É fácil nos enganar quando
queremos ser enganados. Isso não é novidade. Eu já tinha alertado aqui sobre o uso disso
pelos políticos antes das eleições de 2014. No ano que vem, com o
justificadíssimo desejo de renovação política que toma conta do país, as
propostas de soluções simplistas de falsos salvadores da pátria vão bater
recordes.
Pensando bem, não será fácil
bater o recorde desta CPI. Temos os senadores mais geniais do mundo! Pode haver
forma melhor de resolver um problema do que decretar que ele não existe?!
A CPI concluiu que não só não
há déficit, como o teto dos benefícios do INSS pode ser elevado em quase 70%,
dos atuais R$ 5.531 para R$ 9.370. O número de aposentados cresce mais de 3%
a.a. devido ao envelhecimento da população? Irrelevante. O Brasil já gasta mais
com aposentados do que a Alemanha e o Japão, que têm proporcionalmente o triplo
de idosos do que nós? Quem se importa?
A contabilidade criativa da
CPI faz as pedaladas fiscais da Dilma parecerem fichinha. Segundo ela, os
números que importam não são os da Previdência, mas os da Seguridade Social,
que engloba Previdência, Saúde e Assistência Social. Quer dizer que somando os
três temos superávit? Não. No ano passado, só no âmbito federal tivemos um
déficit de R$ 257 bilhões, sem nem contar um déficit adicional de cerca de R$
100 bilhões em estados e municípios.
É fácil nos
enganar quando queremos ser enganados. Isso não é novidade.
Qual a mágica da CPI, então?
Comece desconsiderando o déficit de R$ 77 bilhões da Previdência dos servidores
da União, embora seja coberto pelos mesmos impostos que cobrem o rombo do INSS.
Em seguida, desconsidere as desvinculações de receitas da Seguridade – que,
entre outras coisas, tiram recursos da Saúde para bancar o déficit da Previdência.
Por fim, faça de conta que os benefícios podem ser pagos com recursos que nunca
foram arrecadados, como as receitas das desonerações sociais e a sonegação de
mais de R$ 400 bilhões que o INSS tem a receber, mas que nunca receberá
integralmente porque a maior parte é de empresas que nem existem mais, como
Varig, Transbrasil e Vasp, para citar só o setor aéreo.
Fazendo tudo isso, a
Seguridade Social é superavitária? Ainda não. Segundo a própria CPI, mesmo com
esta contabilidade de araque, a Seguridade Social teve um déficit de R$ 57
bilhões no ano passado.É fácil nos enganar quando queremos ser enganados. Isto
não é novidade.
Aí, a CPI dá o golpe final.
Apesar do resultado desta contabilidade maluca piorar todo ano desde 2013 -
ainda antes da recessão começar - os números vão melhorar significativamente a
partir deste ano, eliminando o déficit. A mágica? Crescimento econômico
acelerado que vai inflar as receitas acima do crescimento das despesas.
Em resumo, a CPI, presidida
por Paulo Paim (PT) e relatada por Hélio José (PROS), está convencida de que,
por conta das reformas de Temer e seu governo, o Brasil vai começar a crescer
mais rapidamente do que a China.
É muito bom viver aqui na
Suíça! Melhor que isto, só ser senador no Brasil.
Ricardo Amorim - autor do
bestseller Depois daTempestade, apresentador do Manhattan Connection da Globonews