Assédio comercial online já passou dos limites


Receber spams de ofertas do mesmo produto é algo que irrita muito mais do que estimula o consumo.  

Você acaba de comprar um produto, depois de fazer uma ampla pesquisa, comparar preços, condições de pagamento e características técnicas de várias marcas. Imediatamente, começa a ser bombardeado por e-mails disparados por várias lojas, inclusive aquela na qual comprou o aparelho que ainda nem foi entregue. É um tiro no pé este assédio comercial ao consumidor que, em época de desemprego alto, salário baixo e informalidade, ainda tem coragem de comprar.

Se você, por acaso, começou a incluir produtos no carrinho do site de uma loja e desistiu —porque o frete era muito caro ou qualquer outro motivo— recebe diversas mensagens persuasivas, tentando convencer-lhe a finalizar o negócio. E ao entrar nas redes sociais para se divertir, conversar com amigos, ler as postagens, há várias propagandas referentes ao item pesquisado.


É óbvio que não há como vender sem fazer propaganda, mapear o perfil do consumidor, oferecer promoções e descontos. Mas tenho um amigo que, periodicamente, recebe várias ligações (várias) de lojas de uma marca de filtro de água propondo a troca de componentes de filtragem. Não haveria como evitar, pelo menos, a sobreposição de ligações telefônicas?

Um dos ativos mais escassos em nossas vidas, nos últimos anos, é tempo. Temos tantos compromissos que terminamos o dia extenuados, com a impressão de que não fizemos tudo o que deveríamos. Receber centenas de spams, dentre eles várias ofertas do mesmo produto, é algo que nos irrita muito mais do que estimula o consumo. A venda de mailings com nossos e-mail particulares para que recebamos estas mensagens já passou da conta. Os correntistas que têm certo poder de compra, expresso por suas aplicações financeiras no banco, são importunados de uma maneira absurda.

A oferta de aplicativos com descontos, por outro lado, é uma forma inteligente de atrair o consumidor, pois ele se acostuma a consultar as ofertas. Faz as contas e percebe o quanto ganhará se comprar determinados itens. Reduzir o valor do frete, entregar mais rapidamente o produto adquirido e facilitar eventuais desistências das compras são diferenciais que todos valorizamos.

As companhias que lutam com todas as forças para melhorar as vendas têm de dosar melhor o assédio ao consumidor. Façam anúncio em bons meios de comunicação (não estou puxando a brasa para este jornal, mas acredito mesmo na conjugação de informação e publicidade bem feita). Deixem-nos ao menos respirar um pouco, ler as notícias, um bom livro, conversar com a família. Irritação não é um bom motivo para abrir a carteira.

 

Maria Inês Dolci - advogada especialista em direitos do consumidor, foi coordenadora da Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor).

Fonte: coluna do jornal FSP

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