A dor e o prazer de aprender, a necessária disciplina intelectual

Alunos do 9º ano em aula de matemática da Emef Jose Negri, em Sertãozinho (SP)

Na palestra de abertura do Wise, a maior conferência mundial de Educação, Fareed Zakaria, jornalista americano, lançou um alerta: as crianças e adolescentes podem estar se beneficiando do acesso mais fácil a informações, mas estão perdendo a oportunidade de desenvolver disciplina intelectual, algo central para um aprendizado mais profundo.

A aquisição de competências não se faz só em condições de prazer. Sim, a criança pequena busca incessantemente aprender, mas frustra-se sempre que não consegue e chega a chorar em algumas tentativas infrutíferas de andar sozinha ou alcançar algum objeto.

É importante na educação infantil promover o brincar como estratégia pedagógica básica, mas não devemos nos iludir –a aprendizagem ao longo da vida nem sempre será um jogo. Como na vida de bailarinas ou de atletas, praticar habilidades ainda não adquiridas demandará esforço e disciplina que eventualmente colidirão com outros desejos do jovem estudante, mas que no final, ao superar-se a dificuldade encontrada, poderão premiá-lo com o intenso prazer da superação.

Neste sentido, podemos falar de uma educação da vontade, não muito confortável. A criança precisa aprender a nem sempre seguir seus impulsos ou lidar com a vida como se ela fosse uma mercadoria a ser consumida.

Isso demanda paciência e persistência de pais e educadores, já que eventuais frustrações podem gerar conflitos. Mas não há construção de hábitos novos mais propícios a aquisição de competências sólidas para a vida sem o enfrentamento de costumes arraigados.

Isso não significa que o processo de ensino deva ser tedioso, centrado em longas aulas expositivas ou intermináveis listas de exercícios. Ao contrário, para preparar os alunos para o novo mundo do trabalho e para a vida em sociedade, as aulas devem ser engajadoras, associadas a resolução colaborativa e criativa de problemas.

Mas as dificuldades de aprendizagem devem também ser identificadas e, mediante trabalho cuidadoso e eventualmente tedioso, ser superadas. Além disso, parte do que se aprende na vida de estudante deve ocorrer em casa, com a preparação adequada para as aulas, a leitura de textos e livros de ficção e não ficção ou pesquisas associadas ao que se desenvolve em sala.

Nem todo fim de semana ensolarado é substituído com prazer por trabalhos preparatórios, mas a dor eventualmente causada por este transtorno (desde que em níveis razoáveis) tenderá a ser fartamente compensada pela aquisição de novos hábitos, como o da leitura literária, e pelo prazer de entender os complexos processos que marcam o mundo que nos cerca e a vida em sociedade.

Claudia Costin - professora da FGV e professora-visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração.

Fonte: coluna jornal FSP

 

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