Bravo Censo Brasileiro
Os dados do Censo são essenciais para o planejamento de políticas
públicas.
O Censo Demográfico é de extrema
importância para qualquer nação. Ao fornecer um retrato da população, os dados
do Censo são essenciais para o planejamento de políticas públicas.
Ao longo de décadas o Censo
brasileiro incorporou novas questões que permitiram identificar grupos
vulneráveis e inequidades.
Em 2022, pela primeira vez, quilombolas serão identificados como
grupo étnico. Coletar essa informação é uma justiça histórica.
Após atrasos causados pela pandemia de Covid-19 e por questões
orçamentárias e logísticas, a coleta dos dados do Censo, inicialmente prevista
para durar três meses, levou cerca de dez.
Os primeiros resultados foram
divulgados pelo IBGE no dia 28. Destaco aqui duas
questões.
Primeiro, o país observou
o menor crescimento populacional desde 1872
(data do primeiro Censo), apenas 0,52% ao ano entre 2010 e 2022.
A
desaceleração do crescimento já era uma tendência em função da transição
demográfica (redução da mortalidade e fecundidade) e deve continuar.
Além disso, em 43% dos 5.570
municípios a população diminuiu entre 2010 e 2022. Ainda que a maioria desses
municípios tenha menos que 100 mil habitantes, a redução foi observada em
capitais incluindo Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza, Salvador,
Porto Alegre, Belém e Natal (todas, exceto Natal, com mais de 1 milhão de
habitantes).
O mesmo foi observado nos Estados Unidos. A
taxa de crescimento populacional em áreas metropolitanas com mais de 1 milhão
de habitantes entre 2010 e 2021 foi negativa (-0.16), principalmente devido a
migração interna para cidades menores, movimento que se intensificou durante a
pandemia de Covid-19.
No Brasil, depois da epidemia
do zika vírus, da pandemia de Covid-19, e da crise
econômica, apenas os dados detalhados do Censo permitirão entender como
mudanças no padrão de nascimentos, mortes e dinâmica migratória contribuíram
para a retração populacional.
Segundo, no dia 1º de agosto de
2022 o Brasil tinha 203.062.512 de habitantes, número menor do que a prévia de
207.750.291, divulgada em 28 de dezembro de 2022 (antes da conclusão da coleta
de dados do Censo) e menor do que a estimativa de 213.317.639 habitantes em
2021. Isso não é um erro!
É universalmente aceito que um
Censo não é perfeito e que erros de cobertura e declaração ocorrem. Por
exemplo, no Brasil a taxa de não resposta em 2022 foi de 4,23%, acima dos 1,6%
de 2010. Técnicas estatísticas e demográficas minimizam esses problemas e
permitem quantificar a qualidade do Censo.
Estimativas populacionais também
são incertas. A Divisão de População das Nações Unidas atualiza estimativas e
projeções populacionais a cada dois anos e divulga intervalos de predição com
80% e 95% de certeza.
No Brasil, um agravante
adicional é que em 2015 não foi feita uma contagem populacional por falta de
verba.
A contagem capta mudanças demográficas desde o último Censo e permite
atualizar as estimativas de população. Portanto, já era sabido que as
estimativas calculadas antes da divulgação do Censo de 2022 tinham uma grande
incerteza.
Ainda há muito trabalho a ser
feito até a divulgação dos dados completos do Censo.
A pesquisa de pos-enumeração,
etapa normal de um Censo Demográfico, está em andamento e permitirá obter
indicadores de qualidade do Censo de 2022.
Até lá, é preciso ressaltar (e
respeitar) o trabalho árduo, de extrema importância, e conduzido com transparência
pelo IBGE.
Todos os resultados preliminares do Censo foram avaliados e
analisados por um grupo de renomados demógrafos e
estatísticos em colaboração com técnicos do IBGE, um exemplo de
parceria entre a academia e o serviço público a ser seguido por outras áreas.
MARCIA CASTRO - professora
de demografia e chefe do Departamento de Saúde Global e População da Escola de
Saúde Pública de Harvard.