Na palestra de abertura do Wise, a
maior conferência mundial de Educação, Fareed Zakaria, jornalista americano,
lançou um alerta: as crianças e adolescentes podem estar se beneficiando do
acesso mais fácil a informações, mas estão perdendo a oportunidade de desenvolver disciplina intelectual, algo
central para um aprendizado mais profundo.
A aquisição de competências não se
faz só em condições de prazer. Sim, a criança pequena busca incessantemente
aprender, mas frustra-se sempre que não consegue e chega a chorar em algumas
tentativas infrutíferas de andar sozinha ou alcançar algum objeto.
É importante na educação infantil
promover o brincar como estratégia pedagógica básica, mas não devemos nos
iludir –a aprendizagem ao longo da vida nem sempre será um jogo. Como na vida
de bailarinas ou de atletas, praticar habilidades ainda não adquiridas
demandará esforço e disciplina que eventualmente colidirão com outros desejos
do jovem estudante, mas que no final, ao superar-se a dificuldade encontrada,
poderão premiá-lo com o intenso prazer da superação.
Neste sentido, podemos falar de uma
educação da vontade, não muito confortável. A
criança precisa aprender a nem sempre seguir seus impulsos ou lidar com a vida
como se ela fosse uma mercadoria a ser consumida.
Isso demanda paciência e
persistência de pais e educadores, já que eventuais frustrações podem gerar
conflitos. Mas não há construção de hábitos novos mais propícios a aquisição de
competências sólidas para a vida sem o enfrentamento de costumes arraigados.
Isso não significa que o processo
de ensino deva ser tedioso, centrado em longas aulas expositivas ou
intermináveis listas de exercícios. Ao contrário, para preparar os alunos para
o novo mundo do trabalho e para a vida em sociedade, as aulas devem ser
engajadoras, associadas a resolução colaborativa e criativa de problemas.
Mas as dificuldades de aprendizagem
devem também ser identificadas e, mediante trabalho cuidadoso e eventualmente
tedioso, ser superadas. Além disso, parte do que se aprende na vida de
estudante deve ocorrer em casa, com a preparação adequada para as aulas, a
leitura de textos e livros de ficção e não ficção ou pesquisas associadas ao
que se desenvolve em sala.
Nem todo fim de semana ensolarado é
substituído com prazer por trabalhos preparatórios, mas a dor eventualmente
causada por este transtorno (desde que em níveis razoáveis) tenderá a ser
fartamente compensada pela aquisição de novos hábitos, como o da leitura
literária, e pelo prazer de entender os complexos processos que marcam o mundo
que nos cerca e a vida em sociedade.
Claudia
Costin -
professora da FGV e professora-visitante de Harvard. Foi diretora de Educação
do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração.
Fonte:
coluna jornal FSP