Como o cérebro sabe quando devemos beber água e quando parar?


Hipotálamo ajuda a manter o corpo em equilíbrio e a coordenar funções dos órgãos

Quando se fala em cérebro, as primeiras palavras que costumam vir à mente são inteligência, comportamento e cognição. Mas uma das funções mais importantes do sistema nervoso passa completamente despercebida (o que de certa forma prova quão fundamental ela é, exatamente porque quando tudo vai bem ela acontece na surdina): a integração da fisiologia do corpo.

É uma função literalmente vital. O corpo morre quando o cérebro deixa de funcionar normalmente não porque a respiração para (desde a epidemia de poliomielite sabemos ventilar o corpo artificialmente, o que mantém pessoas vivas por décadas), mas porque perde a capacidade de manter órgãos funcionando como partes de um todo bem articulado.

Um corpo bem integrado consegue se manter em equilíbrio tanto estável quanto dinâmico. Algumas coisas precisam mudar ao longo do dia, como a pressão arterial e a frequência cardíaca, e seu equilíbrio dinâmico tem nome: alostase. Por outro lado, a vida não é compatível com mudanças em alguns outros aspectos da fisiologia, como a concentração de sal e água dentro das células. O equilíbrio estável desses é a homeostase, propriedade fundamental da biologia reconhecida pelo francês Claude Bernard em 1865 e depois nomeada pelo americano Walter Cannon em 1926.

A estrela da regulação homeostática é o hipotálamo, a porção mais anterior do cérebro. Ajudado e supervisionado pelo córtex, é o hipotálamo que concentra os circuitos que monitoram o estado de funcionamento do corpo e operam funções que parecem mágica. Por exemplo: como o cérebro sabe quando precisa beber água e quando deve parar?

Pareceria mágica, de fato, se não fosse a ciência e os cientistas marrentos que insistem em entender como as coisas funcionam. Quando têm apoio financeiro de seus governos e conterrâneos, então, acontecem aquelas coisas que deixam a gente orgulhoso da civilização —como o artigo publicado nesta semana na revista Nature, que desvenda tintim por tintim o circuito no hipotálamo que dispara o sinal de que está faltando água no sangue, promove a ingestão de líquido e a interrompe assim que tem evidência de que já entrou o necessário, muito antes de o sangue se normalizar.

Como o sistema opera na base da retroalimentação negativa, ele funciona sem supervisão. Nenhuma mágica é necessária enquanto vivemos nossas vidas, mas é uma vida muito mais rica a que sabe olhar para si e se questionar e se entender.

 

Suzana Herculano-Houzel - bióloga e neurocientista da Universidade Vanderbilt (EUA).

Fonte: jornal FSP

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