Apresentamos aqui o gráfico da
criação líquida —admissões menos demissões— de empregos com carteira assinada
no Brasil nos últimos 13 anos. A informação é produzida pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(Caged), do Ministério do Trabalho. E aí, gostou do gráfico? O quê? Não gostou?
O gráfico está péssimo, mas não por
falta de cuidado artístico, cremos, e sim porque a partir dele você não
consegue inferir nada de útil. Vamos bem ou vamos mal? Qual a tendência que ele
indica? A crise foi de fato severa? Esse zigue-zague maluco impede uma visão
mais clara da situação. Ah, já iamos esquecendo: o dado de dezembro, antecipado
pela imprensa e depois confirmado pelo Ministério da Fazenda, não está
incluído. Mas é só você aí na sua telinha meter um -300 bem vermelhão depois do
último ponto.
O problema aqui é o seguinte: o
dado tem sazonalidade, ou seja, um padrão que se repete em determinado período
do ano, mas é passageiro, devido a alguma especificidade que importa pouco na
análise sobre a tendência. Em dezembro as contratações do setor formal caem
muito (e no informal as contratações temporárias sobem). Por isso esse monte de
bico para baixo no fim de cada ano. Note que apesar da imprensa ter assustado
muita gente com o desaparecimento de 300 mil vagas, esse resultado parece bem normal
quando comparado aos anteriores!
O dado do saldo, além do mais, pode
ser quebrado em demissões e admissões. O leitor deve imaginar que não haveria
motivos lógicos para demissões em massa em dezembro, certo? Fim de ano ninguém
contrata, é Natal, as decisões são adiadas, etc. Mas por que demitir adoidado
em dezembro? De fato, veja só o gráfico de demissões: não tem sazonalidade!
- DEMISSÕES DE EMPREGOS COM
CARTEIRA ASSINADA
Mesmo esse gráfico tem seus
probleminhas. O principal é que a formalização de um modo geral foi até pouco
tempo crescente na economia, então tanto demissões como admissões têm viés de
alta nos dados: mais gente no setor formal significa mais de ambos.
Voltando ao saldo. Para fugir
daquele gráfico horroroso, o ideal é pegar uma medida que incorpore doze meses
corridos - uma média acumulada. Porque aí a gente some com as esquisitices
ocorridas em um mês em particular, que ficam submersas na média. Veja: quando
usamos doze meses, sempre vai ter um dezembro lá dentro, e por isso os picos e
vales desaparecem.
- CRIAÇÃO DE EMPREGOS COM
CARTEIRA ASSINADA
Nesse gráfico ficam claros a crise
de 2009, a forte recuperação de 2010, a tendência de piora depois de 2011 e o
buraco profundo de 2015 e 2016, assim como a tendência de melhora que se inicia
em 2017.
Fonte: coluna Por quê? Jornal FSP