Plano Real inaugurou relações de consumo modernas
Há muitos preços a
pagar em nome do crescimento econômico, mas a inflação não pode ser um deles.
Nesta segunda-feira, 1º de julho, o Plano Real completou três décadas de vitória contra a hiperinflação. Milhões de brasileiros nasceram depois dessa
conquista, e não fazem ideia do que era viver com as maquininhas de remarcação
de preços apontadas para os produtos nos supermercados.
Sem inflação sob controle, o CDC (Código de Defesa do
Consumidor) teria muito mais obstáculos pela frente. Pode-se afirmar que as
relações de consumo modernas, no Brasil, começaram mesmo em 1994, há 30 anos.
Talvez pareça exagero, mas os consumidores, assim
que recebiam o salário, corriam para fazer as compras do mês nos supermercados,
antes que a inflação comesse parte substancial do valor recebido.
Nesse contexto, outras questões importantíssimas, como qualidade e segurança
dos produtos, prazos de entrega, venda casada, inversão do ônus da prova,
marcos do CDC, ficariam em segundo plano frente à carestia.
A inflação é extremamente cruel,
porque massacra os mais pobres, os mais vulneráveis da sociedade.
Como os
preços são iguais para ricos e pobres, o peso dos constantes reajustes
fragilizava ainda mais aqueles que não conseguiam investir parte do dinheiro
para se proteger da inflação.
O artifício da URV (Unidade Real de Valor) foi uma
jogada de mestre, que ajudou a interromper a memória inflacionária, dando
xeque-mate nos aumentos diários de preços. Parabéns aos autores do plano!
O consumidor deve defender o legado da moeda e da inflação
mais próxima dos padrões internacionais, recusando-se a pagar qualquer preço
por produtos e serviços.
Comparando preços antes de
comprar. Fugindo das absurdas
taxas de juro. Evitando o consumismo, que destrói o orçamento familiar e leva
ao endividamento.
Antigamente, havia quem acreditasse que fosse melhor um pouco
de inflação do que uma economia estagnada.
Depois de conviver com a estagflação (economia estagnada e
inflação alta), talvez tenham
aprendido que inflação não tem bons modos, não sabe se comportar e é rebelde.
Quando começa a disparar, é difícil de ser contida.
Um Banco Central independente é fundamental
para que governos gastadores não sejam o iceberg do Titanic da economia.
Para
que não se preocupem mais com a próxima eleição do que com preços civilizados,
essenciais para que as pessoas de baixa renda também sejam consumidores, dentro
de suas possibilidades.
Há muitos preços a pagar para o crescimento
econômico, e vários deles podem ser aceitos, menos a inflação. Os mais velhos
já viram esse filme, e não gostaram nada do final infeliz.
MARIA INÊS DOLCI - advogada especializada na área da defesa do
consumidor.