O que Lincoln aprendeu com Euclides
Matemático
grego que viveu no século 4 a.C. criou padrão de clareza e rigor de raciocínio.
(1809–1865) foi um dos maiores, se não o maior,
presidente dos Estados Unidos.
Líder carismático que conduziu o país na pior
crise de sua história e foi assassinado por seu papel na abolição da
escravatura, Lincoln foi também um político astuto, que sabia usar as raízes
humildes e a reputação de honestidade.
Tinha na eloquência sua mais potente
arma política. Vários de seus discursos, como o famoso “Gettysburg address”,
proferido em 1863 em homenagem aos soldados mortos na Guerra Civil, estão entre
os mais influentes da história norte-americana.
O que é menos conhecido é a origem de seus notáveis
poderes de oratória.
Apesar de que ele contou o segredo em entrevista ao
reverendo J. P. Gulliver, publicada pelo jornal The New York Times, em 4 de
setembro de 1864.
Perguntado como havia adquirido tal capacidade para
"dizer as coisas", o presidente contou que quase não tivera educação
formal, e acrescentou:
“Nas minhas leituras de direito encontrei muitas
vezes a palavra ‘demonstrar’.
No início, achava que sabia o significado, mas
depois percebi que não. Acabei dizendo a mim mesmo: ‘Lincoln, você nunca poderá
ser advogado se não souber o que demonstrar significa’.
Então voltei para casa
do meu pai e lá fiquei até entender todas as proposições dos ‘Elementos’ de
Euclides. Aí eu soube o que é demonstrar, e voltei aos estudos de direito”.
O grego Euclides viveu no norte de África no século
4 a.C..
Nos “Elementos”, ele reuniu e organizou a geometria de seu tempo,
criando o padrão de clareza e rigor de raciocínio que perdura na matemática até
os nossos atuais dias.
Foi nessa obra de Euclides, uma das mais influentes da
história da humanidade, que o orador brilhante encontrou inspiração.
Gulliver não disfarçou a admiração: “Sr. Lincoln, o
seu sucesso não é mais motivo de espanto. É o resultado legítimo de causas adequadas.
Com sua permissão, eu gostaria de contar este fato publicamente. Será muito
importante para motivar os jovens para a cultura matemática, que todas as
mentes precisam absolutamente ter“.
E acrescentou: “Euclides, bem estudado,
livraria o mundo de metade de suas calamidades, banindo metade dos disparates
que iludem e amaldiçoam nossos dias.
Sempre achei que ‘Elementos’ seria um dos
melhores livros para a biblioteca da Ordem dos Advogados, se conseguissem que
as pessoas lessem”.
Lincoln riu: “Concordo. Eu voto por Euclides!”. E
eu acompanho o presidente.
MARCELO VIANA -diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada,
ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.