Esta é minha última coluna do ano.
Minhas colunas nesta Folha têm sido, como me
disse rindo Mario Sergio Conti, de um otimismo irritante e descolado da
realidade. Kkkkk. Ele tem razão.
É que eu sou empreendedor, e o empreendedor opera
no campo do milagre. E milagre é com a senhora, minha santinha.
Eu nasci no Pelourinho, em Salvador, e tinha seis
anos quando ocorreu o golpe militar de 1964. O Brasil só saiu da ditadura
quando eu estava saindo da faculdade. As chances matemáticas de eu estar aqui
agora eram baixíssimas. Obrigado, minha santinha.
Empreendedor no Brasil tem que fazer milagre do
milagre. Deve ser por isso que Abilio Diniz reza tanto e compartilhou conosco
suas preces no seu novo e imperdível livro ("Novos Caminhos, Novas
Escolhas").
Nesta longa crise brasileira, a gente tem que
contar com santa Terezinha, são Judas Tadeu, santo Expedito, santa Rita de
Cássia... A gente tem que ir de santo e de turma de santos.
É claro que a gente tem que fazer a nossa parte:
temos de ter resiliência, cortar os custos, modernizar os processos, fazer uma
faxina no nosso "mindset" e trabalhar tanto quanto o João Doria.
Mas, por outro lado, temos que ter muita fé. Minha
mulher é corintiana. E eu aprendi com ela a acreditar em gol no último minuto
do segundo tempo.
Depois deste ano de "dois mil e
dezechega", 2017 vai ser uma década. E uma década duríssima. (Olha que
beleza, Mario Sergio Conti, eu sendo pessimista.) E, a meu ver, a melhor forma
de enfrentar o ano que entra é nos prepararmos para o pior.
Administrar hoje no Brasil é a gestão criativa do
pessimismo.
No caso do nosso grupo, vamos juntar todas as
empresas em um só prédio. Vamos economizar no aluguel, compartilhar despesas,
reunir talentos, aproveitar bastante nossas sinergias e aprofundar a nossa
cultura de excelência.
Não estamos inventando a roda. A Omnicom, nosso
parceiro global, faz isso com muito sucesso em Londres, Los Angeles, Berlim.
Portanto, vamos entrar em 2017 com uma tesoura de custo nas mãos e uma alavanca
na outra.
Minha santa Terezinha do Menino Jesus, peço que o
Brasil e seus filhos cheguem vivos e inteiros ao final de 2017. Que
atravessemos essa pinguela e cheguemos bem em 2018.
E, como isso só pode acontecer com muita luta nossa
e milagre vosso, eu recorro à senhora, minha santinha, na esperança de que esse
pedido meu e de meus leitores seja atendido.
Durante boa parte dos dias deste ano, eu saí do meu
escritório nos Jardins e fui até a sua igreja na rua Maranhão, em Higienópolis,
onde assisto à sua missa das 19h e depois volto para trabalhar ou jantar com a
minha família.
No turbilhão deste país de milhões de desempregados
e juros estratosféricos, com milhares de empresas fechando todo mês e tantos
clientes nossos sofrendo, esse encontro diário consigo, minha santa Terezinha,
tem sido, para mim, um remanso e a providência divina que me ajudou a sair
vitorioso de ano tão conturbado.
Sou um líder, tenho que comandar mais de 2.000
pessoas diariamente. Passar rumo, norte e fé. E, quando eu fraquejo, é a
senhora, menina de 24 anos, fisicamente frágil e moralmente gigante, quem me
coloca de pé e me faz seguir em frente, sem me deixar vergar.
Muita gente lendo isso vai achar cafona. Mas a
felicidade é cafona.
E por isso, a vós entrego, minha santa das rosas,
esse ano de 2017. Com suas pétalas, seus perfumes e seus tantos espinhos.
Nizan Guanaes - Publicitário baiano, é dono
do maior grupo publicitário do país, o ABC.
Fonte: coluna jornal FSP