos qualificarmos independentemente das políticas do governo e das empresas
em que atuamos.
Nas empresas, o período de bonança levou muitas
a esquecerem seus propósitos e focarem em ganhos de curto prazo. Adeus inovações, melhoria de processos, produtos e serviços ou
geração de oportunidades de crescimento para seus colaboradores.
As empresas que se perpetuam são aquelas capazes
de se fortalecerem em ambientes desafiadores. Nos períodos de seca, os erros
das épocas de abundância são expostos. Se corrigidos, o sucesso das empresas a
longo prazo será garantido.
E o governo? No dia 2 de agosto de 2011, ele
lançou o Programa Brasil Maior, voltado a aumentar a competitividade da indústria através
de maior intervenção governamental. Desde então, a indústria encolheu. Desde o
ano passado, o PIB também encolheu.
A estagnação reforçou ao menos três lições fundamentais. Primeiro, planejamento e gestão são imprescindíveis
se não quisermos viver novas crises hídrica, hidrelétrica e outras. Segundo, um
Brasil mais competitivo, rico e justo requer um Estado menor, menos oneroso à sociedade e
mais eficiente. Terceiro, combater implacavelmente a corrupção é função de todo e qualquer governo e deve ocorrer em
três frentes.
Para diminuir o volume de recursos acessível aos
mal intencionados, precisamos reduzir o tamanhodo Estado, sua participação direta na
economia e os impostos. Segundo, a transparência das contas e negócios do setor
público deve ser total para que a corrupção seja menor. Por fim, quando houver corrupção, as punições têm de ser draconianas.