Cada
vez é mais difícil conversar com um ser humano; atendentes digitais só
conseguem passar informações muito básicas.
A Lei do SAC melhorou muito a vida do consumidor.
Reduziu o jogo de empurra telefônico que nos enlouquecia quando tentávamos
cancelar um contrato, reclamar de um defeito do produto ou solicitar um
serviço. Mas agora há um novo transtorno para o cidadão nas relações de
consumo: ser atendido quase que exclusivamente por assistentes virtuais.
Cada vez é mais difícil conversar com um ser humano. E
os atendentes digitais só conseguem nos dar informações muito básicas. As mais
complexas dependem da flexibilidade e do raciocínio bem humanos.
Um amigo enfrentou este problema quando necessitava
corrigir o e-mail e o número do telefone que constavam do cadastro dele.
Precisava deste passo para validar um adesivo que o dispensaria de parar nos
pedágios da estrada. Antes disso, teve de chegar ao telefone desejado, mas
havia vários: para vendas, SAC etc.
Quem resolveu a situação? Uma atendente com muito boa
vontade, paciência e desejo de solucionar o problema, o que efetivamente
ocorreu.
É muito importante discutir isso, porque se multiplica o
uso de avatares digitais para atendimento. Com a inteligência artificial, robótica e outros
avanços tecnológicos, teremos muito mais disso. Mas sempre será fundamental que
alguém de verdade ouça você do outro lado do telefone, se for necessário.
Uma dica para empresários: já tratei aqui de uma boa
prática de lojas, fast foods e restaurantes durante a pandemia –o envio de
bilhetinhos manuscritos com o delivery, para se conectar com o cliente. Nós
gostamos de ser bem tratados ao optar por um produto ou serviço.
Não podemos nos esquecer de que há muitos consumidores
idosos. E haverá muito mais ao longo do tempo. Muitos são solitários, e ficam
felizes quando podem falar com alguém. E mais seguros ao ouvir uma voz humana
garantindo que o problema deles será resolvido.
Por mais que a tecnologia evolua, o atendimento
humanizado e caloroso continuará fazendo a diferença. O robô da série Perdidos
no Espaço se tornou inesquecível porque era, acima de tudo, humano e engraçado.
Maria
Inês Dolci - advogada especialista em direitos
do consumidor, foi coordenadora da Proteste (Associação Brasileira de Defesa do
Consumidor).
Fonte:
coluna jornal FSP