Ditadura da Felicidade
É possível ser feliz o tempo todo?
Entenda o que é a ditadura da felicidade e como a busca e
imposição para ser feliz todos os dias podem impactar a saúde mental
Neste mundo conectado nas redes sociais, surgiu nas pessoas a
falsa necessidade de mostrar que vivem uma vida perfeita e feliz.
No entanto, é possível ser feliz o tempo todo? Cuidar da saúde
mental é reprimir e evitar a todo custo as emoções desagradáveis, como a
tristeza e a raiva? A resposta é não.
Ninguém espera ou deseja se sentir triste e frustrado por alguma
eventualidade, concorda? No entanto, é importante compreender que ter uma mente
saudável não significa ser feliz 24 horas por dia.
Impor a felicidade como regra pode causar efeito contrário ao
bem-estar, levando a sentimentos como ansiedade, angústia e baixa autoestima, e
a questionamentos como:
“Se não estou feliz, o que
estou fazendo de errado?”
“O que preciso fazer para ser
feliz?”
“É proibido ficar triste?”
Neste mês é celebrado a campanha do Janeiro Branco, que promove
ações de conscientização e cuidados com a saúde mental.
Veja, cuidar do
psicológico e do físico é, sem dúvidas, fundamental para garantir o bem-estar,
mas não existe regra ou receita para ser feliz.
Afinal, o que é ditadura da felicidade?
A ditadura da felicidade pode ser entendida como a pressão
social para ser feliz, imposição que é colocada sobre si próprio e aos outros
de estar sempre bem, banalizando a emoção da tristeza como se fosse uma doença.
No entanto, sentir-se triste é completamente normal.
Quando a
emoção se torna constante e foge do controle, é indicado buscar um especialista
médico, pois apenas ele pode realizar o diagnóstico da depressão.
Fora isso, tudo bem não estar bem. A felicidade não é um
produto, mas uma habilidade emocional que pode, sim, ser construída e
desenvolvida em conjunto com as demais emoções.
Além disso, para ajudar os
jovens a cultivar a felicidade, não basta oferecer dicas de autoajuda ou
compartilhar mensagens motivacionais, como “apenas seja feliz e tudo vai ficar
bem”.
Ninguém precisa e nem deve se sentir pressionado para ser feliz,
concorda?
Afinal, positividade demais também pode fazer mal à saúde mental.
E,
por isso, é importante entender a diferença entre positividade tóxica e
psicologia positiva, e como elas atuam:
POSITIVIDADE TÓXICA
A positividade tóxica está muito relacionada com a ditadura da
felicidade e de estar sempre bem.
Hoje, ela está muito presente nas redes
sociais com discursos que podem parecer motivadores, mas, na verdade, silenciam
as emoções:
“Não se preocupe, seja feliz”
“Poderia ser pior”
“Sorria e as coisas com certeza vão melhorar”
A saúde mental está completamente conectada ao corpo. Quando as
emoções são reprimidas, o estresse e a ansiedade podem ser intensificados e
manifestados fisicamente, por meio de alergia emocional, dores no corpo,
problemas no intestino, entre outros exemplos.
PSICOLOGIA POSITIVA
Por outro lado, diferente da positividade tóxica, a psicologia
positiva traz um olhar amplo sobre as potencialidades, motivações e capacidades
humanas que podem ser exploradas para cultivar a felicidade e desenvolver a sua
melhor versão.
A psicologia positiva está fortemente relacionada ao
autoconhecimento. Através de boas práticas, é possível identificar e treinar as
principais forças de caráter, entre elas:
Amor;
Justiça;
Integridade;
Criatividade.
Agora, voltamos à questão: é possível ser feliz o tempo todo?
Humanamente não, pois frustrações acontecem e vão continuar acontecendo.
O importante é aprender a lidar com as adversidades do dia a
dia, seja em casa, na escola ou no trabalho, de forma saudável, com resiliência
e perseverança. Treinando competências socioemocionais como essas são caminhos
para cultivar a felicidade.
Rossandro Klinjey – psicólogo, escritor e
palestrante.