Como a descoberta da radiação mudou o futuro da
humanidade
Antes
da bomba atômica, a radioatividade já havia revolucionado o mundo de maneiras
igualmente profundas.
Pouco mais de cem anos atrás, um navio de
passageiros —idêntico ao Titanic— retornou à Normandia (França), vindo
dos Estados Unidos, com um item muito especial.
Era um dia de verão em 1921, e a bordo estava a
cientista Marie Sklodowska-Curie, acompanhada de suas
filhas, Irène e Ève.
Elas estavam de posse de um único grama (0,04oz) de rádio,
trancado numa caixa de chumbo mantida no cofre do navio.
Em valores atuais, o
material poderia valer US$ 1,5 milhão (R$ 8,5 milhões).
A carga havia lhe sido entregue por ninguém menos
que o presidente dos EUA. Mas fora comprada com doações de milhares de mulheres
americanas, que atenderam a uma iniciativa de levantamento de recursos da
jornalista Marie Meloney.
Curie havia adquirido status de celebridade por
oferecer ao mundo a teoria da radioatividade, ao revelar pela primeira vez o
interior dos átomos: o microcosmo de atividade e a cornucópia de energia dentro
deles.
Ela descobrira novos elementos radiativos, sendo que o mais famoso deles
era o rádio. Por isso, ela recebeu seu primeiro prêmio Nobel.
Nós todos sabemos como a física nuclear acabou
alterando o nosso mundo para sempre.
O grama dado a Curie de presente a ajudou
com pesquisas posteriores sobre o átomo que, no final, levaram ao
desenvolvimento de armamentos nucleares.
O que é menos sabido, entretanto, é que
—décadas antes da bomba— a radioatividade já havia
revolucionado nosso mundo de maneiras igualmente profundas, apenas mais sutis.
Curie havia adquirido status de celebridade por
oferecer ao mundo a teoria da radioatividade, ao revelar pela primeira vez o
interior dos átomos: o microcosmo de atividade e a cornucópia de energia dentro
deles.
Ela descobrira novos elementos radiativos, sendo que o mais famoso deles
era o rádio. Por isso, ela recebeu seu primeiro prêmio Nobel.
Nós todos sabemos como a física nuclear acabou
alterando o nosso mundo para sempre.
O grama dado a Curie de presente a ajudou
com pesquisas posteriores sobre o átomo que, no final, levaram ao
desenvolvimento de armamentos nucleares.
O que é menos sabido, entretanto, é que
—décadas antes da bomba— a radioatividade já havia
revolucionado nosso mundo de maneiras igualmente profundas, apenas mais sutis.
Eclipsada pela infâmia das armas atômicas, essa é a história quase
esquecida de como o rádio transformou para sempre as atitudes em relação ao
tempo e onde podemos estar na linha de tempo da história —criando a primeira
eflorescência de um pensamento verdadeiramente de longo prazo.
Até aquela época, nós sabíamos que a Terra era
antiga, mas ainda não tínhamos captado totalmente quantos milhões de anos a
mais —ou bilhões— poderia ainda haver pela frente para a humanidade e o
planeta.
Curie voltou dos EUA exausta, mas com a convicção
de haver "possibilidades ilimitadas para o futuro".
Nosso sentido de em que ponto estamos dentro da
história depende do nosso sentido de quanto mais história futura esperamos que
ainda exista pela frente.
Na Europa, durante gerações, os cristãos achavam que
eles estavam muito mais próximos do fim dos tempos que do início. O Dia do
Juízo Final era esperado para breve.
Os primeiros tratamentos científicos sobre o
assunto, baseados em extrapolações de processos físicos em vez de profecia das
escrituras, emergiram nos anos 1700. Naturalistas começaram a tentar prever por
quanto tempo a Terra permaneceria habitável.
As pessoas também começaram a perceber que,
comparada ao passado geológico, a humanidade surgira há pouco tempo — a
civilização menos ainda.
Nesse contexto, passou a ser sensato sugerir que tudo
que a humanidade pudesse realizar talvez ainda não tivesse sido realizado.
O
futuro tornou-se uma tela de esperança. Otimistas sugeriram que nossa espécie
poderia continuar pesquisando, inventando e melhorando até que a Terra se
tornasse inabitável.
O problema era que, na era vitoriana, o julgamento da ciência
sobre quanto futuro ainda há pela frente era relativamente austero.
Físicos
haviam começado a calcular por quanto tempo o Sol poderia continuar brilhando,
mas como eles erroneamente acreditavam que ele gerava calor entrando em colapso
sobre seu próprio peso, suas estimativas eram curtas demais.
Em 1854, foi divulgado pelo matemático escocês Lord
Kelvin (William Thomson) que havia pela frente apenas 300 mil anos.
Depois
disso, declarou ele, a Terra seria esterilizada pelo frio. As estimativas do
prazo final variavam entre os físicos, mas nas últimas décadas do século a
comunidade convergiu em torno das poucas dezenas de milhões de anos.
Para muitos pensadores desse período, a relação
entre "tempo pela frente" e "tempo gasto" era algo
deprimente. Expressando o humor geral em 1893, um astrônomo irlandês pronunciou
que nosso "Sol já havia gasto quatro quintos da energia que pode ter
possuído originalmente".
A evolução havia chegado até aqui; não tinha
tempo para ir muito mais adiante.
Com o fim dos anos 1800, havia pouco espaço para
muito otimismo em relação ao futuro distante da Terra. Então, vieram os anos
1900, e a radioatividade foi descoberta. Isso mudou tudo.
Em março de 1903, o casal Curie demonstrou que o rádio emitia
continuamente uma quantidade de calor surpreendente. Isso vinha de dentro dos
próprios átomos do rádio, em vez de uma troca com seu entorno.
Os átomos
radioativos eram fornalhas.
As medidas da quantidade de energia dentro dos átomos eram
chocantes. Previamente considerada indestrutível, essa riqueza estava sendo
gradualmente despendida conforme o átomo se desintegrava —às vezes por bilhões
de anos.
Talvez o mais sugestivo exemplo desse longo alcance atômico para o
futuro foi um relógio produzido em 1903, movido a rádio: foi projetado para
continuar funcionando por milhares de anos.
Essas revelações lançaram uma série de respostas entusiasmadas
de cientistas.
Em meses, um astrônomo sugeriu que a radioatividade pode
"nos dar uma dica sobre a fonte de energia no Sol".
Um outro celebrou
a descoberta "inesperada" de Curie dessa "nova fonte de
energia", sugerindo que, se o Sol é movido por meio da "liberação de
energia atômica" —em vez de ir entrando em colapso— então nós teríamos de
estender a "escala de tempo cósmica" por muitos fatores.
O jornal britânico The Daily Mail rapidamente publicou um artigo
reagindo a isso. "O rádio ao nosso socorro", escreveu, de forma
ousada.
Para o jornal, o futuro habitável da Terra acabara de ser expandido em
"várias centenas de milhões de anos".
Em 1920, especialistas estavam
dando "15 bilhões de anos" restantes de luz solar.
Tendo crescido acreditando que a Terra estava "caindo"
em "um inverno final no futuro próximo", cientistas receberam bem a
descoberta desses pequenos "fogões atômicos" —dentro do coração da
matéria—, o que poderia aparentemente abastecer nosso mundo por ordens de
magnitude a mais de tempo.
Nós não mais podíamos acreditar que "nosso Sol
é decadente", com uma "matiz vermelho-amarelada" de senilidade
solar, um jornalista exclamou, tendo o rádio vindo "ao socorro",
estendendo "indefinidamente a varredura do cronograma cósmico para trás e
para frente".
Durante os anos 1920, as estimativas sobre o futuro continuaram
a expandir.
Um proeminente físico, James Jeans —descrevendo os átomos como
"pura energia engarrafada"—, ousou estimar que o nosso Sol contém
"garrafas intactas" suficientes para impressionantes 1 trilhão de
anos a mais de luz solar.
Enquanto isso provou-se posteriormente excessivo —nos
anos 1960 sua expectativa de vida foi cortada para 5 bilhões de anos—, isso
mostra o quão longe os horizontes do tempo estavam se expandindo.
Comunicando a extensão potencial do futuro para o público em
1929, Jeans visualizou um selo sobre uma moeda de 1 penny, equilibrados sobre um
obelisco de 20 metros de altura.
A espessura do selo representava a história
registrada.
O selo e a moeda de 1 penny juntos representavam a existência da
nossa espécie. A distância entre o selo e a base do obelisco era a idade da
Terra.
Jeans não parou por aí. Ele calculou qual a altura de uma pilha
de selos, colocados um sobre o outro, de que você precisaria para mostrar mais
1 trilhão de anos de habitabilidade na Terra.
"Uma pilha da altura do Mont
Blanc" (maior montanha da Europa, com 4.807 metros de altitude), concluiu
ele.
Jeans nos considerava "criaturas do amanhecer" da
Terra, com "oportunidades inimagináveis para realizações" e
"potencialidades inexploradas" pela frente.
Outros chegariam a conclusões semelhantes. Geólogos concordaram
que "o Homo sapiens ainda é uma espécie jovem".
Já radioquímicos
celebraram uma "profunda reviravolta de perspectiva mental": de uma
ideia de que os auges das realizações pertenciam a uma "Era de Ouro"
do passado, físicos agora sugeriam que eles poderiam estar no espaçoso futuro.
Em suma, as descobertas de Marie Curie inverteram completamente
a relação entre futuro esperado e passado estabelecido.
Depois de ter pensado
que viviam próximo do final da história, as pessoas agora reconheciam que
poderiam estar vivendo em seu começo.
O universo da humanidade, não mais
decrépito, agora parecia positivamente jovem.
Comparado ao passado "cósmico", parecia que o Homo
sapiens emergira apenas no último fragmento do tempo.
Tentativas sérias e
científicas de melhorar as condições materiais da espécie haviam surgido dentro
de um fragmento daquele fragmento.
Considerando tudo isso, geólogos alegaram que, se considerarmos
como única a capacidade humana de responder à racionalização moral, então -
embora essa nossa faculdade seja extremamente falível, ela evidentemente se
mantém - a era da ação ética na Terra pode estar apenas nascendo.
A perspectiva generosa para frente "torna-se quase
estonteante", escreveu um autor de forma entusiasmada em 1921, "se
prestarmos atenção no ritmo moderno do progresso".
Nós só podemos
"conceber vagamente" o que pode ser realizado nas eras adiante, se o
"ritmo em que estamos indo" continuar a ser mantido mesmo que
minimamente.
Depois das revelações sobre o rádio, Jeans explicou que a
mensagem da física era uma "de responsabilidade, porque nós estamos
fazendo os planos e colocando as fundações para um futuro mais longo do que
podemos imaginar".
Em setembro de 1928, essas novas responsabilidades com o futuro
profundo da humanidade foram articuladas de forma presciente pelo geólogo
Thomas Chrowder Chamberlin, dois meses antes de ele morrer.
Quando um jornalista o entrevistou, em seu estúdio
em Chicago, Chamberlin lhe deu um sorriso e disse que ele era "um
declarado crente na ampla oportunidade" para a humanidade.
Chamberlin apontou para o fato de que a humanidade
apenas havia acabado de descobrir as "enormes energias" guardadas nos
átomos.
"Então eu acredito que estejamos apenas no começo das coisas,
apenas começando a aprender a como pensar". Nossa espécie é como uma
criança, ele acrescentou.
"Sob o ponto de vista da Terra, eu seu um
defensor da ideia de um grande futuro".
Mais que a maioria, ele já havia considerado as
implicações éticas de um futuro expandido.
Ao longo de seus 60 anos de
carreira, ele havia sido pioneiro em teorias sobre mudanças climáticas:
propondo, em 1899, que o CO2 provoca o aquecimento global.
Ele até mesmo
sugeriu que atividades humanas estavam alterando o clima futuro da Terra.
Isso
exige "um propósito altruísta", regulando "ação" presente,
para proteger "gerações que possam viver daqui a dezenas de milhares de
anos".
Em junho de 1898 —um mês antes de Curie introduzir
o termo radio-atividade— Chamberlin afirmava que nossa ignorância sobre
processos subatômicos significa que deveríamos suspeitar de estimativas de
Kelvin sobre um futuro modesto.
Quando avanços em física nuclear rapidamente
provaram que ele estava certo em suas previsões sobre as perspectivas para a
Terra, ele começou a insistir que um futuro em expansão exige uma
responsabilidade mais elevada.
Em 1903, com base nesse princípio, ele dizia que as
melhores ações eram aquelas que —combinadas ao longo do tempo— cresciam e
viravam "coisas ótimas" nas "longas eras" à nossa frente.
A "longa influência" de ações altruístas,
tendo efeitos sobre eras futuras como ondas, amplifica sua
"contribuição" positiva.
Mas, da mesma forma, o mesmo se aplica ao
impacto "ulterior" (posterior) de ações danosas.
A prudência,
portanto, exige que sejamos conscientes a respeito do uso dos
"recursos" finitos da Terra, sugeriu ele, sabiamente.
Enquanto isso, a descoberta do rádio expandia as
perspectivas do lugar da humanidade no Universo de outras maneiras: prometeu
novos métodos de catapultar a civilização fora deste mundo.
A física anterior estabelecia um teto baixo para o
tempo futuro —e o mesmo se aplicava para o que se imaginava a respeito da
energia disponível.
Mas aqui, na matéria mundana — a qual todos temos em
abundância— foram revelados cofres de energia "de uma magnitude na qual
não temos nenhuma experiência".
Assim escreveu Frederick Soddy,
co-descobridor da degradação radioativa. "A energia está lá. O
conhecimento que pode utilizá-la não está —ainda não."
Embora migrações dentro do nosso Sistema Solar tivessem sido
imaginadas antes, é difícil encontrar, antes de 1900, pessoas antecipando
viagens tripuladas para outras estrelas antes de 1900.
Porém, ao revelar um
espaço generoso no futuro esperado e em energia ainda intocada, físicos
nucleares fizeram com que as viagens interestelares de repente parecessem
possíveis ... Pelo menos, em algum momento no futuro.
O visionário engenheiro russo Konstantin
Tsiolkovsky foi o primeiro a colocar tudo isso junto. Em 1911, ele declarou
que, se você pudesse alcançar a energia dentro do rádio, então você poderia
impulsionar um foguete para chegar até o sol mais próximo dentro de 10 a 40
anos.
O que é importante aqui é que alcançar o êxodo
interestelar separaria o tempo de existência da humanidade do tempo de
existência do nosso Sol, explodindo o teto do tamanho do futuro da humanidade
mais uma vez.
"Uma pitada de rádio seria suficiente para um
foguete de uma tonelada cortar os laços com o Sistema Solar", Tsiolkovsky
concluiu.
A humanidade poderia então migrar "de Sol a Sol",
persistindo por vários cronogramas cosmológicos.
Em 1927, o bioquímico J.B.S. Haldane afirmou que,
se a civilização passasse a ser capaz de pular de sistema estrelar a sistema
estrelar, ela poderia durar o mesmo que toda a expectativa de existência de
toda a galáxia.
Ele estimou que isso poderia significar 80 trilhões de anos.
"E existem outras galáxias", ele acrescentou.
Surgia um futuro volumoso para a humanidade
galáctica.
Mas, como Chamberlin reconhecia, possibilidade e
"oportunidade" não "garantem uma realização de fato".
Jeans, da mesma maneira, alertou que "um acidente pode substituir nosso
Mont Blanc de selos por uma coluna truncada de apenas uma fração...".
Como perguntou um jornalista na época: nós podemos
"pintar quadros otimistas do futuro num horizonte nebuloso de 1 milhão de
anos à frente", mas e os potenciais percalços que podem extinguir a
humanidade, cancelando nossas "sedutoras esperanças de progresso" e o
"quadro mundial de grandiosidade"?
Pode haver, realmente,
"possibilidades quase infinitas de melhoras", escreveu ele, mas isso
apenas aprofunda a tragédia de potencial perdido caso a humanidade, de alguma
forma, seja extinta prematuramente "nos próximos mil anos, no século que
se aproxima ou mesmo no dia seguinte".
Cientistas estavam confiantes de que os riscos
vindos da natureza eram confortavelmente baixos.
O mesmo, infelizmente, não
poderia ser garantido para os perigos apresentados pela própria inventividade
humana.
Desde 1903, tem sempre havido medos recorrentes —tanto na imprensa como
na literatura científica— de que destampar um átomo poderia detonar a Terra
"como um barril de pólvora".
Alguns sugeriram que, se a Terra é
repleta de minérios radioativos, então nós vivemos sobre "um armazém cheio
de explosivos"; mexer com átomos poderia detonar uma reação em cascata,
imolando nosso planeta.
Em 1924, um engenheiro melodramático da
Universidade de Sheffield (Reino Unido), causou pânico ao se gabar de que
estava prestes a quebrar um átomo com sucesso.
De forma sensacionalista,
jornais disseram que isso poderia detonar o planeta.
Ele recebeu cartas
assustadas de cidadãos britânicos, implorando para que ele não concluísse seu
experimento.
Nenhum "cosmocataclismo" aconteceu, claro.
Mexer com átomos não causou a ignição da Terra nem transformou nosso planeta em
uma nova estrela.
Mas discussões sérias foram travadas, pela primeira vez,
sobre se a humanidade poderia em breve representar um risco para si mesma - por
meio de um poderia tecnológico acumulado - maior que as ameaças vindas da
natureza.
Foram sugestões que desde então se tornaram sombriamente verdadeiras.
Depois de desenvolver armamentos termonucleares na década de 1950, a humanidade
começou a emular os processos subatômicos dentro dos sóis com sucesso, o
suficiente para destruir a si mesma e seu futuro estendido.
A ironia é que as descobertas nucleares —iniciadas
por Curie— que mais tarde colocaram esse futuro em perigo foram exatamente as
mesmas que inicialmente nos deram a visão de um futuro espaçoso, com amplo
potencial.
IDEIAS PARA HOJE
Há importantes lições aqui para aqueles procurando
adotar uma visão de longo prazo nos dias atuais.
Primeiro, seja cuidadoso ao
dizer "nunca" quando tratar de descobertas tecnológicas, particularmente
quando as consequências de uma invenção puderem mudar o curso da civilização
para sempre.
Um século atrás, físicos de destaque diziam que
liberar átomos era definitivamente impossível. Um deles, em 1930, descartou o
"duende" da energia nuclear como um "mito".
Ele aconselhou
todos a "dormir em paz", sabendo que Deus colocou cadeados em seu
"trabalho manual", de forma que a humanidade não pudesse perturbar o
universo. Oito anos depois, a fissão nuclear foi destravada por Lise Meitner.
Segundo, prever cronogramas em descobertas desse
tipo é difícil.
Ao escrever em 1927 sobre o futuro da humanidade no longo
prazo, Haldane (um entre os mais habilidosos especialistas de sua geração)
achou razoável prever que viagens de ida e volta para a Lua teriam de esperar
até o ano 8 milhões.
O feito foi conseguido pela nave Apollo 11 apenas 42
anos depois.
Soddy, escrevendo em 1919, alertou que, uma vez que as pessoas
descobrissem como transformar isótopos em armamentos, um potencial destrutivo
sem precedentes seria liberado.
Todo o que ele podia fazer era ter esperanças
de que "essa descoberta não seja feita" até que a humanidade tenha a
prudência para não usá-la de forma errada.
A previsão de Haldane e a esperança de Soddy mostraram-se
equivocadas.
O ponto aqui é que nós, exatamente um século depois, estamos numa
posição idêntica no que se refere a várias novas tecnologias emergentes, da inteligência
artificial à biologia sintética, que poderiam colocar todo nosso futuro em
perigo.
Por exemplo, parece plausível que criar patógenos mortais vai apenas se
tornar mais fácil e mais barato, mas não sabemos quanto tempo levará até que se
torne fácil o suficiente para representar uma ameaça grave para todos.
Precisamos de mais do que "esperança" de que nós
possamos lidar com os desafios prometidos por novas tecnologias antes que elas
sejam destravadas e liberadas.
Da mesma forma que aconteceu com o poder
atômico, tecnologias que mudem o mundo podem ser desenvolvidas mais cedo do que
especialistas esperam, então é melhor ficar preparado do que ser complacente.
Equipado com uma melhor compreensão sobre como o Sol envelhecerá
e quão sensível o clima da Terra será a seu envelhecimento, as previsões atuais
sobre a habitabilidade futura foram reduzidas, desde a previsão de 1 trilhão de
anos feita por Jeans.
Muitos cientistas agora preveem pouco menos de 1 bilhão
de anos de vida complexa na Terra.
Entretanto, equilibrando isso, nada foi
ainda encontrado - nos céus ou na Terra - que implique que a humanidade não
possa realizar sua diáspora interestelar nesse período.
As estimativas sobre
por quanto tempo o Universo mais amplo pode continuar capaz de manter vida
complexa são realmente de cair o queixo.
O futuro da humanidade pode ser astronomicamente grande, como os
cientistas no início do século 20 perceberam.
Poderia ser confortável o
suficiente fazer alguma reparação por todas as oportunidades frustradas, roubadas
e desperdiçadas da história até hoje.
As ações de maior impacto e ressonância,
então, devem ser aquelas que visem a proteção dessa perspectiva de longo prazo.
Entretanto, neste momento, a humanidade continua como um adolescente:
irresponsável, embora despertando pela primeira vez para o fato de que suas
ações podem ter consequências irreversíveis.
Provavelmente o primeiro "longo-prazista", Thomas
Chamberlin colocou a questão da melhor forma em 1910: "A mais alta
concepção de altruísmo que eu consigo formular é construída no pensamento de
fazer coisas que sejam suficientemente firmes parar durar e fazer o bem tempos
depois de terem perdido o nome e o registro daqueles que as lançaram".
Thomas Moynihan – jornalista BBC
NEWS