A
rentabilidade do FGTS
De 2017 a 2020, retorno do FGTS foi generoso, deixando no passado
décadas de juros pífios.
O que você acha de uma aplicação sem risco, isenta de Imposto de
Renda, que rendeu 4,90% em 2020, enquanto o CDI bruto, antes de pagar IR,
rendeu apenas 2,76%?
Que aplicação é essa, cujo dinheiro saiu do bolso do seu
empregador, que conseguiu superar a inflação de 4,52% e rendeu o dobro do CDI
líquido?
Pois essa foi a taxa de retorno do FGTS, que, além da rentabilidade tradicional
de 3% ao ano, contou com a distribuição dos resultados dos investimentos do
fundo.
No passado, período de alta inflação, a poupança pagava TR + 6% ao ano,
e o FGTS, apenas 3% ao ano, metade do que os poupadores conseguiriam se
pudessem investir o dinheiro por conta própria e optassem pela poupança, por exemplo.
Era altamente recomendável sacar o dinheiro do FGTS, utilizando as
poucas alternativas disponíveis, para tentar proteger esse patrimônio das
perdas inflacionárias.
Utilizar o saldo para comprar um imóvel residencial ou
amortizar o financiamento imobiliário era (e continua sendo) um bom exemplo.
Os tempos mudaram, e a rentabilidade relativa do FGTS melhorou muito,
por duas razões: redução da taxa básica de juros e distribuição de resultados
aos participantes, ampliando a taxa de retorno sobre o saldo existente no
último dia de cada ano.
Que lucro é esse que passou a ser distribuído aos trabalhadores?
O
patrimônio do FGTS, formado pelo saldo de todos os trabalhadores, é utilizado
para financiar programas de desenvolvimento urbano, como a construção de casas
populares, obras de infraestrutura e saneamento básico.
O FGTS recebe juros pelos empréstimos que faz, portanto, é justo que o
resultado dessas operações de financiamento seja distribuído aos detentores
desse capital. Antes tarde do que nunca...
A rentabilidade básica de 3% ao ano continua sendo creditada
mensalmente, e a distribuição do lucro é feita uma única vez, no mês de agosto
do ano seguinte.
Vamos olhar pelo retrovisor para avaliar a rentabilidade do FGTS entre
2017 e 2020 e compará-la com alguns indicadores, o IPCA e a taxa do CDI, que
remunera os títulos privados, além de ser parâmetro de inúmeras aplicações
financeiras no mercado.
A taxa de retorno líquida, isenta do Imposto de Renda, de 2017 a 2020,
considerando 3% ao ano mais o lucro distribuído, foi 7,14%, 5,59%, 6,18% e
4,90%, respectivamente. Acumulou 26% no período. Nada mal...
GANHOU DO
IPCA
Com a distribuição do lucro, a rentabilidade superou com folga a
inflação medida pelo IPCA, proporcionando juro real aos trabalhadores em cada
um dos quatro anos desse período. Desempenho excelente em relação a outros
investimentos.
GANHOU DO CDI
A rentabilidade superou a do CDI em 3 dos 4 anos do período. Em 2017 o
CDI levou vantagem, mas o FGTS não decepcionou e pagou 85% do CDI líquido do
Imposto de Renda, considerando alíquota de 15%. Nos três anos seguintes,
superou o CDI e pagou rendimento equivalente ao dobro do CDI líquido em 2020.
GANHOU DA POUPANÇA
Como a rentabilidade mudou para 70% da Selic (sempre que a Selic for igual ou superior
a 8,5%), a taxa de retorno do FGTS ganhou da poupança também.
Tudo isso para dizer que, se você precisa do dinheiro para despesas
essenciais ou para reduzir dívidas, é compreensível que você renuncie a esse
rendimento e saque os recursos que podem ser uma solução paliativa nesses
tempos difíceis.
Entretanto, se for possível, avalie a possibilidade de deixar o dinheiro
no FGTS. Com rentabilidade competitiva, vale a pena deixar esse capital
trabalhando por você, aspirando a um futuro melhor.
MARCIA DESSEN - Planejadora financeira CFP (“Certified
Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu
Dinheiro”.
Fonte: coluna jornal FSP